Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto
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A nascente da vila de Arganil, um outeiro que não chega aos quinhentos metros de altitude é imponente o suficiente para ser tomado como monte santo. Maria do Rosário Barardo diz, e bem, que o Santuário da Senhora do Mont’Alto, construído em parcelas ao longo da sua encosta, não é mais do que isso mesmo: uma consequência do culto dos altos – tal como acontece, pegando em exemplos maiores, com o Bom Jesus de Braga, com a Senhora dos Remédios de Lamego, ou com a Mãe Soberana de Loulé.
A igreja do Monte Alto
A obra original era quinhentista, mas foi entretanto reformada duzentos anos depois, e finalmente requalificada na década de 1960. No exterior, valorizam-se as escadarias de acesso ao adro, que lhe dão uma certa vaidade, e pouco mais. No interior, há a escultura da Senhora do Mont’Alto, no altar principal, e nas paredes laterais podemos ver Santa Luzia e Santa Ana.
Dito isto, a igreja passaria despercebida, não fosse a sua altitude e a posição dominante que tem face à vila. De Arganil, vêmo-la de quase todo o lado. É a coroa de um monte elevado com densa floresta de castanheiros, eucaliptos e pinheiros. Lá do vértice, vemos as serras do Açor e da Estrela e do Caramulo, ou seja, a etapa ocidental da Cordilheira Central que Portugal partilha com Espanha e que, em meu entender, divide o nosso país entre a metade setentrional e a metade meridional. Uma paisagem fragosa, virada a norte, dispõe-se diante de nós. São os vales onde vagueia o Alva e as montanhas do frio. E logo em baixo Arganil, como se da baixa de uma cidade se tratasse.
Terá sido esta beneficiada disposição, como um olho que tudo vê, que tornou o Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto como o templo principal arganilense – que, de resto, vai bem além da igreja cimeira, integrando ainda mais sete capelas, entre as quais a barroca Capela da Senhora da Agonia, ainda no sopé da colina, as simples Capela de São João e Capela de São Brás, e a curiosa Capela do Senhor da Ladeira, quase a chegar ao topo, e possuidora de uma imagem pitoresca que já abordaremos.
As ermidas vão acompanhando o peregrino neste sacrifício da subida entre a vila e o monte que, simbolicamente, remete para a Paixão de Cristo ou, até, para a Assunção de Maria – talvez até mais para esta última, tendo em conta que a romaria anual à Senhora do Mont’Alto é realizada a 15 de Agosto, dia em que, para os católicos, a Virgem subiu ao céu.
A lenda da Senhora do Mont’Alto
Contam os arganilenses que um pastor que passeava pelo topo do monte sobranceiro a Arganil foi tomado pela imagem de uma Senhora. Assim que levou a dita à vila, todos se surpreenderam, e resolveram em agradecimento construir uma capela em sua homenagem.
Mas a colina era elevada e parca em materiais. Mais fácil seria fazer a ermida em lugar que não exigisse tanto trabalho. E assim foi.
Contudo, sem ninguém perceber como, a imagem desaparecia a meio da noite e despertava novamente lá no cimo, onde tinha sido encontrada. E por isso resolveu o povo pôr o suor em segundo plano para levantar o templo no sítio aonde a Senhora sempre retornava.
A lenda que se relata é, mais virgula, menos virgula, igual a tantas outras que nos falam de imagens que desaparecem de um sítio para retornar àquele onde foram encontradas. Para dar um exemplo do sul e outro do norte, veja-se a Senhora da Orada em Albufeira e a Senhora da Lapa em Vieira do Minho.
A mensagem que daqui se retira é que os lugares são sagrados porque há uma aura que os ilumina, intransferível e insubstituível. Indo ao presente caso, a Senhora do Mont’Alto, para a gente de Arganil, não teria qualquer centelha divina se estivesse na base da colina, quando o chão aplana e a vista esmorece.
Menino Jesus da Ladeira, vestido como pequeno bonapartista
A romaria da Senhora do Mont’Alto
Portanto, não chega como surpresa que até a este outeiro se faça uma procissão. Vem de trás, de tempos pré-cristãos, a ânsia de correr ao cumes como forma do homem se sincronizar com o mundo. O cristianismo reforçou esta visão instalando em praticamente todos os montes sagrados portugueses uma ermida ou uma igreja.
Neste caso, a romaria que se fazia era por altura da Feira do Mont’Alto, evento que misturava a feira franca com a religiosidade popular, com ocorrência no dia 8 de Setembro, lá em cima, no topo do outeiro. Contudo, com o passar do tempo, os comerciantes foram-se chegando cada vez mais para a vila, talvez porque conseguiam facturar mais sem ter a necessidade de se deslocar até ao cimo da serra.
No século XIX, a romaria destacou-se da festa, e passou a realizar-se por três ou quatro dias, terminando a 15 de Agosto, feriado nacional e dia de Assunção de Maria, data que sobreviveu até hoje. Quanto à feira, que se manteve no mês de Setembro, foi-se readaptando e acontece em paralelo com a Ficabeira, geralmente montada no Sub-Paço, no eixo oriental da povoação. Ainda há, mesmo assim, quem se ponha em marcha até ao Santuário do Mont’Alto em Setembro, em cumprimento com a antiga tradição.
O Menino Jesus da Ladeira
À parte das imagens que mencionámos da Senhora do Mont’Alto, de Santa Luzia, e de Santa Ana, a mais fascinante escultura que se pode mirar no santuário reside na Capela do Senhor da Ladeira, isto é, quando estamos já na sua rampa final (ou na ladeira final). Lá se vê um Jesus criança, que de Jesus tem pouco, mas todavia assim o chamam. Num fenómeno semelhante ao que acontece com o Jesus da Cartolinha, em Miranda do Douro, este menino está normalmente vestido com roupa bonapartista, dando uns ares de pequeno Napoleão.
A ele vêm oferecer roupas de tamanho apropriado para que ele as vista, por vezes com direito a cartão a denunciar o nome do ofertante e, em certos casos, a formalizar as promessas ou pedidos deste. Dependendo da altura, o menino lá se vai cobrindo com algumas das oferendas, não obstante que tenha no seu traje oitocentista a sua peça favorita.
Sobre ele corre também uma lenda. Dizem que uma senhora aqui veio à socapa roubar a imagem do Menino Jesus da Ladeira. Sendo dia de festa, para não a levar debaixo do seu braço, resolveu escondê-la numa cova de um castanheiro. Lá tornou no dia seguinte para recuperar a escultura – mas, no meio de um gigante souto, não deu com o castanheiro certo. Dias, semanas, meses passaram. As gentes de Arganil, que já tinham dado pela falta do seu menino, perderam a esperança de uma reaparição.
Depois da colheita de outono, quando os castanheiros se preparavam para largar as folhas, um deles ficou perene. Uma bela árvore com folhagem doirada distinguia-se no meio da nudez vizinha. Um pastor que por lá andava, achando estranho o fenómeno, lá se aproximou do castanheiro. E lá estava o Jesus da Ladeira, há meses desaparecido. Devolveram a imagem à capela. E quanto ao castanheiro que o protegeu, esse, contam os velhos, nunca mais perdeu folha.
Arganil – o que fazer, onde comer, onde dormir
Arganil deve ser um dos concelhos do país com maior número de opções no que toca a praias fluviais - das mais secretas às que recebem o reconhecimento da Bandeira Azul, há de tudo um pouco, excepto água salgada. No meio de tanta escolha, sobressaem a praia fluvial de Foz d'Égua, a belíssima Fraga da Pena na autóctone Mata da Margaraça, os vários poços do Poço da Cesta, a vasta praia fluvial de Côja, a menos conhecida praia fluvial de Moinhos de Alva, e a pequena península que se forma na Barragem das Fronhas com área de lazer. São quase todas originadas pela Serra do Açor, que distribui caudais na sua vertente norte até ao rio Alva.
Mas além das ribeiras e praias e cascatas, Arganil faz-se valer pelas suas vilas e aldeias de xisto vestidas, umas reconhecidas de forma oficial na rede Aldeias de Xisto, outras nem por isso: o Piódão é a mais célebre, sendo capa de vários livros que ilustram o interior do país e parte integrante da rede Aldeias Históricas, conta com um bom restaurante para quem quiser ir à Chanfana; Foz d'Égua, à beira do Piódão, apesar de ser propriedade de meia dúzia de pessoas, pode ser visitável em todo o seu alcance; Benfeita conta com uma torre que repica pela paz; Vila Cova de Alva embeleza-se com convento, ermidas a rodos, e rua manuelina; e Barril de Alva vale a pena se andar por ali no terceiro Sábado de cada mês, quando acontece a feira. Não sendo um povoado mas merecendo de igual forma visita, temos a Capela da Rainha Santa Isabel, de planta distinta e diferenciadora.
Também na componente gastronómica, o município de Arganil dá cartas: nas carnes, é famoso o Bucho Recheado de Benfeita, de Vila Cova de Alva e de Folques, o coelho assado, e o cabrito; nas sopas, a canja de galinha e o caldo da castanha têm versão depurada, à moda da serra; o resto da imaginação foi despendida com a lambarice, nas Tigeladas de Torrozelas servidas em recipientes de barro, na Broa de Batata que se vende nas lojas do Piódão e de Côja, nos licores serranos feitos à base de ervas nativas, nas bolachas de ovo e açúcar conhecidas por Sequilhos. Em Junho podemos provar tudo isto num só sítio: a Feira das Freguesias.
E enfim, mal se falou da própria vila de Arganil. Os monumentos que mais merecem visita do burgo estão na sua periferia - o Santuário do Mont'Alto, a este, e a Capela de São Pedro, a norte. Simpático e barato é o restaurante A Tasquinha, bem no centro, para picar pratos locais. Uma boa alternativa à sede de concelho é a vila de Côja, apelidada de princesa do Alva por ser cruzada por este, famosa pelo seu parque de campismo com acesso à praia fluvial, e onde no restaurante Príncipe do Alva se pode entregar aos sabores do Polvo à Lagareiro.
Para dormir, o que mais se recomenda é que se pernoite nas pequenas casas xistosas afogadas nas ondas do Açor. Há muitas que conseguiram manter o toque da serra modernizando-a com o necessário conforto. Para nomear algumas, aqui ficam as que destacamos: a Casa da Quelha ou os InXisto Lodges em Chãs de Égua, bem perto do Piódão e de Foz d'Égua; a Casa da Padaria bem no coração do Piódão, e por favor fiquem para o pequeno-almoço; a Casa do Loureiro, um chalé no Soito da Ruiva; a Casa do Alto, na aconchegante Benfeita, bem perto da Mata da Margaraça; o muito procurado Campus Natura; ou a Casa do Rio Alva, à beira-rio e mais próxima de Arganil. Se entender que o ideal é ter mais serviço e menos tradição, terá sempre o INATEL Piódão, com a melhor vista sobre a aldeia presépio, ou a Quinta da Palmeira, casa oitocentista adaptada a hotelaria com dez quartos disponíveis.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.21609 ; lon=-8.03164