Capela da Senhora da Lapa

Há várias Senhoras da Lapa. Neste caso, falamos da que existe na freguesia de Soutelo, concelho de Vieira do Minho. Passa despercebida porque, tal como a fé, mistura pedra e templo.

O culto das Lapas

Já foram demasiadas as vezes que este espaço divagou acerca de pedras que são, de uma ou de outra forma, divinizadas pelo povo.

É ver as crenças atribuídas às Pedras Parideiras, às Pedras Formosas, à Pedra do Galo, às Pedras Baloiçantes, à Pedra dos Namorados, ao Penedo dos Cornudos, e a todas as antas e dólmens e menires que povoam a nossa cultura megalítica.

Muitas delas foram posteriormente cristianizadas, por vezes com uma singela cruz por lá esculpida, noutras com direito a algo mais complexo, como é a adaptação de alguns desses monumentos de cultos antigos a igrejas ou ermidas – ver, por exemplo, o que aconteceu com o pontão do Senhor da Pedra, em Vila Nova de Gaia, com a Anta de Pavia, na terra com o mesmo nome, ou com o Dólmen-Capela de Alcobertas, no Parque Natural da Serra de Aire.

A Capela da Senhora da Lapa de Vieira do Minho é mais um exemplo a juntar aos acima descritos – uma pedra que, por ser tão admirada e respeitada pelos minhotos, a igreja decidiu não apagar da memória pagã do povo mas sim reconduzi-la para uma nova fé. Daí o nome Senhora da Lapa, no fundo a comunhão de uma antiga deidade pétrea com uma das palavras mais enunciadas no glossário cristão: senhora.

Mas por que razão tinha esta gente tanta consideração por aquele amontoado pedregoso? Mais uma vez, pela razão de sempre. Estamos no alto de um morro, o Monte do Penamourinho – o próprio prefixo Pena, poderá indicar isso mesmo, ponta ou cume. Todos os lugares que gozam da condição de tectos do mundo, de onde a vista alcança mais do que é habitual, são venerados pelo Homem.

Com efeito, bem ao lado da Capela da Senhora da Lapa, encontramos o Miradoiro da Senhora da Lapa, onde a condição de telhado de toda a envolvente se aplica. Para lá chegar, o caminho passa sob dois penedos. Poderia ser este o mesmo caminho feito antes? Poderia a passagem inferior, entre penedos, ter uma função ritualística?

A Capela da Senhora da Lapa

Como é evidente, uma ermida desta ordem tem mais de curioso do que de imponente.

A sua origem prende-se a uma lenda local: conta que uma pastora avistou por aqui uma imagem mariana, razão pela qual se edificou o santuário – e que justifica a realização de uma romaria anual no segundo Domingo do mês de Julho.

A construção original é do século XVII, reconstruída no século XIX.

O espaço é curto e esconso, de outra maneira não podia ser, limitado pela pedra que lhe serve de telha.

Entrando, ao fundo, temos o altar, branco, que resguarda a imagem da Senhora da Lapa. À esquerda há outra imagem da Senhora.

E no tecto, ou seja, na rocha, encontra-se escrita a frase: rogai por nós, consoladora dos afelictos, rainha dos anjos, estrella da manhã. E concentremo-nos agora na parte final, estrella da manhã.

Um culto a Vénus?

Estrela da Manhã é um nome muitas vezes associado a Maria, por ter trazido a luz (Jesus) ao mundo.

Mas há uma outra Estrela da Manhã: o planeta Vénus, que recebeu o título da Deusa romana com o mesmo nome. Nesse caso, Vénus é o corpo celeste (cujo lugar foi tomado pela Nossa Senhora) que anuncia a chegada do sol (cujo papel de iluminar o Homem foi tomado por Cristo).

Poderemos estar na presença do cruzamento de dois cultos? Um do paganismo romano, ou mesmo anterior a ele, outro pós transição cristã? Poderia este Monte do Penamourinho ser um observatório natural ao segundo planeta a contar do sol, Vénus, que, dependendo da altura do ano, surge antes da aurora, assemelhando-se a uma bola de plasma, isto é, a uma estrella?

Onde ficar

No concelho de Vieira do Minho, a maior fatia da oferta hoteleira situa-se a norte, junto ao Parque Nacional da Peneda-Gerês. Para estarmos um pouco mais perto da Senhora da Lapa – o que, na minha opinião, é melhor, dada a inflação que existe no preço das dormidas do Gerês – recomenda-se a Casa das Leiras e, ligeiramente mais afastada, a Casa do Sobreira.

A primeira é uma bela casa de granito com jardim e piscina exterior. A segunda funciona como aldeamento turístico, também em granito, mas numa linha moderna – conta igualmente com piscina exterior.