Capela da Rainha Santa (Arganil)
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Há vários templos dedicados à Rainha Santa Isabel no país. Alguns deles situados em lugares onde a mulher de D. Dinis procedeu a um dos seus inúmeros alegados milagres. Sobre a Capela da Rainha Santa situada no concelho de Arganil, desconhece-se qualquer milagre associado, mas sabemos pode ser indicadora de um outro fenómeno: a sua relação com os sefarditas portugueses.
Capela Santa
No quadro das ermidas arganilenses, a Capela da Rainha Santa, também conhecida por Capela da Póvoa da Rainha Santa, distancia-se pela planta octogonal, que, ainda assim, encontra paralelo na Capela de Santa Rita, em Benfeita.
Encontra-se junto à freguesia de Pombeiro, antigo senhorio dos Cunhas, à saída da povoação de Póvoa da Rainha, numa zona onde o rio Alva, escavado entre penhascos, não deixa que alguém se aproxime dele.
Descontando a sua forma octogonal, a morfologia que exibe é bastante simples. Por fora, para lá dos oito alçados, destaca-se apenas o nicho (que está vazio e que teria, talvez, uma imagem da Rainha D. Isabel), bem como o campanário centrado com a portada, ambos na fachada principal. No interior, pinturas de Filomena Alina de Sanches de Frias, Viscondessa de Sanches de Frias – uma mulher profundamente religiosa e com queda para as artes -, mostram-se à luz dos vãos que se encontram em cada pano do templo.
E assim temos uma descrição breve mas nem por isso incompleta daquilo que se vê. Falta o que não se vê.
Um culto cristão, e não só?
A sua fundação, em 1633, veio das mãos de Tomé Nunes, clérigo devoto da Rainha Santa, que já tinha estado envolvido na tarefa de canonização da dita oito anos antes.
Tomé Nunes era padre da Sé de Coimbra, parte do bispado de Coimbra que estendia a sua influência até terras de Arganil. Mesmo que o termo de Pombeiro tivesse um estatuto independente do bispado, não vem como surpresa que o enorme culto coimbrão prestado à Rainha Santa Isabel se estendesse até aqui – ainda hoje, Santa Isabel é padroeira da mais famosa cidade à beira-Mondego, estando lá sepultada, no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.
Ora, Tomé Nunes era natural de Póvoa da Rainha, lugar onde o monumento se encontra. Mas Póvoa da Rainha tinha outro nome antes da capela ser levantada – chamava-se Póvoa da Judia, muito provavelmente pela comunidade sefardita que lá vivia, como sabemos que aconteceu em vários pontos do interior português, antes da Inquisição fazer com que boa parte dela emigrasse.
Assim sendo, a capela pode mostrar como os sefarditas da Póvoa da Judia, empurrados por Tomé Nunes, passaram a idolatrar uma santa como forma de disfarçar a sua fé judaica (não poderá a mudança de nome, de Póvoa da Judia para Póvoa da Rainha, ser uma habilidade das suas gentes para evitarem perseguições, tendo em conta que estávamos no auge da Inquisição?). Ou, por outra, a construção do templo veio só confirmar como os sefarditas portugueses já a idolatravam, incorporando o culto à Rainha Santa nos seus ritos, como uma Ester de Israel, conforme sugere Vítor Manuel Adrião.
Quanto a Tomé Nunes, morreu em Coimbra e o seu corpo foi transportado para o interior da Capela da Rainha Santa que entendeu construir. Se entrarmos, lá está a campa, no chão.
Arganil – o que fazer, onde comer, onde dormir
Arganil deve ser um dos concelhos do país com maior número de opções no que toca a praias fluviais - das mais secretas às que recebem o reconhecimento da Bandeira Azul, há de tudo um pouco, excepto água salgada. No meio de tanta escolha, sobressaem a praia fluvial de Foz d'Égua, a belíssima Fraga da Pena na autóctone Mata da Margaraça, os vários poços do Poço da Cesta, a vasta praia fluvial de Côja, a menos conhecida praia fluvial de Moinhos de Alva, e a pequena península que se forma na Barragem das Fronhas com área de lazer. São quase todas originadas pela Serra do Açor, que distribui caudais na sua vertente norte até ao rio Alva.
Mas além das ribeiras e praias e cascatas, Arganil faz-se valer pelas suas vilas e aldeias de xisto vestidas, umas reconhecidas de forma oficial na rede Aldeias de Xisto, outras nem por isso: o Piódão é a mais célebre, sendo capa de vários livros que ilustram o interior do país e parte integrante da rede Aldeias Históricas, conta com um bom restaurante para quem quiser ir à Chanfana; Foz d'Égua, à beira do Piódão, apesar de ser propriedade de meia dúzia de pessoas, pode ser visitável em todo o seu alcance; Benfeita conta com uma torre que repica pela paz; Vila Cova de Alva embeleza-se com convento, ermidas a rodos, e rua manuelina; e Barril de Alva vale a pena se andar por ali no terceiro Sábado de cada mês, quando acontece a feira. Não sendo um povoado mas merecendo de igual forma visita, temos a Capela da Rainha Santa Isabel, de planta distinta e diferenciadora.
Também na componente gastronómica, o município de Arganil dá cartas: nas carnes, é famoso o Bucho Recheado de Benfeita, de Vila Cova de Alva e de Folques, o coelho assado, e o cabrito; nas sopas, a canja de galinha e o caldo da castanha têm versão depurada, à moda da serra; o resto da imaginação foi despendida com a lambarice, nas Tigeladas de Torrozelas servidas em recipientes de barro, na Broa de Batata que se vende nas lojas do Piódão e de Côja, nos licores serranos feitos à base de ervas nativas, nas bolachas de ovo e açúcar conhecidas por Sequilhos. Em Junho podemos provar tudo isto num só sítio: a Feira das Freguesias.
E enfim, mal se falou da própria vila de Arganil. Os monumentos que mais merecem visita do burgo estão na sua periferia - o Santuário do Mont'Alto, a este, e a Capela de São Pedro, a norte. Simpático e barato é o restaurante A Tasquinha, bem no centro, para picar pratos locais. Uma boa alternativa à sede de concelho é a vila de Côja, apelidada de princesa do Alva por ser cruzada por este, famosa pelo seu parque de campismo com acesso à praia fluvial, e onde no restaurante Príncipe do Alva se pode entregar aos sabores do Polvo à Lagareiro.
Para dormir, o que mais se recomenda é que se pernoite nas pequenas casas xistosas afogadas nas ondas do Açor. Há muitas que conseguiram manter o toque da serra modernizando-a com o necessário conforto. Para nomear algumas, aqui ficam as que destacamos: a Casa da Quelha ou os InXisto Lodges em Chãs de Égua, bem perto do Piódão e de Foz d'Égua; a Casa da Padaria bem no coração do Piódão, e por favor fiquem para o pequeno-almoço; a Casa do Loureiro, um chalé no Soito da Ruiva; a Casa do Alto, na aconchegante Benfeita, bem perto da Mata da Margaraça; o muito procurado Campus Natura; ou a Casa do Rio Alva, à beira-rio e mais próxima de Arganil. Se entender que o ideal é ter mais serviço e menos tradição, terá sempre o INATEL Piódão, com a melhor vista sobre a aldeia presépio, ou a Quinta da Palmeira, casa oitocentista adaptada a hotelaria com dez quartos disponíveis.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.22905 ; lon=-8.14179