Festa de Nossa Senhora da Orada

by | 25 Abr, 2022 | Agosto, Algarve, Festas, Províncias, Tradições

Monumentos

Natureza

Povoações

Festas

Tradições

Lendas

Insólito

Roteiros

Na primeira quinzena de Agosto, quando Albufeira vê o seu número de residentes crescer em flecha, um evento religioso põe o povo em oração – daí o nome, Festa de Nossa Senhora da Orada.

Nossa Senhora da Orada e a solenidade no caos de Albufeira

É Agosto e Albufeira ferve. Em temperatura e em alvoroço. As praias vêem-se invadidas por corpos pálidos à procura de um sol que não existe nas terras-natais. As noites são tomadas por outras línguas e outros sotaques das mesmas línguas. Cada pessoa extravasa como pode, porque escolheu esta cidade como a eleita para passar praticamente metade das férias anuais que tem. Daqui virá a canção de Reininho: sexta-feira em Albufeira, o mundo esteve pr’acabare era tal a bebedeira, ninguém sabia onde era o mar.

Custa imaginar que no meio desta Babel dançante, caótica, e excessiva, haja uma festa grave, a exigir o silêncio necessário à reza. Mas ela existe, e toma logo as duas semanas estivais de maior tumulto. É impossível, ao olhar para a Festa de Nossa Senhora da Orada no meio do tremor de Albufeira, não dar com o contraste. Ainda que a Senhora da Orada tenha os seus momentos profanos, como os comes e bebes das barraquinhas na Alameda ou os concertos que acontecem nas escadas defronte do adro do convento onde a capela se encontra, é uma festividade, quase toda ela, de profunda devoção.

Com efeito, se olharmos para o programa, vemos que de dia 1 (habitualmente a data de abertura das hostes, mas nem sempre) até dia 15 de Agosto (dia de Assunção de Maria, feriado nacional e data de encerramento da festa), o evento é quase exclusivamente religioso. O dia 1 começa com uma procissão da Capela de Nossa Senhora da Orada até à Igreja Matriz. A partir daí, durante quase duas semanas, as orações e eucaristias são feitas na Igreja Matriz. No dia 12 acontece a passagem de testemunho entre as duas igrejas envolvidas, com uma procissão de velas feita no sentido inverso, ou seja, da Igreja Matriz até à Capela de Nossa Senhora da Orada, ficando esta última com a responsabilidade de receber as missas daí para a frente.

É só no dia 14 que a festa propriamente dita acontece, com os concertos e o fogo de artifício a animarem as redondezas da capela, misturando-se com a devota Procissão Pelo Mar, momento maior do calendário, de que falaremos adiante. No dia 15, a terminar, dá-se missa em três pontos distintos – na Igreja Matriz, na Capela de Nossa Senhora da Orada, e na Quinta da Balaia.

Siga-nos nas Redes Sociais

A Senhora da Orada de Albufeira

A Senhora da Orada era um dos cultos marianos mais venerados pela Ordem de São Bento de Avis, ordem militar que originalmente se formou para defender Évora, o que explica que, pelo século XIV, a vasta maioria das suas comendas estivessem no Alto Alentejo. A este respeito, veja-se Sousel, que ainda hoje tem uma concorrida procissão em homenagem à Senhora.

Feita a Reconquista, à Ordem de Avis foi atribuída a administração de Albufeira, a única na província algarvia. Essa terá sido, muito provavelmente, a razão para que a Senhora da Orada seja cultuada na cidade albufeirense – apenas aqui e em nenhum outro sítio do Algarve.

Claro que a devoção dos militares se misturou com a devoção dos pescadores, e de uma Senhora invocada para a guerra fez-se uma Senhora zeladora da faina, protectora dos pescadores e das embarcações. Assim se justifica que os homens do mar a vejam como um amuleto para a boa pesca, que a levem até ao oceano para trazer boa sorte aos anos do porvir, que lhe ofereçam pães em troca de milagres, que lhe façam promessas (como as que encontramos dentro da capela) sempre que se sintam por si ajudados.

Olhe-se para a lenda que se conta. Uma imagem encontrada por pescadores numa rocha distante foi levada para a igreja principal de Albufeira e, no dia seguinte, retornou ao lugar de origem sem ninguém perceber como. O mesmo continuou a acontecer. Sempre que dali levavam a imagem da Senhora, ela, por milagre, aparecia no sítio onde foi descoberta. Tantas vezes tal aconteceu que os albufeirenses decidiram construir uma ermida no lugar – e assim nasceu, de acordo com a crença popular, a ermida, que mais tarde se tornou capela e santuário, de Nossa Senhora da Orada.

Esta lenda é contada e recontada em várias vilas costeiras portuguesas, com uma ou outra variante, mas quase sempre a Senhora adquire outro nome: Nossa Senhora da Boa Viagem ou Nossa Senhora da Ajuda, por exemplo, ou mesmo bem aventurados como São Bartolomeu. Trata-se da cristianização de crenças anteriores ao cristianismo. No caso de Albufeira, não é apenas uma cristianização mas também de uma reconversão, já que a Senhora da Orada, tantas vezes venerada pela Ordem de Avis no interior do país, passava agora a existir no litoral, como padroeira das gentes do mar.

Senhora da Orada com o Menino ao seu colo

Senhora da Orada, a padroeira dos pescadores albufeirenses

Barco carrega a Senhora da Orada na Procissão pelo Mar

Nossa Senhora da Orada na Procissão Pelo Mar

Procissão Pelo Mar

É o dia 14 de Agosto, véspera de feriado, aquele por que todos esperam.

A Igreja Matriz, pela manhã, dá o anúncio com os seus sinos. A acção, contudo, passa-se a um quilómetro de distância, no Santuário da Senhora da Orada, mais concretamente na sua capela. Lá, na sua pequena nave, se reúnem as mulheres e os homens da terra, sobretudo os pescadores e as suas mulheres. Chega-se cedo, mas a procissão só começa lá para o final do dia.

Será por volta das seis horas da tarde, quando o calor abranda, que o andor da Senhora é carregado da capela até à Marina de Albufeira, embalado pela banda filarmónica que vem atrás. Quando chega, é colocado num barco ornamentado para a ocasião, e, acompanhado por dezenas de outras embarcações, faz um trajecto que tem início na marina e passa ao largo das duas principais praias albufeirenses – a do Peneco e a dos Pescadores.

Os devotos, nas praias, nas marginais, nos pontões, nos barcos, vão acenando à Senhora com a mão e com lenços. Os curiosos preferem registar o momento em fotografia. Navega a padroeira até ficar em frente ao hotel INATEL Albufeira, já quase na Praia dos Alemães, altura em que inverte marcha e retorna ao porto de abrigo.

Chegada de novo a terra, a Senhora da Orada testemunha o padre a dar bênção aos barcos e às pessoas que os comandam. A reza é mais do que isso, é um pedido sincero à imagem sagrada: que os 365 dias que aí vêm sejam abençoados de saúde e, mais importante, de peixe.

Albufeira – o que fazer, onde comer, onde dormir

Albufeira foi uma das grandes vítimas do terramoto de 1755 e das guerras liberais. O pouco que dali sobreviveu nada interessa à maioria dos que cá vêm na época balnear, quando o concelho facilmente atinge uma população dez vezes superior à que tem no Inverno. O alvo desta gente, maioritariamente alemã, francesa, inglesa, até americana, são, claro, as praias. E são tantas que o tormento está em ter de escolher - com efeito, Albufeira, por tradição, lidera a lista anual de praias com Bandeira Azul no Algarve.

Nomeio, sem ter de puxar pela memória, apenas um parte delas: as famosas praias do Peneco e dos Pescadores, em frente da cidade; a Praia do Evaristo, conhecida pelo seu restaurante; a escondida Praia da Ponta Grande; a mínima mas bela Praia dos Arrifes; a convidativa e muito procurada Praia de São Rafael, guarnecida pelo hotel que lhe deu o nome; a exclusiva Praia dos Aveiros; a célebre Praia da Oura, uma balbúrdia veranil; a Praia dos Olhos de Água, que considero a mais bonita do concelho quando está vazia; a enorme Praia da Falésia, cujo nome presta homenagem à majestosa arriba que lhe é sobranceira. Há muitas outras que ficaram de fora, e demasiadas que desconheço...

Se está na minúscula minoria dos que pretendem mais do que areia, sol, e mar, então ponha a hipótese de visitar o lendário Castelo de Paderne, a nordeste da sede de município, ou dar corda às botas e ver as praias numa outra perspectiva, percorrendo a falésia da Reserva Natural Caminho da Baleeira. Indo na primeira quinzena de Agosto, dê um salto a um dos momentos mais marcantes do calendário religioso algarvio, a Festa de Nossa Senhora da Orada, ou a uma pequena celebração nos Olhos de Água dedicada a um dos nossos peixes favoritos, a Festa da Sardinha. Para Setembro, no primeiro fim de semana, ficam guardadas as Festas do Pescador, habitualmente a mais esperada celebração popular do concelho.

Na cidade, salvam-se ainda algumas casas do bairro antigo, bem como a Igreja da Misericórdia, e a icónica Torre do Relógio, curiosa obra de ferro forjado. Também na cidade, para comer bem, lembrem-se do recatado Staar, do espaço quente que é o Bistro, e do excelente mas muito acessível Lusitano, que trata a gastronomia algarvia com o orgulho de quem é de lá. Fora do centro, há uma taberna que é um mimo: o Cantinho do Mar, com comida tradicional e baratinho como toda a gente gosta. Bem perto deste último, temos o La Cigale, restaurante de praia nos Olhos de Água, com boa sardinha e boa cataplana, e também o Manzo, para quem gosta de carnes maturadas. Fora do circuito, a norte, há dois nomes a reter: Veneza, restaurante e garrafeira ao mesmo tempo, e com óptima ameijoa-preta; e Mato à Vista, para apurado peixe e ensopada carne. Do lado do Barlavento, temos o mítico Evaristo, que para quem ali passa férias, dispensa apresentações, e o restaurante da praia de São Rafael, instalado no meio da praia homónima.

Quanto à hotelaria, como sabemos, oferta não falta. Os preços, em época alta, sofrem a habitual inflação, e por isso é trabalho ingrato tentarmos, em Julho ou Agosto, ter valores para o bolso médio português quando quem está disposto a pagar não é de cá. Havendo disponibilidade financeira, sugere-se o EPIC SANA Algarve, grande empreendimento junto à Praia da Falésia, ou o Vila Joya, encostado à Praia da Galé. Para uma estadia despretensiosa, afastada das massas, o Golden Cliff House, à beira da Praia dos Alemães, é escolha acertada. Mais acessível é o Lost & Found, bom mas um pouco afastado das praias, e a Guest House Dianamar, praticamente no centro de Albufeira, embora seja difícil conseguir reserva nos meses festivos. Por fim, guardem este nome: Quinta do Mel, um achado que sabe servir produtos regionais ao mesmo tempo que oferece uma tranquilidade que raramente rima com as praias de Albufeira.

Conheça mais sítios onde ficar em Albufeira:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=37.08552 ; lon=-8.26448​

Siga-nos nas Redes Sociais