Menino Jesus da Cartolinha

by | 6 Abr, 2015 | Insólito, Lendas, Províncias, Trás-os-Montes

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Já que o presente texto fala de uma particular representação de Jesus em Miranda do Douro, podemos substituir a denominação portuguesa Jesus da Cartolinha pela sua versão mirandesa: Nino Jasus de la Cartolica.

Este inverosímil objecto encontra-se dentro da muito espanholizada Sé de Miranda do Douro e vai buscar o nome à cartola que enverga no tecto da sua cabeça. A cartola, contudo, é dos elementos mais recentes a adornar este vaidoso Jesus mirandês. Sabemo-lo porque, à data da sua criação – inícios do século XVIII, provavelmente -, ainda não havia cartolas. E por isso mais vale começar tudo isto de uma data mais antiga.

Lenda do Jesus da Cartola

A lenda que ajudou à criação do menino pode vir de dois lados: da Guerra da Restauração ou da Guerra da Sucessão. Investigadores chegam-se mais para o segundo caso do que para o primeiro.  Mas seja qual for a versão mais próxima da verdade, ambas coincidem numa coisa: um cerco à povoação de Miranda do Douro por parte do exército castelhano.

O povo mirandês, vendo-se a par com outra guerra motivada pelo cerco – a da fome -, estava prestes a desistir e entregar-se ao inimigo. Apareceu então, não se sabe de onde, um pequeno rapaz, vestido de cavaleiro aristocrata, que mobilizou a população e a liderou numa investida contra o invasor, que acabou por expulsar.

Contava-se que o menino, em combate, ora aparecia, ora desaparecia, e no fim, depois de ganha a batalha, desapareceu de vez.

Pouco foi preciso para que as gentes de Miranda explicassem a presença do rapaz como uma ajuda Divina, criando-se assim a ideia de um Jesus-soldado ou Jesus-cavaleiro na consciência popular. E o próximo passo foi então criar uma pequena estatueta que o representasse, vestindo-o como o viram em combate – de jovem pertencente à fidalguia.

Ficou assim um protector divino de Miranda do Douro, uma espécie de berrão da terra, como acontece noutras povoações nortenhas, sendo o mais conhecido a porca de Porca de Murça.

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O culto mirandês ao Jesus da Cartolinha

Desde aí, o Menino Jesus da Cartolinha virou símbolo de Miranda, e o povo começou a oferecer-lhe roupas, muitas das quais são mesmo usadas para o cobrir. Até que um dia alguém se lembrou de dar um toque capitalista a este Jesus, acrescentando-lhe uma cartola, adereço muito usado por uma classe social que emergia nos finais oitocentistas ou inícios novecentistas, uma nova burguesia, ligada à indústria e não à aristocracia. Acompanhar a mudança de visual do menino pode ser um excelente modelo para a compreensão da evolução histórica dos trajes em Portugal.

A devoção é tal que junto ao dia de Reis lhe é feita homenagem, com direito a procissão, e não deixa de ser um curioso apontamento de simetria saber que quem carrega o menino são outros meninos mirandeses.

Hoje, habitualmente, encontramo-lo revestido com o vestuário adequado às cores representativas de cada fase do calendário litúrgico – seja branco, roxo, verde, vermelho ou rosa. Nos meses de frio, é também frequente aquecerem-no com a capa mirandesa, que é como sai à rua durante a procissão que se realiza no Inverno. Mas há mais, e no seu armário podemos encontrar desde aconchegos que mirandesas caridosamente lhe trazem até às fardas da Guarda Nacional Republicana e da Polícia de Segurança Pública que um Ministro português uma vez lhe ofertou.

É de visitar várias vezes, porque ele nem sempre está igual à última visita que lá se fez. E se houver excessos de roupa no armário de casa, entreguem-se ao Menino Jesus da Cartolinha, que um dia poderão ter o gozo de o ver com elas na pele.

Jesus da Cartolinha veste a capa da sua terra

Jesus da Cartolinha vestido com capa mirandesa

Miranda do Douro – o que fazer, onde comer, onde dormir

Miranda do Douro e o seu planalto são, a par com algumas manchas do Algarve, das zonas mais diferenciadas do país. A sua cultura, partilhada em parte com a asturo-leonesa, distingue-se de praticamente tudo o que vemos no resto do país, começando, logo à cabeça, pela Língua Mirandesa, ainda usada como forma de comunicação em algumas aldeias do concelho. Mas há muito mais: os burros, as capas de honras, as gaitas e as flautas, os pauliteiros, as postas, as alboradas, os festivais... tudo isso é merecedor de ser admirado com tempo.

E é assim, sem olhar para o relógio, que se recomendam sítios como o Puial de l Douro com vinha própria e vista para a Sé (aproveite-se também para visitar o Menino da Cartolinha), a Casa de l Cura que conta com extras como salão de jogos e piscina, a lareira comum das Casas Campo Cimo da Quinta, ou o enorme bom gosto da Casa de Belharino.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.493264 ; lon=-6.273381

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