Piódão
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Piódão ou, de outra forma, aldeia presépio, como passámos a classificá-la, carinhosamente.
Percebemos esse presépio quando lá entramos pelo lado oeste, vindos de Côja, Arganil, ou Tábua. Uma mancha de casario de um ou dois ou três andares, com uma cor próxima da cor da terra, feita em xisto, apenas interrompida por um estranho percalço em cal: a igreja, que no meio de todo o conjunto se torna a menina subversiva do burgo, uma extravagância a confundir a solenidade do lugar.
Um presépio de casas e água
À aproximação, passando pelo igualmente xistoso Inatel Piódão, em curvas de cotovelo, tomamos a medida certa ao cenário. Casas de pequenas dimensões, cuidadas e azuladas pelas janelas – muitas delas diversificadas pelo uso do granito -, caem encosta abaixo, como se fossem nativas do Açor, ali nascidas, que nem árvores, sem mão nem argamassa necessária.
Antes de aterrarmos no seu centro há uma bifurcação que nos dá escolha: para a esquerda descemos até à ribeira, onde há banhos à espera, se o calor assim deixar, e deixa sempre nos meses estivais; para a direita fica o povo, o coração do Piódão, onde lojas vendem os souvenirs da praxe, cafés botam cadeiras do lado de fora, excursões dão-lhe um movimento estranho. Seguindo por aí, chegamos a um largo de dimensões avantajadas tendo em conta o tamanho do resto da aldeia – é o núcleo da terra, onde o declive se deixa abater, deixando este espaço que funciona como varanda para tudo o que ali existe, um ponto de encontro para onde todas as ruelas vão apontando. Em redor, há ondas de verde – pinheiros e castanheiros, sobretudo -, salpicados com outras cores mais vibrantes, como o amarelo-verão das giestas.
A justificação para uma certa concentração de gente num canto tão inóspito parece ser a água, que aqui circula em abundância, com nascentes a fazerem-se em cada canto onde haja espaço de corredor. O resto são corredores que andam ao sabor do relevo, ora muito para cima, ora muito para baixo.
Conta a lenda que aqui se escondeu um dos assassinos mais famosos do país, Diogo Lopes Pacheco, um dos carrasco sde Inês de Castro, na fábula real que foi esse amor impossível de Pedro e Inês. Tendo em conta o quão oculta está, num aconchego serrano difícil de chegar, parece ter escolhido bem. Até porque não foi o único – testemunhos do Piódão ser esconderijo de outros salteadores são frequentes aqui em volta.
É agora parte do Roteiro das Aldeias Históricas de Portugal e partilha com Monsanto o trono de mais iconoclasta de todas as que de lá fazem parte.
Arganil – o que fazer, onde comer, onde dormir
Arganil deve ser um dos concelhos do país com maior número de opções no que toca a praias fluviais - das mais secretas às que recebem o reconhecimento da Bandeira Azul, há de tudo um pouco, excepto água salgada. No meio de tanta escolha, sobressaem a praia fluvial de Foz d'Égua, a belíssima Fraga da Pena na autóctone Mata da Margaraça, os vários poços do Poço da Cesta, a vasta praia fluvial de Côja, a menos conhecida praia fluvial de Moinhos de Alva, e a pequena península que se forma na Barragem das Fronhas com área de lazer. São quase todas originadas pela Serra do Açor, que distribui caudais na sua vertente norte até ao rio Alva.
Mas além das ribeiras e praias e cascatas, Arganil faz-se valer pelas suas vilas e aldeias de xisto vestidas, umas reconhecidas de forma oficial na rede Aldeias de Xisto, outras nem por isso: o Piódão é a mais célebre, sendo capa de vários livros que ilustram o interior do país e parte integrante da rede Aldeias Históricas, conta com um bom restaurante para quem quiser ir à Chanfana; Foz d'Égua, à beira do Piódão, apesar de ser propriedade de meia dúzia de pessoas, pode ser visitável em todo o seu alcance; Benfeita conta com uma torre que repica pela paz; Vila Cova de Alva embeleza-se com convento, ermidas a rodos, e rua manuelina; e Barril de Alva vale a pena se andar por ali no terceiro Sábado de cada mês, quando acontece a feira. Não sendo um povoado mas merecendo de igual forma visita, temos a Capela da Rainha Santa Isabel, de planta distinta e diferenciadora.
Também na componente gastronómica, o município de Arganil dá cartas: nas carnes, é famoso o Bucho Recheado de Benfeita, de Vila Cova de Alva e de Folques, o coelho assado, e o cabrito; nas sopas, a canja de galinha e o caldo da castanha têm versão depurada, à moda da serra; o resto da imaginação foi despendida com a lambarice, nas Tigeladas de Torrozelas servidas em recipientes de barro, na Broa de Batata que se vende nas lojas do Piódão e de Côja, nos licores serranos feitos à base de ervas nativas, nas bolachas de ovo e açúcar conhecidas por Sequilhos. Em Junho podemos provar tudo isto num só sítio: a Feira das Freguesias.
E enfim, mal se falou da própria vila de Arganil. Os monumentos que mais merecem visita do burgo estão na sua periferia - o Santuário do Mont'Alto, a este, e a Capela de São Pedro, a norte. Simpático e barato é o restaurante A Tasquinha, bem no centro, para picar pratos locais. Uma boa alternativa à sede de concelho é a vila de Côja, apelidada de princesa do Alva por ser cruzada por este, famosa pelo seu parque de campismo com acesso à praia fluvial, e onde no restaurante Príncipe do Alva se pode entregar aos sabores do Polvo à Lagareiro.
Para dormir, o que mais se recomenda é que se pernoite nas pequenas casas xistosas afogadas nas ondas do Açor. Há muitas que conseguiram manter o toque da serra modernizando-a com o necessário conforto. Para nomear algumas, aqui ficam as que destacamos: a Casa da Quelha ou os InXisto Lodges em Chãs de Égua, bem perto do Piódão e de Foz d'Égua; a Casa da Padaria bem no coração do Piódão, e por favor fiquem para o pequeno-almoço; a Casa do Loureiro, um chalé no Soito da Ruiva; a Casa do Alto, na aconchegante Benfeita, bem perto da Mata da Margaraça; o muito procurado Campus Natura; ou a Casa do Rio Alva, à beira-rio e mais próxima de Arganil. Se entender que o ideal é ter mais serviço e menos tradição, terá sempre o INATEL Piódão, com a melhor vista sobre a aldeia presépio, ou a Quinta da Palmeira, casa oitocentista adaptada a hotelaria com dez quartos disponíveis.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.229577 ; lon=-7.824830