Portimão – o que fazer, onde comer, onde dormir
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O seu feitio portuário é inato, como aliás o nome indica, Portimão. Com certeza, Portimão é tudo o que imaginamos quando pensamos em burgos portuários e piscatórios. Tem o seu quê de sujo, o seu quê de feio, o seu quê de caótico, o seu quê de stressante, e, no fim, sem darmos conta, o seu quê de saudoso – como uma frenética canção que, com o tempo, se torna benignamente familiar. A azáfama portimonense é capaz disso – baralhar-nos o gosto. Afinal, não serão muitas as cidades portuárias assim? Com as devidas salvaguardas, não poderá ser Portimão uma micro reprodução de Vigo, de Nápoles, de Génova, de Marselha, de Antuérpia?
Foi sempre assim? Nem por isso. De facto, Portimão (ou Vila Nova, como era conhecido no início) começou como um satélite de Silves, quando esta era a mais importante cidade do Algarve e contava com um rio navegável até às suas portas – o Arade. O assoreamento do rio Arade trocou as voltas ao futuro. Silves tornou-se um burgo progressivamente mais isolado. E Vila Nova ganhou preponderância. As duas igrejas construídas, praticamente lado a lado, são prova da crescente relevância geopolítica portimonense: a bela Igreja Matriz e a multifacetada Igreja do Colégio.
Os tempos áureos de Portimão começaram com o Portugal das descobertas. A sua geografia oferecia boas condições de navegação: uma costa voltada a sul, apoiada por um cais de águas seguras, garantiam-lhe uma posição de postigo entre o Mediterrâneo e o Atlântico. Pena que nessa mesma altura, Portimão e Alvor, as duas principais povoações do concelho, acabaram dizimados com a sucessão de terramotos, concluindo-se a tragédia com o desastre de 1755, em que praticamente tudo foi abaixo: as salinas, as casas, as hortas, até o cais que guardava a barca de passagem no Arade.
O terramoto tudo mudou, incluindo a topografia. Os sapais, a ria, o Arade, ganharam contornos imprevisíveis. Portimão soube aproveitar a conjuntura, muito por empurrão do Marquês de Pombal que chegou a ter como sonho confesso tornar a vila como nova sede episcopal. Virou-se para a produção de figos e alfarrobas (quando a seca, uma contrariedade recorrente, não tramava os agricultores), mas sobretudo para a pesca e as conservas, já no século XIX. Sobre isso, o ideal é visitar o incontornável Museu de Portimão, um dos melhores espaços de exposição nacionais, instalado numa antiga fábrica conserveira. No início do século XX, o isolamento da província algarvia (que não tinha caminhos de ferro, que contava com uma Estrada Real que de real tinha pouco, que estava fora das rotas marítimas da capital), entretanto, estava finalmente a chegar ao fim, e Portimão, como centro de comércio da costa sul, viria novamente a beneficiar com isso.
O que acima escrevi sobre Portimão não me fez esquecer Alvor, leito da morte de um dos mais conhecidos reis portugueses: D. João II. A história de Alvor é, por sinal, anterior à de Portimão. O rio de Alvor, aliás, foi palco de uma enorme pólis calcolítica, hoje visitável em parte, de nome Alcalar, e famosa pelos seus tholos. Foi um dos castelos estratégicos da Reconquista – hoje apenas sobra a sua carcaça -, e conta com os três mais famosos exemplares de Morabitos em solo português. No século XVIII, o dos terramotos, conheceu a mesma história que Portimão, mas não se conseguiu levantar das cinzas com com o viço da sede de concelho, um pouco por culpa de ser condado dos Távoras e, por isso, ter sido olhado com desconfiança por parte do Marquês. A praia servia apenas alguns aldeões das serras a norte, e a indústria nunca saiu da mediania (havia conserveiras, tal como em Portimão, mas menos e de menor produção). Por um lado, agradecemos o esquecimento de que Alvor foi vítima. Tornou-se um dos mais sedutores recantos do Barlavento, com uma equilibrada economia local, entre a vida da pesca e a colonização turística.
Alvor, vila de pescadores
O Barrocal algarvio, entre a praia e a serra
É entre Portimão e Alvor que ficam todas as praias do concelho. A costa entre a Ponta do Altar e a Ponta da Piedade, aquela que inclui todo o concelho de Portimão e boa parte do concelho de Lagos, foi descrita por Manuel Teixeira Gomes como uma paisagem grega, acrescentando ele que “era talvez ali que Atenas devia ter existido”. Esqueçamos Lagos por agora porque é pela parte portimonense que estas linhas se escrevem. O litoral do município divide-se em dois – a oriente o lado de Portimão, a ocidente o lado de Alvor.
Do lado de Portimão, não há como fugir à Praia da Rocha que, por muito congestionada que esteja, é uma referência algarvia – e se a enchente imobiliária incomodar, foquem as atenções no belo palacete da Bela Vista, hotel onde a elite algarvia e andaluz gostava de passar serões no início do passado século. Ainda no flanco portimonense destaco a Praia do Vau, célebre por servir de passadeira a Mário Soares que ali ia na quinzena de férias de Agosto. Já do lado de Alvor, temos um longo areal com dois distintos cenários: com dunas a poente, correspondente à Praia de Alvor, com falésias a nascente, referente à Praia dos Três Irmãos – a segunda é bem mais movimentada do que a primeira, escolha-se por aí. Entre os dois eixos do litoral do concelho, o portimonense e o alvorense, há uma barreira natural, um desfiladeiro que abalroa o oceano, onde as praias menos óbvias se situam: a Praia João de Arens, uma maravilha especialmente cobiçada por nudistas; a Praia do Submarino, também naturista e reconhecível por um leixão que se assemelha a um submersível; e a Prainha, a minha favorita, onde até o bar se acomoda aos caprichos das arribas.
Como sugestão, caso se goste de caminhar – há lá melhor forma de se viajar -, o ideal é tomar a rota Varandas Sobre o Mar, que inicia na Praia do Vau e termina na Prainha. Na outra ponta há um novo passadiço que acompanha o cordão dunar e vai da Praia dos Três Irmãos até à ria de Alvor.
Fora das praias, e já sei que a partir daqui perco mais de metade dos leitores, temos para norte, na direcção do Barrocal, a vasta freguesia da Mexilhoeira Grande, reconhecida pelo asfalto que recebe corridas de Fórmula 1, mas que esconde uns quantos segredos. Um deles é o relativamente pequeno mas muito popular Festival do Berbigão. Outro é o Horseshoe Ranch, um estábulo a replicar o Far West americano, muito perto do lugar onde, segundo crença local, se passou um episódio lendário conhecido como Lenda da Mulher Morta.
Onde comer
Primeira nota: quem quiser comer bem em Portimão deve fugir das praias. O problema não é só de Portimão. Bem se sabe que, neste país, qualquer restaurante aportado aos areais justifica o seu propósito com a paisagem que oferece, esquecendo por completo o que põe no prato. Mas há excepções em todo o lado, e por aqui também. O Vista, chefiado por João Oliveira e galardoado com Estrela Michelin, fica em cima da Praia da Rocha e foi recentemente aumentado. É dos melhores sítios para se comer em Portugal – claro que, face ao preço, e tendo em conta as carteiras portuguesas, não dá para ser almoço rotineiro.
Mantendo a bitola alta, na qualidade e nos tostões, mas já afastado do mar, temos o Loki, em Portimão, com pratos sazonais e especial atenção à sustentabilidade. Aconselha-se o menu surpresa para quem é aventureiro – quem não é, com toda a sinceridade, não vai lá fazer nada.
Na Taberna da Maré, de comida típica e custo acessível, pode escolher-se o peixe a grelhar e tem duas especialidades maravilhosas: o Arroz de Lingueirão e a Feijoada de Buzinas. E se as gentes de Portimão gostam de se gabar de que têm a melhor sardinha do mundo, pois bem, não há melhor mesa para a provar do que esta.
E continuando pela malha da cidade portimonense, o NUMA é um projecto de um casal (Nuno e Manuela, juntando as primeiras sílabas de cada nome temos o resultado: NUMA) que vai além do restaurante pois convida fregueses a provas espalhadas pela província algarvia – se a intenção é ficar só por ali, não vem daí qualquer problema, há excelentes pratos de carne e de peixe. Mais na onda dos petiscos, o Avô Casimiro e o TásCá trabalham com à vontade pequenas rações de comida marítima e não só.
Fora da sede de concelho, e indo primeiro aos tascos e tabernas do município, há uma tasquinha já bem velhota na Estrada de Monchique que vale uma paragem, mesmo que só para fins de camaradagem: a Nossa Tasca. Para os lados da Mexilhoeira Grande, o Solar do Farelo, de gosto próximo ao do Alentejo, tem a perigosa curiosidade de pôr o cliente a servir-se de uma barrica de vinho tinto ou branco as vezes que entender, e combina a coisa com belas carnes estufadas.
Na outra ponta da cidade de Portimão, na vila de Alvor, há muito por onde escolher e a preços bastante convidativos. É a vantagem de ainda não ter sido completamente tomada pelo turismo. O Àbabuja já leva mais de trinta anos e está numa posição invejável, mesmo em frente à bela ria de Alvor, com peixe e marisco fresco. E logo ao lado, a Lota de Alvor corresponde ao seu nome, com excelente peixe fresco escolhido a dedo.
Onde dormir
Quanto a dormidas, a verdade é que qualquer recomendação tem de passar primeiro pelo filtro do que se quer. Qual a razão da visita a Portimão? Praias? Almoçaradas? Noitadas? Descanso? Festança? A boa notícia é que para qualquer resposta há oferta farta.
Se o frenesim da Praia da Rocha não for impedimento, e o dinheiro na algibeira também não, então o Bela Vista Hotel não pode ser mais recomendado, um antigo chalet que foi palco de uma nova burguesia emergente no sul da península, preservado até hoje. Ainda na Praia da Rocha, o Villa Mariazinha, também ela uma antiga casa da alta roda de Portimão, soube saltar os percalços do tempo adaptando-se a hotel de charme. Na cidade de Portimão, e portanto ligeiramente mais distante do mar, há uma série de apartamentos chamados Vida à Portuguesa (o Frutas da Terra, o Frutos do Mar, o Sardinha, o Gaivota, e o Algarve) que são bastante hospitaleiros e todos relativamente próximos uns dos outros.
Para turismo quase exclusivamente balnear, do outro lado do concelho, junto a Alvor, e falando apenas de hotéis, temos o Pestana Alvor Praia, abeirado da Praia dos Três Irmãos, e o Pestana Alvor South Beach, um pouco mais em conta que o anterior, e mais próximo da vila, o que, em meu entender, em termos de localização, até é melhor.
Para combinar a vida de praia com a experiência da cultura algarvia, o ideal é estar mesmo colado a Alvor. Nesse sentido, há a Quinta David, espécie de casa de férias a uma curta caminhada da vila, e a Villa Sal, espaçosa e de muito bom gosto, entre o centro do burgo e o areal.
Já a subir para o Barrocal (isto é, afastando-nos dos destinos de veraneio salgado), o Paraíso de Alvor é uma bonita casa com piscina já com cheiros que adivinham a serra. O mesmo se aplica ao Palmeiras Cottages, ainda mais a norte, ideal para quem procura sossego.