Igreja do Colégio

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Sobre a Igreja do Colégio (ou Colégio dos Jesuítas, ou ainda Convento dos Jesuítas), totem portimonense assente numa pequena elevação da cidade onde figura, também, a sua Igreja Matriz, já muita coisa se disse, sempre elogiosa. O Padre Manuel da Costa escreveu em carta, com alguma carga hiperbólica, que o reino nunca tinha visto igreja tão bem feita. António Franco considerou-a o melhor edifício de Portimão. E as autoras do livro “Portimão“, Maria da Graça Mateus Ventura e Maria da Graça Maia Marques, classificam-na como a “presença tutelar” da pólis.
De facto, se pegarmos em postais ilustrados de Portimão executados no século XVIII ou no século XIX, é impossível ver um que não mostre a Igreja do Colégio, tal o carácter omnipresente com que se afirmava no centro da vila, apenas igualado pela existência da Igreja Matriz, praticamente sua vizinha.
A obra de Diogo Gonçalves
Não fosse um abonado homem regressado da Índia, de nome Diogo Gonçalves, e o Colégio dos Jesuítas provavelmente nem sequer seria um desejo, muito menos uma realidade. Foi dele que partiu a ideia de criar uma escola com o selo da Companhia de Jesus.
O início da construção deu-se no ano de 1660. Apesar de morrer já velho, Diogo Gonçalves não consegue ver a menina dos seus olhos concluída – fina em 1664, quando a Igreja do Colégio era apenas um filamento de pedras. O monumento abre portas em 1707, quase cinquenta anos depois da obra encetar, com novena dedicada a São Francisco Xavier, padroeiro do templo e apóstolo da Índia, onde Diogo Gonçalves tinha feito a sua fortuna.
Até à expulsão dos Jesuítas em 1757, o Colégio operou como motor pedagógico da vila (embora nem sempre com o número de alunos desejado), com aulas de gramática, de latim, de teologia, de filosofia, de retórica, para quem tinha ou não tinha posses – diga-se o que se quiser da Companhia de Jesus, é inegável que ela em muito contribuiu para a literacia de uma classe desfavorecida, muitas vezes contra a vontade política, que pretendia que apenas uma pequena fatia de privilegiados beneficiasse dos seus serviços.
Assim que saiu das mãos da Companhia de Jesus, andou de mão em mão: primeiro do rei, depois da Universidade de Coimbra, de seguida da Ordem de São Camilo de Lélis, e com a abolição das ordens religiosas no período liberal, passou para o Estado, onde se manteve até à actualidade. Desde o meio do século XIX que opera de mil e uma maneiras – já teve ou tem funções como igreja, Câmara Municipal, hospital, albergue, Misericórdia, universidade, teatro, esquadra de polícia, lar de idosos, museu…
No século XX, o espaço em frente do imponente monumento tornou-se um dos eixos comerciais de Portimão. Recebeu o nome da moda: Praça da República.

Retábulos da Igreja do Colégio

Velha gravura de Portimão com a Igreja do Colégio em destaque
O gigante de Portimão
Se antes, mesmo numa visita relâmpago a Portimão, era muito difícil andar pelo burgo sem passar os olhos pela Igreja do Colégio, o cenário hoje mudou, cá e por boa parte da província algarvia. A quantidade de prédios de sete, oito, nove, dez andares, todos à procura de uma brecha que lhes dê vista para o mar, bloqueou a contínua visibilidade da maior igreja do concelho. A majestosidade da Igreja do Colégio, antes inequívoca porque nenhum outro edifício se lhe comparava em dimensão, vê-se agora relativizada pelas densas florestas de betão.
Não obstante, quando subimos a colina e nos centramos na Praça da República, é evidente que estamos num lugar axial da cidade, num rossio, largo de convergência da comunidade. Isso ainda se sente nos dias correntes, por muito que os poderes de atracção dos tempos modernos puxem as pessoas para as praias.
Percebemos também, assim que nos encontramos diante da trapezoiodal fachada, o destaque que se quis dar ao corpo central. Está avançado em relação aos laterais, tem mais um piso, e maior detalhe ornamental, sobretudo no remate, de construção mais recente. E se do lado direito ainda há alguma preocupação com o adorno na porta manuelina, do lado esquerdo apenas vemos geometria.
A despida simetria das formas percepcionada no exterior tem prolongamento quando entramos. Apenas o retábulo-mor (cheio de remoinhos vegetalinos e muito similar ao da Igreja Matriz, de resto ambas as obras foram produto do mesmo entalhador, Manuel Martins) e os dois retábulos contíguos divergem de uma aparente monotonia de cor e molde patente no resto do espaço. É aqui, na capela-mor, do lado do Evangelho, que está guardado o túmulo de Diogo Gonçalves, o homem responsável pela fundação do colégio, em jeito de homenagem pela gesto solidário. Já as capelas laterais são de uma simplicidade tal que o Padre José Gonçalves Vieira, no início do século XX, adjectivou o trabalho da madeira como “reles”. Contudo, numa dessas reles capelas, figura um Cristo crucificado a quem apelidaram de Senhor dos Milagres graças a um insólito relato: dava conta de uma quezília entre dois homens, um deles zangado por causa de uma renda não paga, que acabaram por fazer as pazes quando “se despregou o Cristo da cruz” – viram os intervenientes naquele milagre um sinal de que não deveriam mais guerrear.
Infelizmente, nem tudo na Igreja do Colégio é visitável. Resta-nos, pois, olhar para ela e imaginar tudo o que já foi, tudo o que é, e tudo o que está para ser. Mais importante do que a ter de portas abertas é dar-lhe uma utilidade – ou várias utilidades, neste caso. Essa é a melhor forma de a manter de pé.
Portimão – o que fazer, onde comer, onde dormir
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.13942; lon=-8.53757