Prainha (Alvor)

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Entre Alvor e Portimão, numa saliência rochosa que avança mar adentro, todos os areais a que temos acesso são diminutos. Pequenas enseadas, muitas delas de difícil aproximação, que chegam a desaparecer do mapa quando tragadas pelas vagas da maré cheia. O que leva à pergunta: se todas as praias por aqui são pequenas, se todas são, na verdade, prainhas, por que razão apenas uma levou com tal nome?
A possível resposta está na vizinhança. Do lado de Alvor, onde a Prainha se situa, há um longuíssimo areal onde se incluem duas praias – a de Alvor, a poente, e a dos Três Irmãos, a nascente. São areais contínuos, sem fronteiras. Mas na zona oriental dos Três Irmãos começamos a ver as falésias a barrar o caminho para leste. A certo ponto, damos com uma parede barrenta à nossa frente, uma arriba que só é facilmente transponível na baixa mar. Quando a contornamos, percebemos que há uma nova língua de areia, resguardada e sobrelotada de algares e leixões.
Trata-se de um prolongamento natural da costa alvorense, mas está de tal forma defendido pela muralha calcária dos alcantis que ganhou autonomia. A ajudar à emancipação da Prainha vieram os empreendimentos montados no topo do desfiladeiro, condomínios altaneiros compostos de casas fotocopiadas umas das outras, com vias de acesso directo à praia, por escadas ou por elevador. A partir daí, quem queria ir à Prainha já não precisava de se meter na Praia dos Três Irmãos.
A mais bela de Portimão
Porém, há uma razão maior que justifica a Prainha ter uma designação só sua: a beleza. De todas as que conheci no concelho de Portimão, e falharam-me poucas, nenhuma é tão feérica quanto ela. Os rochedos perfurados por um mar milenar, os rochedos submersos até à cintura, os rochedos em arcada tão bem recortados que podiam ter sido feitos pelo homem, tornam o exercício de a ver estonteante.
Queixam-se alguns do tapete de algas que invade a praia em alguns dias, que dá um ar sujo à areia e que o cheiro empurra as gentes para fora dali. Não é sujidade nem cheiro nenhum. São as plantas dos mar a passear por terra, como nós de vez em quando passeamos pela água. E o cheiro nada tem de repulsivo – um cruzamento de enxofre e iodo que a mim me lembram as bombas de fumo que são os whiskies de Islay. A existência ou não de algas é uma variável com que se tem de contar em qualquer praia que valha esse nome. Como acontece com as marés. Ou com as alforrecas. Ou com as marés vivas. Ou com o peixe-aranha. Ou, no caso do Algarve, com o levante.
E depois temos o restaurante. Este escriba não comeu por lá. Poupar-me-ei a comentários gastronómicos. Mas até esse, o restaurante, uma pequena casota encrustada na pedra, é bonito. Tem qualquer coisa de islâmico, a lembrar o saudita Hegra ou os túmulos de Petra. Está embebido na pedra e mal se dá por ele. Não há maior elogio que se possa fazer a um bar de praia: que a camuflagem faça parecer com que não exista.

Restaurante Caniço

Arcadas na pedra
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.11809 ; lon=-8.57829