Praia do Vau
Monumentos
Natureza
Povoações
Festas
Tradições
Lendas
Insólito
Roteiros
Interessante que Raul Proença, ao observar a Praia do Vau, há menos de um século, a tenha descrito com dez sucintas palavras: “a Praia do Vau, apenas com meia dúzia de casinhas”. Se o escritor caldense fosse hoje vivo e lhe desse novo relance, talvez sofresse um fanico. É que já não são só meia dúzia. E já não são só casinhas.
A cara da Praia do Vau mudou substancialmente. O suficiente para não sabermos apontar onde estão ou onde estavam as casinhas, provavelmente de pescadores, que Raul Proença anotou. A norte da praia, como muralhas, duas unidades hoteleiras alargam ombros e preenchem os terrenos dunares e escarpados que limitavam o areal. Mais apartamentos de similar semblante foram levantados ao longo da falésia do lado nascente. Apenas parece haver folga no ponto oposto, na arriba a oeste, minimamente limpa de alvenarias. Mas soube-se em 2023 que um novo hotel, desta vez do grupo Hard Rock, seria por cá instalado, veremos com que consequências visuais.
A parte boa é que, apesar da mancha de hotelaria que cercou a Praia do Vau, parece ter havido um mínimo travão à tentação para se construir em altura. Pelo menos quando comparamos com a invasão imobiliária da Praia da Rocha, aqui ao lado, onde a falta de espaço para se edificar obrigou a que os novos empreendimentos fossem projectados na vertical.
Uma praia presidencial
Quem nunca se chateou muito com a modernização da Praia do Vau foi o ex-Presidente Mário Soares, que era sabido ter por casa neste termo. Os banhos de sol aconteciam no Alvor, mas também o Vau estava reservado para passeios à beira mar até à Ponta João de Arens. Entre a Praia do Vau e a Praia de Alvor, todo o comerciante com idade para isso lembra-se desses giros presidenciais.
E falando de caminhadas, é bom saber que uma das mais bonitas a fazer no litoral algarvio começa e termina neste ponto. Trata-se do percurso Varandas Sobre o Mar, que segue até Oeste, à Prainha, e regressa – no fundo um itinerário em tudo semelhante ao que Mário Soares fazia, mas pelas arribas e não pela areia. Até porque qualquer jornada feita através do areal está dependente do horário das marés. Neste recanto, como é habitual nas praias de falésias crivadas do Barlavento, a ondulante dimensão do areal ora nos deixa saltar de praia em praia dobrando promontórios, ora nos fecha o espaço reservado às toalhas e nos empurra para cima, onde agaves e chorões secam ao sol.
Com efeito, é na maré baixa que melhor se aproveita a Praia do Vau. Durante essas horas, com a ajuda de um qualquer flutuante – e há por aqui aluguer de caiaques, de pranchas de paddle, de gaivotas, até de lanchas em substituição dos velhinos saveiros -, podemos ir aos cabos. Nesses derradeiros avanços das arribas sobre o oceano, onde realmente a terra acaba e o mar começa, temos surpresas. Em cada frecha furada pelas ondas na rocha arenosa há uma nova praia em potência, essa sim, exclusivamente nossa, porque o único acesso é feito via Atlântico. Não nos podemos é esquecer que tudo o que vaza, também enche. Daí a pouco tempo, engolido por água e sal, o paraíso desaparece. A felicidade nunca é eterna.
Portimão – o que fazer, onde comer, onde dormir
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.11986 ; lon=-8.55904