Praia da Rocha
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Muito antes de virar paragem de outras nacionalidades, normalmente norte europeias, a Praia da Rocha, no Algarve, já tinha um bom milhar de histórias para contar. Só prova que não é só de apartamentos, hotéis, bares e restaurantes que ela se faz. Para lá da imobiliária, há uma alma que não se perdeu. E ainda hoje se conta a curiosa lenda que pôs o Mar e a Terra em disputa pelo amor de uma Sereia.
Para lá de toda a cadeia de hotéis que agora acompanha a marginal, a Praia da Rocha sustém uma história e um carácter lendário que conseguimos compreender quando a olhamos nas horas da introspecção.
A praia de Portimão
É curioso notar que Portimão, apesar de ter sido pioneiro no acolhimento de turistas nacionais e internacionais, conseguiu sempre manter o seu cunho, ao contrário de muitas outras terras algarvias. Cidade portuária desde sabe-se lá quando, impulsionadora da indústria conserveira, bastião da pesca na costa sul portuguesa, é ainda hoje um município de trabalho – e no Algarve, é dos poucos que tem uma vida para além das contribuições turísticas.
No seu flanco mais meridional, existia uma arriba que escondia, abaixo, um areal que, ao longo dos tempos, pela beleza apresentada, trazia modestas quantidades de veraneantes. Guardado por uma fortificação seiscentista, o Forte de Santa Catarina (que deu um primeiro nome à praia), esta extensão de areia surgia na margem direita da foz do rio Arado e caracterizava-se pelo acumulado de rochedo que saltitava até ao mar: e foi essa peculiaridade que transformou a Praia de Santa Catarina naquilo que comummente lhe chamamos hoje – a Praia da Rocha, ou neste caso, das Rochas, muitas delas hoje desaparecidas depois de comidas pelas várias reintroduções de areia.
Começou como qualquer outro poiso marítimo: um pedaço costeiro semeado de pequenas casas de agricultores e pescadores. Só no início do século XX é que uma certa burguesia e aristocracia sulista a povoou com vista ao recreio balnear, com quintas e chalets com acesso facilitado à praia. A fama inflacionou, e mais tarde aqui se fez um hotel, que cedo se percebeu ser demasiado pequeno para cobrir a procura. Amplia-se esse e constrói-se mais um. Depois mais outro. Entretanto, um casino. Chegam depois os apartamentos e o comércio (muitos restaurantes) a apoiar o crescimento. Nos anos 1960, com o empurrão que foi a finalização do aeroporto de Faro, o fluxo de veraneantes internacionais vira função exponencial, colocando a Rocha na posição que a vemos neste século XXI, estando a falésia que antecede a Praia da Rocha recheada de restauração e hotelaria.
Em cinco décadas, toda esta costa portimonense transformou-se radicalmente, de quase selvagem e intocada, a paisagem profundamente manipulada por mão humana. Se antes conseguíamos separar claramente onde era a cidade de Portimão e onde era a estância da Rocha, agora a fronteira desfoca-se no meio daquilo que serve a praia e aquilo que serve a urbe.
Acesso da Praia da Rocha à Praia dos Três Castelos
A lenda da Praia da Rocha
Havia uma sereia que, não se sabe bem como ,veio parar aos grandes rochedos de uma língua de areia na costa algarvia. Ali descansou de longa viagem a apreciar a bela paisagem que do cimo de cada rocha via.
Até que um dia ouviu alguém chegar, e despertando observou um velho homem que se dizia filho do mar. Disse ele que toda aquela água, dali até ao fio de horizonte e até aos domínios oceânicos para lá do que a vista alcançava eram dele. E tão apaixonado estava pela sereia que se ela aceitasse casamento partilharia esse reino aquático com ela. Para sempre.
A sereia preparava-se para responder mas, nesse momento, outro velho chegou, vindo do lado continental. Disse esse que era filho da Serra e que os territórios que se quedavam para norte da falésia e que subiam aos montes eram sua propriedade. Que se deixasse o filho do Mar e o aceitasse a ele ao invés, todas as flores e arbustos e árvores e cerros e vales poderiam ser jardins só seus.
A Sereia ficou sem saber o que fazer e deixou que ambos competissem pelo seu amor.
E assim foi, durante séculos: o Mar ia seduzindo com a sua ondulação e o movimento de cada maré, a Serra com os seus frutos e flores. E tudo durou muito tempo, tanto que a sereia se transformou em fina areia e os dois pretendentes mantiveram o seu jogo de forças e de tréguas, ora empurrando-se ora ajudando-se um ao outro, formando aquilo que conhecemos hoje por Praia da Rocha.
É interessante notar como a lenda, apesar de ser apenas isso, esconde um lado científico – o facto de uma praia ser construída pela erosão causada entre terra e mar (e vento, já agora). Neste caso, decoraram-na com um terceiro interveniente, a Sereia, uma referência do folclore nacional, sobretudo na faixa litoral portuguesa, e que, curiosamente, é também uma simbiose destes mesmos elementos (a metade mulher representando a terra e a metade peixe representando o oceano).
Onde ficar
O Júpiter Algarve Hotel fica no limite da arriba que encara a praia e é um dos mais apreciados na nova e internacional Praia da Rocha.
Mais a meu gosto, numa de aproveitar a azáfama da zona histórica de Portimão e do seu porto, há o Apartment Portimão Old Town – são bons apartamentos, com espaço exterior, ideais para famílias mais numerosas e a cerca de 3 quilómetros da praia.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.115287; lon=-8.533227