Castro de Lanhoso

by | 20 Jan, 2023 | Fortificações, Lugares, Minho, Monumentos, Províncias

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Com o Castro de Lanhoso conclui-se a tríade monumental que a colina sobranceira à Póvoa de Lanhoso guarda, sendo os dois outros exemplares históricos os já aqui falados Castelo de Lanhoso e Santuário de Nossa Senhora do Pilar.

Por acaso, sem me dar conta, deixei para último o mais antigo dos três monumentos, lembrando-me só agora que teria sido preferível, por uma questão de compreensão para o leitor, fazê-lo respeitando a cronologia. Espero vir a tempo de emendar a mão.

A descoberta

As obras de requalificação do Castelo de Lanhoso na década de 1930 obrigaram à criação de uma nova estrada em torno do Monte do Pilar. Foi com a abertura dessa nova via que vieram à tona os célebres muros circulares, sobras das velhas casas da cultura castreja do noroeste peninsular. Uma aprofundada investigação ao lugar revelou, como já seria expectável, as ruinas de uma antiga fortificação castreja.

Apesar de fascinante, a descoberta não foi surpreendente –  quantas colinas do Norte do país, sobretudo aquelas que em épocas medievais foram guarnecidas de castelos, não têm soterrados antigos castros? O Castro de Lanhoso viria, ainda assim, a mostrar-se diferente, não tanto pelo seu posicionamento, mas pela dimensão, pela história, e, mais do que tudo, pelos achados.

No que toca à dimensão, apesar de não ter a imponência da Citânia de Briteiros, não muito longe daqui, consegue apanhar uma boa parte da colina castelã, mais ou menos no seu sopé – fora aquilo que está por desvendar e que, provavelmente, ficará para sempre escondido no subsolo. Um caminho devidamente sinalizado permite uma visita atenta, e somos brindados com o extra de três casas castrejas, alinhadas, terem sido totalmente reconstruídas conforme a época.

Quanto à história, há no Castro de Lanhoso uma continuidade pouco comum, que se inicia, pela cerâmica encontrada, no Calcolítico, atravessa a Idade do Ferro, esta sim, coincidente com a cultura castreja, e prolonga-se até uma boa fatia da ocupação romana. Foi com a romanização que, possivelmente, se terá erigido uma torre de vigia no topo do monte que se tornaria, um milénio depois, o alicerce da torre de menagem medieva.

Já os achados, não só foram muitos, como bastante relevantes. Além de uma estela com relevo antropomórfico, de uma escultura granítica que apresenta a imagem de um homem sentado no que parece ser um trono, de moedas pós castrejas, de lâminas de punhais, de alfinetes e fivelas, de vários tipos de mós, e de diversificados pedaços de objectos cerâmicos, houve dois exemplares que se destacaram no espólio: os torques de ouro e o capacete em bronze.

Casas circulares castrejas recuperadas

Casas castrejas recuperadas

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Pormenor de filigrana dos torques lanhosenses

A filigrana nos torques do Castro de Lanhoso

Capacete lanhosense em exposição

Capacete do Castro de Lanhoso, actualmente em exposição em Braga

O ouro castrejo e a filigrana lanhosense

Três torques em forma de C foram descobertos. Serviriam como adereço do líder da tribo – da mesma forma que as vírias, braceletes de ouro, eram usadas pelos guerreiros lusitanos, de onde deriva, muito provavelmente, o nome Viriato. O que mais interessante há a dizer sobre elas, contudo, prende-se com o ornamento que conseguimos ver e palpar na sua liga.

A meio da curvatura, o ouro não é apenas uma simples exibição do metal. Há um trabalho. Uma filigrana, como nos habituámos a dizer. Ora, Póvoa de Lanhoso é tida como a Terra do Ouro, precisamente pela forma como gosta de bordar o metal precioso em artigos icónicos da cultura nacional, sendo o Coração de Viana o exemplo maior. Terá a filigrana lanhosense origem aqui?

Se não podemos estabelecer de imediato uma causa-consequência entre os torques encontrados no Castro de Lanhoso e a actual Filigrana da Póvoa de Lanhoso, também não podemos ignorar a intrigante coincidência geográfica. Confirmando-se que, nas terras lanhosenses, o trabalho do ouro tem vindo a ser feito, com os incontornáveis altos e baixos, desde há mais de dois mil anos, é impressionante como uma tradição conseguiu resistir tantas vezes ao teste do tempo.

A juntar aos torques, um capacete, também de origem castreja, foi sacado às escavações e pode ser hoje contemplado em Braga, no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa. O aguço férreo no seu topo, bem como a corrente que cai até à orla fizeram dele, à altura, um objecto singular, dando novas luzes acerca da indumentária guerreira das tribos galaicas. Depois do capacete de Lanhoso, outros surgiram, com maior ou menos similitude – o encontrado no Castro da Mogueira, por exemplo, tinha grandes parecenças. Genericamente, foram todos considerados capacetes célticos, dada a possível raiz celta (ou celtizada) das tribos do ocidente ibérico.

E assim, com o Castro de Lanhoso posto em palavras, se completa a trilogia do Monte do Pilar.

Póvoa de Lanhoso – o que fazer, onde comer, onde dormir

Portugal nasceu aqui, num baluarte anterior à própria pátria, hoje conhecido como Castelo de Lanhoso - foi especialmente querido à história de D. Teresa, mãe de Afonso Henriques, que alguns consideram a verdadeira primeira monarca portuguesa. Além da renovada fortificação, há, logo ao lado, duas outras construções obrigatórias - o Castro de Lanhoso, que esteve na origem de tudo isto, e o Santuário de Nossa Senhora do Pilar, que começa no sopé do Monte do Pilar e chega até ao seu topo.

E no entanto, apesar dos três exemplos de património histórico descritos acima já serem suficientes para justificar uma visita, Póvoa de Lanhoso tem muito, mas mesmo muito, para ver. A destacar, temos a Filigrana que é trabalhada em Travassos e em Sobradelo da Goma, em primeiro lugar. Em segundo, o Centro Interpretativo Maria da Fonte, um espaço de pesquisa e divulgação de uma das mais célebres figuras da cultura popular, cantada e pintada e esculpida de norte e sul do país enquanto protótipo da mulher nortenha, e que de uma pequena revolta junto à Igreja de Fonte Arcada fez contagem decrescente para uma nova guerra civil. E em terceiro, caso haja possibilidade de ir a meio de Março, as Festas de São José, que se prolongam por uma semana mas que têm no dia 19 de Março o momento da sua majestosa procissão.

Quanto a lugares estivais, o pontão da Barragem de Andorinhas - num trecho predestinado do rio Ave, logo a jusante da lendária Ponte de Mem Gutierres -, e a Praia Fluvial de Verim, no extremo norte do município, são escolhas evidentes. Não muito longe desta última, o Pelourinho de Moure é uma curiosa obra que contraria o manuelino de onde brotou. E numa outra apertada praia, a Praia Fluvial da Rola, há o Santuário da Senhora de Porto d'Ave, responsável pela concorrida Romaria dos Bifes e dos Melões. De referência internacional é o DiverLanhoso, um dos maiores parques de aventura no continente europeu, com diversificada oferta de actividades, mormente para a criançada.

Nas comidas, os dois andares do Velho Minho guardam boa garrafeira e cozinha regional bem preparada - é bom o cabrito, finalizado com um pudim Abade de Priscos. Para dormir, o resguardo da Casa do Monte da Veiga, junto a Calvos (onde respira um dos mais belos carvalhos nacionais), dá noites sossegadas a quem as quiser, mas também a Villa Moura, em Fonte Arcada, entrega boa qualidade de serviço, piscina, e vista desimpedida sobre a serrania que cerca a sede de concelho.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.58464​ ; lon=-8.2795

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