Igreja de Fonte Arcada (Póvoa de Lanhoso)

by | 31 Jan, 2023 | Lugares, Minho, Monumentos, Províncias, Religiosos

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A história da Igreja de Fonte Arcada estará sempre a par com a história da Maria da Fonte. A sublinhá-lo está a estátua dedicada à mais famosa das mulheres do Minho junto à via que acede à igreja.

Terá sido aqui que ocorreu um dos mais marcantes episódios que deram início à Revolta do Minho, uma sublevação popular, aproveitada por várias facções da política oitocentista portuguesa, que acabou no derrube do governo e, depois disso, numa nova Guerra Civil – falamos com maior detalhe acerca deste assunto no texto sobre o Centro Interpretativo Maria da Fonte.

Mas se isso já era suficiente para colocar a Igreja de Fonte Arcada nos panfletos turísticos da Póvoa de Lanhoso, há outros aspectos que a notabilizam, nomeadamente a sua estética: um singular e harmonioso cruzamento de românico e gótico, bem ao estilo do património religioso minhoto.

A igreja e de um mosteiro caído

Para falarmos da Igreja de Fonte Arcada, é forçoso referir o mosteiro que aqui existia, finalizado no século XI, e portanto ainda anterior à fundação da Nação. Póvoa de Lanhoso, de resto, é pródiga em sacar ao passado vários testemunhos medievos prévios ao nascimento de Portugal. Este é apenas mais um.

A igreja, como dizia, viria a ser parte de um conjunto maior e mais antigo, um convento, tendo São Salvador como orago, daí o nome alternativo dado ao espaço: Igreja de São Salvador. Só dois séculos depois se montou um templo que funcionaria como complemento ao que já cá existia. Aqui moravam frades beneditinos, fiéis a uma Ordem que muito fez no povoamento cristão da Península, em especial de toda a região do Entre Douro e Minho.

A convivência entre os frades e uma nova classe guerreira – representada por uma aristocracia que tanto vinha dos Visigodos que antes dominaram a Ibéria como da fidalguia francesa que se deslocou para cá dos Pirinéus numa de procurar fortuna através da guerra contra o Islão – nunca foi pacífica. Ambos disputavam terra, riqueza, poder. Nestes terrenos, ainda assim, a Ordem Beneditina conseguiu manter, por centenas de anos, a sua casa inviolada. No século XV, todavia, o Arcebispo de Braga, Fernando da Guerra, entrega a responsabilidade do mosteiro a um arquidiácono como parte relativamente autónoma dentro do bispado de Braga.

Daí para a frente, e talvez por já não contar com o conhecimento e quotidiano beneditino, o mosteiro foi perdendo vida. A igreja ainda gozou de requalificação quinhentista, mas as restantes paredes conventuais entraram em ruina até se sumirem da paisagem.

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Cruz Pátea ou Templária, na parede lateral da Igreja de Fonte Arcada, Póvoa de Lanhoso

A Cruz Pátea, ou Cruz Templária, ladeada pelo sol e pela lua

Rosácea de estilo gótico

Rosácea gótica sobre o pórtico

Românico tardio, Gótico precoce

Se descontarmos a torre que foi posteriormente adossada e que é claramente mais recente do que o resto do templo, notamos na Igreja de Fonte Arcada vários sinais dos últimos anos em que o românico se fez sentir, mormente na simbologia que descortinamos nas paredes exteriores.

Para começar, o tímpano do pórtico, onde se vê um carneiro adornado, por cima do dorso, com uma cruz: isto é, o Agnus Dei, ou traduzindo, o Carneiro de Deus, representação de Jesus Cristo como o último sacrifício aos pecados da humanidade. Mas também a cruz pátea, conhecida em Portugal pela sua adopção por parte da ordem do Templo, e tida como uma intersecção dos quatro elementos (água, ar, terra, fogo) lateralizada por um sol e uma lua. Dois típicos piscares de olho da arquitectura românica no Norte ibérico, sempre a desafiar o observador a tirar dos relevos algo mais do que aquilo que a vista vê.

Ainda do lado exterior, a rosácea, por cima do pórtico, marca a diferença. Contra as linhas draconianas do românico, entrega um círculo trabalhado, de padrões hipnóticos, que já nos atira para as primeiras décadas do movimento gótico europeu.

Lá dentro, o contraste prossegue. À rigidez formal observável na crueza das paredes, opõe-se um pé-direito de dimensões astronómicas, completamente antagónico aos tectos baixos românicos. O mesmo acontece com a capela-mor, ao fundo, de dois pisos, mais luminosa e delicada do que nos habituámos a ver noutros modelos da mesma época.

Pórtico e tímpano na Igreja de Fonte Arcada, Póvoa de Lanhoso

Pórtico e tímpano com imagem do Agnus Dei

Póvoa de Lanhoso – o que fazer, onde comer, onde dormir

Portugal nasceu aqui, num baluarte anterior à própria pátria, hoje conhecido como Castelo de Lanhoso - foi especialmente querido à história de D. Teresa, mãe de Afonso Henriques, que alguns consideram a verdadeira primeira monarca portuguesa. Além da renovada fortificação, há, logo ao lado, duas outras construções obrigatórias - o Castro de Lanhoso, que esteve na origem de tudo isto, e o Santuário de Nossa Senhora do Pilar, que começa no sopé do Monte do Pilar e chega até ao seu topo.

E no entanto, apesar dos três exemplos de património histórico descritos acima já serem suficientes para justificar uma visita, Póvoa de Lanhoso tem muito, mas mesmo muito, para ver. A destacar, temos a Filigrana que é trabalhada em Travassos e em Sobradelo da Goma, em primeiro lugar. Em segundo, o Centro Interpretativo Maria da Fonte, um espaço de pesquisa e divulgação de uma das mais célebres figuras da cultura popular, cantada e pintada e esculpida de norte e sul do país enquanto protótipo da mulher nortenha, e que de uma pequena revolta junto à Igreja de Fonte Arcada fez contagem decrescente para uma nova guerra civil. E em terceiro, caso haja possibilidade de ir a meio de Março, as Festas de São José, que se prolongam por uma semana mas que têm no dia 19 de Março o momento da sua majestosa procissão.

Quanto a lugares estivais, o pontão da Barragem de Andorinhas - num trecho predestinado do rio Ave, logo a jusante da lendária Ponte de Mem Gutierres -, e a Praia Fluvial de Verim, no extremo norte do município, são escolhas evidentes. Não muito longe desta última, o Pelourinho de Moure é uma curiosa obra que contraria o manuelino de onde brotou. E numa outra apertada praia, a Praia Fluvial da Rola, há o Santuário da Senhora de Porto d'Ave, responsável pela concorrida Romaria dos Bifes e dos Melões. De referência internacional é o DiverLanhoso, um dos maiores parques de aventura no continente europeu, com diversificada oferta de actividades, mormente para a criançada.

Nas comidas, os dois andares do Velho Minho guardam boa garrafeira e cozinha regional bem preparada - é bom o cabrito, finalizado com um pudim Abade de Priscos. Para dormir, o resguardo da Casa do Monte da Veiga, junto a Calvos (onde respira um dos mais belos carvalhos nacionais), dá noites sossegadas a quem as quiser, mas também a Villa Moura, em Fonte Arcada, entrega boa qualidade de serviço, piscina, e vista desimpedida sobre a serrania que cerca a sede de concelho.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.57936 ​; lon=-8.24559

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