Coração de Viana

by | 2 Mai, 2016 | Culturais, Minho, Províncias, Tradições

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Se houvesse medalha para a província portuguesa que mais símbolos oferece ao país, a premiada seria o Minho. Nas danças e cantares do vira, nos lenços vianenses, nos galos de Barcelos, no caldo verde, no uso popular do cavaquinho que até extrapolou fronteiras nacionais… os minhotos estariam ricos se ganhassem por direitos de autor. Mas um pequeno objecto, em forma de coração, chegou mais longe, e é hoje usado um pouco por todo o mundo, enquanto colar ou brinco: o Coração de Viana.

É o elemento principal de todo o ouro que as mulheres do Minho trazem ao peito. Um coração minhoto mas que simboliza o universal.

O coração do tamanho do Minho

É bom frisar que convencionou-se entregar-lhe Viana ao nome, embora ele não seja exclusivo desta cidade, nem sequer deste distrito. Na realidade, o uso do coração é, numa visão mais ampla, uma tradição minhota, seja ela do Baixo-Minho ou do Alto-Minho. A alocação dele a Viana do Castelo pode ter-se dado com a popularização dos trajes tradicionais vianenses, empurrada pelo estado de graça em que a Romaria da Senhora da Agonia se tornou nos últimos anos, e com toda a justiça.

A origem do Coração de Viana

A sua origem é de cálculo difícil. Dizem alguns que se enraizou na cultura do noroeste português por via religiosa, fazendo o paralelismo com o coração flamejante representado no imaginário do Sagrado Coração de Jesus – as suas ilustrações e pinturas figuram sempre um coração visível do lado de fora e centrado a meio do peito como símbolo do amor universal, tal e qual como se usa o Coração de Viana. Há alusões ao Coração de Jesus desde o século VI, mas foi no século XVII que a devoção se tornou oficial, e foram vários os santos e santas católicos a promovê-lo.

Esta veneração poderá ter-se fundido com um costume arcaico das gentes minhotas, o vestir do ouro, que terá a sua fundação em anos ainda mais remotos, provavelmente pré-cristãos, havendo quem lhe atribua origem nos cultos solares celtas, ou galaico-castrejos, e quem fale dos fenícios como seus pais ao invés – contudo, acreditamos mais na primeira hipótese do que na segunda.

O Coração de Viana na actualidade

Esta combinação entre forma (o coração) e matéria (o ouro) transformou a imagem do Coração de Viana num ex libris da ourivesaria portuguesa, sendo os seus exemplares em chapa e trabalhados com fios de filigrana os mais procurados – há-os também em outros materiais, como a prata, e até alternativas mais orientadas ao marketing turístico, onde alguma matéria-prima sulista (como a cortiça) já foi aproveitada.

Normalmente, são adornados com motivos vegetalistas e florais, sendo frequente a parte acima do coração representar o fogo, ou em alternativa, redundar num segundo coração, mais pequeno. A grande peculiaridade, além da complexidade do seu interior, é a existência de uma curva e contra-curva num dos seus lados, dando-lhe uma beleza contemporânea e festiva, algo relativamente comum na arte folk do Minho, por contraponto à das demais províncias portuguesas, tradicionalmente mais taciturnas.

O Coração de Viana ganhou ultimamente fãs fora do país, chegando a ir parar ao peito de uma celebridade improvável, Sharon Stone. Aparte de internacionalizações, o seu desenho suave e moderno virou padrão para muita da estética folclórica nacional e serviu mesmo de fonte de inspiração para alguma classe empresarial que pretendeu aportuguesar as suas imagens de marca – o logo do Euro 2004 é bom exemplo disso.

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Viana do Castelo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Viana do Castelo, última estação do rio Lima e famosa pelo coração que já é símbolo nacional, dispõe das melhores praias do norte, salvaguardando que nem sempre se fazem acompanhar com o melhor dos climas, como a Praia da Arda e a Praia de Afife, vizinhas uma da outra, e de grande beleza, escapando aos areais mais pedregosos a sul.

Nos rios há vários poisos onde se pode ir a banhos. A Cascata do Pincho, mais para dentro, na Montaria, que em dias quentes é bastante concorrida. Ou o Poço Azul, mais perto de Viana, e curiosamente mais tranquila do que a primeira.

Para os lados da sede de concelho, não se pode perder a mais famosa romaria do país - a Senhora da Agonia, todos os anos no mês de Agosto (difícil mesmo é ter onde ficar, tal a procura). O Santuário de Santa Luzia, guardião de toda a cidade, bem como o castro homónimo que lhe é anexo são de ida imperativa. No Natal, Viana do Castelo tem como tradição decorar sempre a mesma árvore na Avenida 25 de Abril. E não esquecer de se experimentar a cozinha da Tasquinha da Linda, junto à lota - preços acima da média mas compensatórios.

As dormidas em Viana do Castelo têm boa oferta. Na cidade, sugerimos a Casa Manuel Espregueira e Oliveira, uma luxuosa habitação oitocentista entretanto requalificada, e o Hotel FeelViana, do outro lado do Lima, com arrojada arquitectura em madeira. Mais para dentro, recomenda-se a Casa do Monte de Roques, com piscina e circundada por vinha (conforme o calendário, podemos ajudar na colheita) ou a Casa da Reina, rústica e também com direito ao vinho da casa.

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