Santuário de Nossa Senhora do Porto d’Ave

by | 17 Fev, 2023 | Lugares, Minho, Monumentos, Províncias, Religiosos

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A pouco mais de dez minutos de carro, e a cerca de uma hora a pé da Póvoa de Lanhoso, apresenta-se ao público o Santuário de Nossa Senhora do Porto d’Ave. Fica na freguesia lanhosense de Taíde e conta com uma igreja, oito capelas, um museu, e, bem perto, uma estreita praia fluvial banhada pelo rio Ave.

A Senhora do Porto d’Ave

Havia nos idos setecentistas, nestes terrenos povoenses, uma outra igreja, a qual era dedicada à Senhora do Rosário. A rosa, no seu simbolismo, relaciona-se com o nascimento ou o renascimento, e portanto a Senhora do Rosário é, frequentemente, associada à natividade de Maria.

Esta ligação parece ser confirmada por aqui, neste mesmo lugar, haver comemoração secular dedicada ao nascimento de Nossa Senhora, com data fixada a 8 de Setembro, mas cujas celebrações recentes se foram antecipando para o final de Agosto e início de Setembro, talvez para coincidirem com a vinda da população emigrante à sua terra natal, numa romaria que é já considerada uma das maiores do Minho e que hoje tem o nome de Romaria dos Bifes e dos Melões ou Romaria de Nossa Senhora do Porto d’Ave.

Voltando à Senhora do Rosário por cá idolatrada, suspeita-se que terá sido um homem da terra, de nome Francisco Magalhães Machado que, em 1730, sabendo que a imagem iria ser guardada ou mesmo destruída, resolveu ele mesmo dar-lhe asilo num nicho por si montado. Os locais, talvez porque esta era, desde sempre, a imagem cultuada, dirigiam-se a ela para pagar promessas. Ao mesmo tempo, a Senhora do Rosário transformara-se numa Senhora dos Milagres, tantos eram os relatos da sua veia curandeira.

O pequeno oratório não chegava para tanto devoto, e Francisco Magalhães Machado resolveu ampliar o templo, construindo uma capela, quatro anos depois de ter recebido a imagem em suas mãos. E mesmo assim, a crença na Senhora não cessava. Outros quatro anos, em 1738, volvidos e nova ampliação foi necessária. Em 1742 quem decide aumentar de novo o seu tamanho foi o próprio Arcebispo de Braga, o que só mostra a fama e o proveito de que gozava. Estávamos já, por esta altura, na presença de um complexo e não de apenas um templo. Até ao final do século XVIII viriam a ser levantadas várias capelas e instalações para peregrinos, e seria ainda criada uma confraria. Por fim, já na ponta final do século XIX, completado um século de existência, o conjunto é promovido a Santuário Real, ganhando desde aí o nome que tem hoje: Santuário de Nossa Senhora do Porto d’Ave.

Fachada da igreja do Santuário do Porto d'Ave

O barroco na fachada da igreja

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Um santuário de pernas para o ar

Quem conhece o Bom Jesus de Braga, e mesmo a Senhora do Pilar que está junto ao Castelo de Lanhoso, virá ao santuário de Porto d’Ave e reconhecerá as semelhanças, sobretudo no traço das capelas e na estética do escadório que lhes dá acesso. Todos estes templos e as respectivas ermidas que geralmente os envolvem obedecem a uma coerência estética que, mais tarde, se arrumou num denominador comum: o barroco minhoto.

A norma diz que os santuários têm no seu pináculo a igreja principal do conjunto e que o percurso habitual do crente deve ser iniciado lá em baixo. Pretende-se, desta forma, que a subida seja uma espécie de teste à sua crença fazendo, ao mesmo tempo, um paralelismo com a subida de Cristo ao Calvário. O facto do caminho obedecer a esta orientação, de baixo para cima, dá uma ideia de ascenção – à medida que se sobe, a proximidade com Deus diminui. Todavia, o caso do Santuário de Nossa Senhora do Porto d’Ave é ligeiramente diferente.

No Porto d’Ave a igreja está no sopé do outeiro, ficando as capelas mais acima. Isto é, o suposto caminho da fé que deveria ser feito marchando da cota mais baixa até à mais elevada, funciona ao contrário. Mesmo as capelas, que alguns autores comparam com os passos da Via Sacra, não têm qualquer imagem ou painel de azulejos alusivo à Paixão de Cristo, estando antes representados episódios da infância de Jesus, da Anunciação até ao encontro com os Doutores da Lei. Dentro da igreja, ao invés de Jesus, é Maria que se destaca, sobretudo nos painéis de azulejos da nave e na imagem centrada na talha dourada do retábulo-mor, a relembrar que este é, afinal, um lugar de devoção mariana.

Resumindo: nada, nem nas ermidas, nem na igreja, nem na organização do santuário (como já se disse, montado com o sentido inverso ao recorrente, ou seja, a começar em cima e a terminar em baixo), remete para Jesus e o Calvário. Um templo distinto, portanto, o que aqui se vê.

Escadório visto do Terreiro das Músicas

Escadório de acesso às capelas

Póvoa de Lanhoso – o que fazer, onde comer, onde dormir

Portugal nasceu aqui, num baluarte anterior à própria pátria, hoje conhecido como Castelo de Lanhoso - foi especialmente querido à história de D. Teresa, mãe de Afonso Henriques, que alguns consideram a verdadeira primeira monarca portuguesa. Além da renovada fortificação, há, logo ao lado, duas outras construções obrigatórias - o Castro de Lanhoso, que esteve na origem de tudo isto, e o Santuário de Nossa Senhora do Pilar, que começa no sopé do Monte do Pilar e chega até ao seu topo.

E no entanto, apesar dos três exemplos de património histórico descritos acima já serem suficientes para justificar uma visita, Póvoa de Lanhoso tem muito, mas mesmo muito, para ver. A destacar, temos a Filigrana que é trabalhada em Travassos e em Sobradelo da Goma, em primeiro lugar. Em segundo, o Centro Interpretativo Maria da Fonte, um espaço de pesquisa e divulgação de uma das mais célebres figuras da cultura popular, cantada e pintada e esculpida de norte e sul do país enquanto protótipo da mulher nortenha, e que de uma pequena revolta junto à Igreja de Fonte Arcada fez contagem decrescente para uma nova guerra civil. E em terceiro, caso haja possibilidade de ir a meio de Março, as Festas de São José, que se prolongam por uma semana mas que têm no dia 19 de Março o momento da sua majestosa procissão.

Quanto a lugares estivais, o pontão da Barragem de Andorinhas - num trecho predestinado do rio Ave, logo a jusante da lendária Ponte de Mem Gutierres -, e a Praia Fluvial de Verim, no extremo norte do município, são escolhas evidentes. Não muito longe desta última, o Pelourinho de Moure é uma curiosa obra que contraria o manuelino de onde brotou. E numa outra apertada praia, a Praia Fluvial da Rola, há o Santuário da Senhora de Porto d'Ave, responsável pela concorrida Romaria dos Bifes e dos Melões. De referência internacional é o DiverLanhoso, um dos maiores parques de aventura no continente europeu, com diversificada oferta de actividades, mormente para a criançada.

Nas comidas, os dois andares do Velho Minho guardam boa garrafeira e cozinha regional bem preparada - é bom o cabrito, finalizado com um pudim Abade de Priscos. Para dormir, o resguardo da Casa do Monte da Veiga, junto a Calvos (onde respira um dos mais belos carvalhos nacionais), dá noites sossegadas a quem as quiser, mas também a Villa Moura, em Fonte Arcada, entrega boa qualidade de serviço, piscina, e vista desimpedida sobre a serrania que cerca a sede de concelho.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.55722 ​; lon=-8.22234

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