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As Judiarias, em Portugal, são um fenómeno tão mais frequente quanto mais próximos estivermos da raia oriental do país. Tratam-se de bairros judaicos, isto é, zonas inseridas em aldeias ou vilas ou cidades que se tornaram conhecidas por contarem maioritariamente com judeus (frequentemente sefarditas, os ditos judeus ibéricos), gozando por isso de uma cultura própria e relativamente homogénea – a todos os níveis, da alimentação, passando pelos hábitos do quotidiano, até à arquitectura -, que, como em tudo, extrapolou mais tarde essas fronteiras e imiscuiu-se com variadas tradições lusas.

Os judeus em Portugal

Os judeus, enquanto minoria, sempre estiveram presentes em Portugal, mesmo antes de este existir enquanto país.

Defende-se que chegaram com a romanização da península, estando cá, portanto, aquando da invasão sueva, visigótica, árabe e, por fim, da Reconquista cristã.

Os reis portugueses, por exemplo, não tiveram qualquer problema em os usar como utensílio de repovoamento do território que se ia conquistando a sul, frente aos sarracenos, aproveitando-se da sua fama de impulsionadores do comércio no país.

Sempre que existia um pólo judaico, uma comuna era criada, em redor de um centro comum: a sinagoga, a sua assembleia religiosa por excelência. E este é o embrião daquilo que viriam a ser as judiarias.

As relações entre cristãos e judeus, no entanto, estiveram longe de ser pacíficas – os primeiros acusavam os segundos de arrogância e avareza, os segundos acusavam os primeiros de inveja e preconceito. É, aliás, notória a discriminação que os cristãos lhes faziam, quando observamos que a maioria das judiarias se situa nas áreas das povoações menos banhadas pelo sol, normalmente viradas a norte, ou seja, aquelas onde ninguém, excepto os discriminados, quereria morar – em vários casos, os terrenos onde se situavam as judiarias pertenciam ao rei, o que mostra como a coroa portuguesa, muitas vezes, confrontou o segregacionismo do povo em relação aos judeus. É recorrente, de igual forma, lermos sinais raspados nas paredes das suas casas, indicando que ali moravam judeus, como também é a formação de certas crenças reveladoras da discriminação judaica como a que atribuímos à alheira, um enchido de aves disfarçado de porco, embora esta possa ter um carácter mais lendário do que histórico.

Porém, nada disto atrasou a multiplicação de famílias judaicas, e consequentemente dos bairros judaicos, e por inícios do século XVI as judiarias portuguesas ultrapassavam já a centena.

A inquisição

O grande impulso começou por altura dos Reis Católicos de Espanha que empurraram os judeus espanhóis para o lado de cá da fronteira na altura da Inquisição. Muitos fizeram de Portugal sítio de passagem para outros mundos, mas muitos, atravessando a fronteira, por cá se estabeleceram, razão pela qual é tão frequente encontrarmos aglomerados de forte cultura judaica nas povoações raianas.

Posteriormente, o reinado de D. Manuel, de má memória para a comunidade judaica portuguesa, promulgou a perseguição aos sefarditas portugueses, sob pressão espanhola. Contudo, num intuito de não perder a minoria que maior força científica e comercial dava ao reino, D. Manuel deu-lhes uma oportunidade de conversão ao cristianismo, indo contra muito bom pensante da altura, inclusivamente contra algum poder clerical. Alguns judeus aceitaram-na de má vontade, outros partiram não negando a sua religião, e outros anuíram mas mantiveram os seus hábitos judaicos às escondidas dos olhares públicos – nisso, as casas judias de Belmonte são um óptimo exemplo.

Começando em Évora e com sentido virado para Norte, é bom acompanhar cada um destes blocos culturais em terras como Elvas, Castelo de Vide, Castelo Branco, Penamacor, Sabugal, Belmonte, Guarda, Vila Nova de Foz Côa, Freixo de Espada à Cinta, ou Torre de Moncorvo. Outras há, mais para oeste. Mas é ali, junto à fronteira, que está o passado de uma minoria que perdeu a esperança no país vizinho e encontrou uma nova neste, ainda que, muitas vezes, por cá, tal esperança tenha sido sol de pouca dura.

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