Provando o Tareco

by | 26 Jul, 2023 | Baixo Alentejo, Festas, Novembro, Províncias, Tradições

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Para percebermos exactamente o que se passa no festival Provando o Tareco, que acontece por ocasião do São Martinho em Vila Alva, concelho de Cuba, calha bem saber o que significa tareco para esta gente.

E um tareco, neste caso, é uma talha para fermentar vinho, embora não daquelas que vemos nas adegas, com capacidade para mais de 1500 litros. Os tarecos são objectos pessoais, guardados nas casas de cada alentejano, e por isso pouco mais levam do que 100 ou 200 litros de tinto sacado à vinha dos seus quintais.

Era costume, em Novembro, nos ditos magustos, os homens do interior alentejano encontrarem-se para fazer uma ronda pelas casas (ou antes, pelos tarecos) de cada um. Gabavam-se dos seus próprios néctares e desdenhavam os dos outros, mas o convívio ficava acima de qualquer desavença.

A tradição evoluiu. Ainda há tarecos, é certo. Todavia, hoje, a esmagadora maioria das vindimas que cada alentejano faz nos pequenos terrenos de que dispõe vai directamente para as adegas ou para as cooperativas – no caso de Vila Alva, para a Adega Cooperativa da Vidigueira. Sendo esta a actual conjuntura, a prova dos tarecos também mudou de esquema. Já não se trata de uma patrulha de homens a visitar a casa uns dos outros. Passou a ser uma rota das adegas, não por acaso o evento por que todos esperam na festa Provando o Tareco.

Programa do Provando o Tareco

Sendo São Martinho, não custa adivinhar que quase todo o programa de festas esteja relacionado com vinho, muito concretamente com a prova do vinho novo. São inúmeros os ditados populares que reflectem este costume: no dia de São Martinho, fura o teu pipinho; no dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho; no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho.

E de facto, no Alentejo, o hábito manda que, depois da vindima, o sumo de uva seja reservado nos velhos potes de barro – as talhas – aí fermentando de forma orgânica durante uma ou duas semanas, para depois, em Novembro, se possa provar o resultado. É isto que acontece em Vila Alva durante os três dias do evento Provando o Tareco (de Sexta-Feira a Domingo), uma realidade comum às terras vizinhas, como se pode testemunhar no magusto de Albergaria dos Fusos ou no magusto de Vila Ruiva, na Feirinha de São Martinho de Vila de Frades, ou mesmo no Amphora Wine Day realizado no Rocim.

Assim, tudo gira em torno do milagre da transformação de sumo em vinho. Os petiscos emparelham com o vinho, o Cante e os fados dão banda sonora ao vinho, as conferências discutem vinho, a rota das adegas faz-se para debicar mais vinho, a tenda festivaleira é abastecida com talhas carregadas de vinho, e até as matinais caminhadas são dedicadas ao vinho ao atravessarem as centenárias vinhas da vila.

Uma sentida ode a Baco e a São Vicente, reflexos divinos desse suco fermentado tão português e tão alentejano. À nossa.

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Cuba do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Cuba, a vila alentejana e não a ilha caribenha, foi povoada desde épocas pré-romanas, embora tenha sido com Roma que ganhou relevância. Com efeito, é a nordeste da vila, num pequeno outeiro a que chamam de Moinhos do Tanquenho dado o par de moinhos de vento que por lá moram, que muito provavelmente um castelo romano foi alçado. Hoje temos dali um excelente palanque para a actual povoação - observa-se o baixo casario e, às suas cavalitas, as altitudes do silo de cereais e da torre das piscinas.

O burgo da Cuba é feito a esquadria, sobretudo o seu flanco sul, aquele que mais influência teve com a chegada da Estação de Caminhos de Ferro. A esse propósito, Pedro Ferro, na obra "Alto e Baixo Alentejo", chamou Cuba de "terra de cargas e descargas". Com efeito, aqui vinham quase todo os alentejanos residentes nessa mancha entre Évora e Beja à caça de mercadoria. Esta veia comercial cubense moldou as gentes e a terra. Viu uma modernização nos seus edifícios que poucas características guardam da arquitectura popular alentejana. Não obstante, na Cuba ainda temos a tradição sulista a funcionar em paralelo - nas adegas musicadas do Cante (que nunca cessem os cantadores cubenses que, com gravidade na boca e mini na mão, arrastam as sílabas numa dolência maior que em todo o resto do Alentejo), no activo lendário (veja-se a Lenda do Poço da Besta), na beleza interior da Igreja Matriz de São Vicente (o frontal de azulejos é gabado para lá da concelhia).

Como curiosidade, e puxando um pouco pela controvérsia, o Centro Cristóvão Colon está de portas abertas para quem se queira deixar convencer com a teoria da origem do descobridor ser não só portuguesa, mas muito em concreto cubense. Menos polémico é o Museu Literário Casa Fialho de Almeida, uma sentida homenagem da Cuba a um dos homens que mais beleza e veneno pôs nas palavras com que se criticava os dirigentes do país entre o final do século XIX e início do século XX.

Depois há o resto, exterior à sede de concelho, que não é pouco. Porém, quase tudo o que há para ver dentro das fronteiras do município de Cuba está no núcleo norte, mais ou menos entre as duas aldeias históricas de Vila Ruiva e Vila Alva. Na primeira destacam-se os vários frescos, na segunda as maravilhosas adegas onde se prova o barrento e romano Vinho de Talha. Lá param também dois monumentos fundamentais para a compreensão da história deste par de terriolas geminadas - a romana Ponte de Vila Ruiva, que é monumento nacional, e a Ermida da Senhora da Represa, onde há procissão por altura da Páscoa.

Mais para cima, próxima de Albergaria dos Fusos, fica a praia fluvial, novinha em folha, pronta a refrescar as tardes soalheiras. No flanco sul, apenas Faro do Alentejo serve de referência geográfica, sendo uma aldeia de poucas casas e cujo protagonismo apenas é reclamado aquando da sua Feira da Caça, da Pesca, e do Mundo Rural, que por acaso até acontece na mesma altura em que as talhas se abrem para a prova de vinho novo.

Falando em aberturas de talhas, e voltando à face setentrional do concelho, a não perder são os eventos lançados pela Herdade do Rocim e por Vila Alva, respectivamente designados Amphora Wine Day e Provando o Tareco, ambos realizados por ocasião do dia de São Martinho. No primeiro provamos os tintos de ânfora da quinta cubense, no segundo tragamos os tintos de ânfora das centenárias vinhas do município. Com jeitinho, dá para ir aos dois.

Onde comer

O correcto é dividir tudo o que se enquadrar na categoria de comes e bebes cubenses em dois grupos: os restaurantes e as adegas. Nos restaurantes o que mais importa é a comida, embora também se beba. Nas adegas o que interessa é a bebida, embora também se coma.

Antes de irmos a cada um deles, uma nota aos visitantes: estamos no Alentejo, e não num Alentejo qualquer, no interior alentejano. Em muitos estaminés não há menu. É entrar, sentar, e comer o que os donos recomendam. O processo não pode ser mais simples. Fico banzado com a quantidade de pessoas que não entende que nem tudo tem de estar escrito numa tábua. Se o chefe de cozinha ou o empregado não vos der escolha, aproveitem isso mesmo, o não ter de escolher.

Começando então pelos restaurantes, o Julião, na Cuba, mistura os pratos mais conhecidos do Alentejo, que andam quase sempre em torno do porco, com surpresas vindas do mar, como o lingueirão. Ainda na Cuba, e de estética mais moderna, temos o Essa Taberna, de abertura recente e cuja aposta recai na petiscaria. No extremo norte da concelhia aconselha-se a , um pequeno café que serve pratos regionais e onde as sopas - a de grão e a de cação - são a razão principal para se entrar.

Já as adegas - que, sejamos honestos, é o que realmente distingue o município -, o ideal é escolher Cuba ou Vila Alva, porque é lá que elas se concentram. A Casa de Monte Pedral, na Cuba, faz um cinquenta-cinquenta: ora é adega, ora é restaurante, e tem no feijão com cardo (ou carrasquinhas, como se preferir chamar) a figura de proa. E também na Cuba há uma bela casa típica alentejana que alberga a Adega da Lua onde o vinho é rei. Passando para Vila Alva, começo por recomendar que o leitor fique atento ao calendário e ao horário de abertura de cada adega, se for preciso ligue antes para confirmar se há gente para o servir, reforçando que a melhor maneira de as apanharmos todas de porta escancarada é nas festas das provas de vinho novo, em Novembro - nesse sentido, é famosa a Adega do Mestre Daniel por se ter tornado sede do projecto XXVI Talhas, bem como a Adega do Guel e a Adega de Panóias.

Onde dormir

Em primeiro lugar da lista de recomendações está a doce Casa do Alto da Eira, na aldeia de Albergaria dos Fusos, bem perto da recente praia fluvial. É uma tradicional casa alentejana que mistura xisto e tijolo com uma bela piscina harmonizada com a envolvente.

Entre Vila Ruiva e a sua famosa ponte encontramos o Turismo Rural Pedremoura, uma casa de campo cercada de vinhas e de sobreiros que vê nas bicicletas que empresta a melhor forma de pôr os hóspedes a tomar o pulso à terra alentejana.

A pequena mas arranjada Vila Girassol, em Vila Alva, garante bom leito a quem queira fazer um rally de adegas e dos seus vinhos de ânfora. Fica dentro dos limites da aldeia e serve de seguro aos exageros do tinto ou do branco.

Se a intenção for estar sediado na própria Cuba, então o melhor que há a fazer é fechar uma reserva no Cuba Real, um solar oitocentista reaproveitado para o turismo, munido com a maioria dos serviços mais requisitados pelo público.

Para conhecer mais promoções para dormidas na Cuba, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.24961 ​; lon=-7.90004

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