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Falei no texto de Vila Ruiva acerca das semelhanças desta com a sua vizinha aldeia de Vila Alva. Para evitar redundâncias, resumo em poucas palavras o que em muitas foi explicado aí: que Vila Alva e Vila Ruiva partilham muito entre si, nomeadamente a história, a geografia, o sangue, mesmo a religiosidade.

Como qualquer par de terras de relevância similar e curta distância de uma para a outra, um certo antagonismo acaba por nascer. Assim sendo, é importante marcar as diferenças entre estas duas aldeias que um dia foram vilas, neste caso dando prioridade ao que mais distingue Vila Alva. E Vila Alva, de todos os diferenciais que se podiam apontar, tem um traço que a separa taxativamente da sua rival: o vigor. Vila Alva pode gabar-se disso, de ter vida.

Infelizmente, muitas são as terriolas alentejanas à espera de seiva jovem que as retire de um generalizado desânimo – e uma delas é, como indirectamente já referi, Vila Ruiva. Vila Alva, afortunadamente, goza de um dinamismo invulgar, um dinamismo que concorre até com o da Cuba, a sede do concelho onde se insere.

A Vila Alva de outros tempos

Há duas antas (uma na Herdade da Fareloa, outra na de Antas de Cima) que, não sendo majestosas, servem para compreender como o tempo do homem, nos termos de Vila Alva, vem de longe. Sabemos que depois houve uma terra chamada Malcabrão, possivelmente a semente de Vila Alva, embora não se consiga entender se coincidissem de forma exacta em matéria geográfica.

Tal como Vila Ruiva, mal se consolidou a Reconquista. foi administrada por sangue azul durante séculos. Por D. Dinis e família, no início. Por D. Fernando, que a concede a Vasco Martins de Melo, guarda-mor do rei português, a título provisório, e a seguir à sua filha bastarda, D. Isabel. Certo é que, na guerra com Castela, Vila Alva estava nas mãos do Alcaide de Portel, apoiante da causa pró castelhana de D. Leonor Teles. É arrancada à rainha por Nun’Álvares Pereira e concedida a este pelo Mestre de Avis, futuro rei D. João I. Fica na posse da Casa de Bragança, com alguns intervalos pelo meio, até ser doada a Rodrigo de Melo, Conde de Tentúgal e Marquês de Ferreira, fenómeno repetido em Vila Ruiva pelos mesmos intervenientes.

Contudo, e apesar de ser terra de batalha na época da Reconquista e na Crise de 1383 a 1385, parece que, ao contrário de Vila Ruiva, nunca teve castelo – conforme indica Pinho Leal, “esta villa nunca foi fortificada”. Talvez por isso não seja tão óbvio olhar para Vila Alva e adivinhar como foi crescendo. Percebemos que há um centro, e que esse fica onde está a actual Junta de Freguesia e a Igreja Matriz e o Clube e o Café Central, todos a uma rua de distância da Torre do Relógio que reconhecemos de fora do povoado. Fora isso, o desenvolvimento aparenta ter sido um quanto aleatório, tendo apenas como barreira as pequenas colinas sobradas da Serra de Portel que lhe dão encosto no lado sul.

Mais gráfica é a abundância de vinha em seu redor, beneficiada por um clima muito particular (porque protegidas pela Falha da Vidigueira). O cultivo da uva foi-se aguentando mais do que noutros lugares nacionais. Isso explica que uma enorme fatia das vinhas centenárias do Alentejo se encontre aqui. E deixa adivinhar que a relação das gentes de Vila Alva com o vinho é especial.

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As culturas de Vila Alva

Sobreiros e oliveiras e vinhas em Vila Alva

Vinho vertido de ânfora

O Vinho de Talha como embaixador de Vila Alva

Fachada da Ermida de Santo António

Ermida de Santo António

O vinho como motor de Vila Alva

Vila Alva dinamizou-se através do vinho. É por isso que se mantêm as vinhas de pequena propriedade com mais de um século de história, entretanto misturadas com outras contemporâneas típicas do latifúndio. É por isso que no burgo se concentra um surpreendente número de adegas, umas fechadas e outras abertas ao público, mas sempre a operar o célebre Vinho de Talha. É por isso que a aldeia não se cansa de inventar eventos como motores de marcha da comunidade, sobretudo em alturas menos concorridas, como é o caso do mês de Maio e de Novembro. E é por isso que os graves cantares se fazem ouvir com maior frequência nestas paragens, porque onde há tabernas, há cantadores, e onde há cantadores, há Cante.

Para se acreditar na vitalidade de Vila Alva, basta que não confiem nas palavras que escrevo e sigam até lá pelo vosso pé. As paragens são quase todas na zona sul: na Adega do Mestre Daniel, sede do projecto XXVI Talhas; na Adega do Guel, aberta durante o Inverno; na Adega do Panóias, cuja visita convém vir acompanhada de reserva prévia. A melhor altura para o fazer é durante a festa local sugestivamente intitulada “Provando o Tareco“, a rondar o Dia de São Martinho. Ou então antes disso, em Maio, num evento criado em 2023 que levou com outro nome mui sedutor: “Vinho na Vila“.

Há mais para ver, claro. A Igreja Matriz, a Misericórdia, a Ermida de Santo António, o Museu de Arte Sacra, o casario fiel à traça do Baixo Alentejo… Mas em Vila Alva vimos para o convívio. Metemo-nos a caminho porque há um tinto vertido da base de uma ânfora a assobiar-nos de longe. Espera por ser absorvido por queijos e enchidos de produção caseira. Tudo o resto, o que não é adega ou talha ou vinho, é extra. São cerejas em cima do bolo, e o bolo é o vinho! Fica assim fácil alcançar as palavras que Emília Salvado Borges guardou para Vila Alva, não tendo qualquer problema em declará-la a “mais típica” aldeia de todo o concelho de Cuba.

Cuba do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Cuba, a vila alentejana e não a ilha caribenha, foi povoada desde épocas pré-romanas, embora tenha sido com Roma que ganhou relevância. Com efeito, é a nordeste da vila, num pequeno outeiro a que chamam de Moinhos do Tanquenho dado o par de moinhos de vento que por lá moram, que muito provavelmente um castelo romano foi alçado. Hoje temos dali um excelente palanque para a actual povoação - observa-se o baixo casario e, às suas cavalitas, as altitudes do silo de cereais e da torre das piscinas.

O burgo da Cuba é feito a esquadria, sobretudo o seu flanco sul, aquele que mais influência teve com a chegada da Estação de Caminhos de Ferro. A esse propósito, Pedro Ferro, na obra "Alto e Baixo Alentejo", chamou Cuba de "terra de cargas e descargas". Com efeito, aqui vinham quase todo os alentejanos residentes nessa mancha entre Évora e Beja à caça de mercadoria. Esta veia comercial cubense moldou as gentes e a terra. Viu uma modernização nos seus edifícios que poucas características guardam da arquitectura popular alentejana. Não obstante, na Cuba ainda temos a tradição sulista a funcionar em paralelo - nas adegas musicadas do Cante (que nunca cessem os cantadores cubenses que, com gravidade na boca e mini na mão, arrastam as sílabas numa dolência maior que em todo o resto do Alentejo), no activo lendário (veja-se a Lenda do Poço da Besta), na beleza interior da Igreja Matriz de São Vicente (o frontal de azulejos é gabado para lá da concelhia).

Como curiosidade, e puxando um pouco pela controvérsia, o Centro Cristóvão Colon está de portas abertas para quem se queira deixar convencer com a teoria da origem do descobridor ser não só portuguesa, mas muito em concreto cubense. Menos polémico é o Museu Literário Casa Fialho de Almeida, uma sentida homenagem da Cuba a um dos homens que mais beleza e veneno pôs nas palavras com que se criticava os dirigentes do país entre o final do século XIX e início do século XX.

Depois há o resto, exterior à sede de concelho, que não é pouco. Porém, quase tudo o que há para ver dentro das fronteiras do município de Cuba está no núcleo norte, mais ou menos entre as duas aldeias históricas de Vila Ruiva e Vila Alva. Na primeira destacam-se os vários frescos, na segunda as maravilhosas adegas onde se prova o barrento e romano Vinho de Talha. Lá param também dois monumentos fundamentais para a compreensão da história deste par de terriolas geminadas - a romana Ponte de Vila Ruiva, que é monumento nacional, e a Ermida da Senhora da Represa, onde há procissão por altura da Páscoa.

Mais para cima, próxima de Albergaria dos Fusos, fica a praia fluvial, novinha em folha, pronta a refrescar as tardes soalheiras. No flanco sul, apenas Faro do Alentejo serve de referência geográfica, sendo uma aldeia de poucas casas e cujo protagonismo apenas é reclamado aquando da sua Feira da Caça, da Pesca, e do Mundo Rural, que por acaso até acontece na mesma altura em que as talhas se abrem para a prova de vinho novo.

Falando em aberturas de talhas, e voltando à face setentrional do concelho, a não perder são os eventos lançados pela Herdade do Rocim e por Vila Alva, respectivamente designados Amphora Wine Day e Provando o Tareco, ambos realizados por ocasião do dia de São Martinho. No primeiro provamos os tintos de ânfora da quinta cubense, no segundo tragamos os tintos de ânfora das centenárias vinhas do município. Com jeitinho, dá para ir aos dois.

Onde comer

O correcto é dividir tudo o que se enquadrar na categoria de comes e bebes cubenses em dois grupos: os restaurantes e as adegas. Nos restaurantes o que mais importa é a comida, embora também se beba. Nas adegas o que interessa é a bebida, embora também se coma.

Antes de irmos a cada um deles, uma nota aos visitantes: estamos no Alentejo, e não num Alentejo qualquer, no interior alentejano. Em muitos estaminés não há menu. É entrar, sentar, e comer o que os donos recomendam. O processo não pode ser mais simples. Fico banzado com a quantidade de pessoas que não entende que nem tudo tem de estar escrito numa tábua. Se o chefe de cozinha ou o empregado não vos der escolha, aproveitem isso mesmo, o não ter de escolher.

Começando então pelos restaurantes, o Julião, na Cuba, mistura os pratos mais conhecidos do Alentejo, que andam quase sempre em torno do porco, com surpresas vindas do mar, como o lingueirão. Ainda na Cuba, e de estética mais moderna, temos o Essa Taberna, de abertura recente e cuja aposta recai na petiscaria. No extremo norte da concelhia aconselha-se a , um pequeno café que serve pratos regionais e onde as sopas - a de grão e a de cação - são a razão principal para se entrar.

Já as adegas - que, sejamos honestos, é o que realmente distingue o município -, o ideal é escolher Cuba ou Vila Alva, porque é lá que elas se concentram. A Casa de Monte Pedral, na Cuba, faz um cinquenta-cinquenta: ora é adega, ora é restaurante, e tem no feijão com cardo (ou carrasquinhas, como se preferir chamar) a figura de proa. E também na Cuba há uma bela casa típica alentejana que alberga a Adega da Lua onde o vinho é rei. Passando para Vila Alva, começo por recomendar que o leitor fique atento ao calendário e ao horário de abertura de cada adega, se for preciso ligue antes para confirmar se há gente para o servir, reforçando que a melhor maneira de as apanharmos todas de porta escancarada é nas festas das provas de vinho novo, em Novembro - nesse sentido, é famosa a Adega do Mestre Daniel por se ter tornado sede do projecto XXVI Talhas, bem como a Adega do Guel e a Adega de Panóias.

Onde dormir

Em primeiro lugar da lista de recomendações está a doce Casa do Alto da Eira, na aldeia de Albergaria dos Fusos, bem perto da recente praia fluvial. É uma tradicional casa alentejana que mistura xisto e tijolo com uma bela piscina harmonizada com a envolvente.

Entre Vila Ruiva e a sua famosa ponte encontramos o Turismo Rural Pedremoura, uma casa de campo cercada de vinhas e de sobreiros que vê nas bicicletas que empresta a melhor forma de pôr os hóspedes a tomar o pulso à terra alentejana.

A pequena mas arranjada Vila Girassol, em Vila Alva, garante bom leito a quem queira fazer um rally de adegas e dos seus vinhos de ânfora. Fica dentro dos limites da aldeia e serve de seguro aos exageros do tinto ou do branco.

Se a intenção for estar sediado na própria Cuba, então o melhor que há a fazer é fechar uma reserva no Cuba Real, um solar oitocentista reaproveitado para o turismo, munido com a maioria dos serviços mais requisitados pelo público.

Para conhecer mais promoções para dormidas na Cuba, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.25018​; lon=-7.90205

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