Ermida de Nossa Senhora da Represa

by | 27 Jul, 2023 | Baixo Alentejo, Lugares, Monumentos, Províncias, Religiosos

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A Ermida de Nossa Senhora da Represa (ou Ermida de São Caetano), obra que remonta, muito provavelmente, ao século XVI, não está sozinha. Tem a seu lado uma ainda mais antiga barragem romana que lhe emprestou o nome: uma represa, um muro contrafortado que inacreditavelmente sobreviveu por mais de dois mil anos

O lugar é adorado por duas povoações que, embora amigas, têm a sua dose de concorrência: Vila Alva e Vila Ruiva. O povo de uma e de outra lá se encontra, anualmente, aquando da procissão realizada na Segunda-Feira de Pascoela, um dos únicos dias em que o templo se encontra de portas abertas ao visitante.

O culto à Senhora da Represa e o culto a São Caetano

A capela que aqui estava tinha um só nome: Ermida de São Caetano. Com o tempo, e com uma nova veneração a caminho, essa designação foi caindo, substituída pela recente Ermida de Nossa Senhora da Represa. Já iremos a essa nova sacralidade, mas primeiro anote-se a lenda que engrossou o afluxo ao primitivo templo. Conta o povo que São Caetano teria aqui vindo em pessoa, com uma imagem sua que pediu para ser idolatrada. Não parece ter sido muito bem recebido pela eremita. Mas lá deixou a imagem. No entanto, rapidamente o cepticismo da ermitoa foi preenchido por incredulidade. À imagem de São Caetano vinha gente pedir favores, e esses eram cumpridos. Mais vinham e mais se cumpriam. Até que a ermida ficou conhecida em vilarejos bem distantes daqui.

Caindo na real, é impossível que São Caetano cá tenha passado (era italiano e nada indica que tenha vindo à Ibéria), mas a verdade é que o Padre João Baptista de Castro, no seu “Mappa de Portugal Antigo e Moderno” editado no século XVIII, descreveu a imagem do santo como “a mais milagrosa de todo o reino de Portugal”.

Certo é que houve necessidade de aumentar o espaço de devoção, e o resultado é este, uma capela e uma casa para receber devotos que remontam ao século XVI. Interessante ver, mantendo-nos ainda no culto de São Caetano, como o concelho de Cuba escolhe a dedo os seus bem-aventurados. São Caetano como patrono do pão. E São Vicente, adorado na Igreja Matriz de Cuba, que é patrono do vinho. Pão e vinho como os santos aos quais os cubenses mais rezam. Há lá coisa mais alentejana.

Quanto à Senhora da Represa, é fácil perceber de onde lhe veio o nome – da represa romana encontrada a poucos passos de distância. Com efeito, escassos metros a sul do templo vemos um muro. Pouco se daria por ele, não fosse sabermos tratar-se de um muro com cerca de dois mil anos. Fazia parte de uma barragem romana, parte dela hoje destruída ou soterrada, cuja função seria armadilhar os riachos que afluíam a este vale vindos dos cerros em seu torno – do Monte da Panasqueira a sul e do Monte Capas a norte – para usar as suas águas na lavoura. As virtudes hidrográficas deste lugar podem ser atestadas até no presente momento, olhando para a fonte que se fez a poente da ermida.

Porque é que de uma solitária represa surgiu uma Senhora da Represa, não sabemos. Talvez um primitivo culto das águas (das represas) tenha vindo a tomar o lugar da adoração a São Caetano.

Não obstante, o povo, criativo como é, arranjou outra explicação. Diz a tradição oral que foi descoberta uma imagem mariana nas redondezas. A ela se pretendeu fazer um segundo templo, lado a lado com a Ermida de São Caetano. Chegou mesmo a levantar-se uma parede. Mas sempre que para aí levavam a imagem da Senhora, ela de um dia para o outro escapulia-se até à Ermida de São Caetano. O fenómeno repetiu-se. Até que os obreiros desistiram e resolveram colocar a Senhora da Represa na Ermida de São Caetano, tomando-lhe o nome a partir daí. Quanto ao muro, lá ficou, testemunho de uma obra inacabada por causa de uma Senhora que não queria viver noutra casa.

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Frescos no tecto abobadado

A concha de Santiago nos frescos

Muro que integrava uma antiga barragem romana

Um açude romano para recolha de água

Os vários estilos da Ermida de Nossa Senhora da Represa

É um paradoxo que ataca os olhos quando a miramos de perto. Apesar da típica simplicidade alentejana, onde só a pureza da cal importa, vemos influência mudéjar nos coruchéus arabescos do alpendre, vemos Renascença ou mesmo Estilo Chão nas proporções dos vãos, vemos Manuelino no púlpito e na pia, e até Barroco na azulejaria que reveste quase todo o interior.

Mais uma vez, como é costume no Baixo Alentejo, a diferença da sobriedade exterior para a enxurrada de cores interior é chocante. Um monolito alvo rapidamente se transforma assim que damos entrada no espaço sagrado, revestido a azulejaria que encontra paralelo noutras capelas e igrejas vizinhas como a Igreja Matriz de Vila Alva ou Igreja Matriz de São Vicente. Neste caso, porém, além do tapete de azulejos nos alçados, encantam os frescos no tecto abobadado, dedicados a São Caetano e não só – há um detalhe que deve ser anotado, a presença de uma concha sob um par de anjos (a concha é tida como o ícone do Caminho de Santiago, que passa precisamente aqui).

Ao fundo vê-se no altar-mor três nichos desocupados. Deveriam guardar, supostamente, uma imagem de São Caetano, uma imagem de Jesus, e uma imagem da Senhora da Represa. As duas primeiras foram roubadas – é o problema destas igrejas abandonadas em ermos, não há alguém que as proteja do vandalismo. Já a imagem da Senhora da Represa, vá lá, foi reencaminhada para a Igreja Matriz de Vila Ruiva, de onde só sai na Segunda-Feira imediatamente a seguir ao Domingo de Páscoa, dirigindo-se para aqui como principal objecto de devoção da Romaria da Senhora da Represa – a festa religiosa é de um só dia, cabendo ao andor dar três voltas à ermida e regressar a casa logo a seguir.

Cuba do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Cuba, a vila alentejana e não a ilha caribenha, foi povoada desde épocas pré-romanas, embora tenha sido com Roma que ganhou relevância. Com efeito, é a nordeste da vila, num pequeno outeiro a que chamam de Moinhos do Tanquenho dado o par de moinhos de vento que por lá moram, que muito provavelmente um castelo romano foi alçado. Hoje temos dali um excelente palanque para a actual povoação - observa-se o baixo casario e, às suas cavalitas, as altitudes do silo de cereais e da torre das piscinas.

O burgo da Cuba é feito a esquadria, sobretudo o seu flanco sul, aquele que mais influência teve com a chegada da Estação de Caminhos de Ferro. A esse propósito, Pedro Ferro, na obra "Alto e Baixo Alentejo", chamou Cuba de "terra de cargas e descargas". Com efeito, aqui vinham quase todo os alentejanos residentes nessa mancha entre Évora e Beja à caça de mercadoria. Esta veia comercial cubense moldou as gentes e a terra. Viu uma modernização nos seus edifícios que poucas características guardam da arquitectura popular alentejana. Não obstante, na Cuba ainda temos a tradição sulista a funcionar em paralelo - nas adegas musicadas do Cante (que nunca cessem os cantadores cubenses que, com gravidade na boca e mini na mão, arrastam as sílabas numa dolência maior que em todo o resto do Alentejo), no activo lendário (veja-se a Lenda do Poço da Besta), na beleza interior da Igreja Matriz de São Vicente (o frontal de azulejos é gabado para lá da concelhia).

Como curiosidade, e puxando um pouco pela controvérsia, o Centro Cristóvão Colon está de portas abertas para quem se queira deixar convencer com a teoria da origem do descobridor ser não só portuguesa, mas muito em concreto cubense. Menos polémico é o Museu Literário Casa Fialho de Almeida, uma sentida homenagem da Cuba a um dos homens que mais beleza e veneno pôs nas palavras com que se criticava os dirigentes do país entre o final do século XIX e início do século XX.

Depois há o resto, exterior à sede de concelho, que não é pouco. Porém, quase tudo o que há para ver dentro das fronteiras do município de Cuba está no núcleo norte, mais ou menos entre as duas aldeias históricas de Vila Ruiva e Vila Alva. Na primeira destacam-se os vários frescos, na segunda as maravilhosas adegas onde se prova o barrento e romano Vinho de Talha. Lá param também dois monumentos fundamentais para a compreensão da história deste par de terriolas geminadas - a romana Ponte de Vila Ruiva, que é monumento nacional, e a Ermida da Senhora da Represa, onde há procissão por altura da Páscoa.

Mais para cima, próxima de Albergaria dos Fusos, fica a praia fluvial, novinha em folha, pronta a refrescar as tardes soalheiras. No flanco sul, apenas Faro do Alentejo serve de referência geográfica, sendo uma aldeia de poucas casas e cujo protagonismo apenas é reclamado aquando da sua Feira da Caça, da Pesca, e do Mundo Rural, que por acaso até acontece na mesma altura em que as talhas se abrem para a prova de vinho novo.

Falando em aberturas de talhas, e voltando à face setentrional do concelho, a não perder são os eventos lançados pela Herdade do Rocim e por Vila Alva, respectivamente designados Amphora Wine Day e Provando o Tareco, ambos realizados por ocasião do dia de São Martinho. No primeiro provamos os tintos de ânfora da quinta cubense, no segundo tragamos os tintos de ânfora das centenárias vinhas do município. Com jeitinho, dá para ir aos dois.

Onde comer

O correcto é dividir tudo o que se enquadrar na categoria de comes e bebes cubenses em dois grupos: os restaurantes e as adegas. Nos restaurantes o que mais importa é a comida, embora também se beba. Nas adegas o que interessa é a bebida, embora também se coma.

Antes de irmos a cada um deles, uma nota aos visitantes: estamos no Alentejo, e não num Alentejo qualquer, no interior alentejano. Em muitos estaminés não há menu. É entrar, sentar, e comer o que os donos recomendam. O processo não pode ser mais simples. Fico banzado com a quantidade de pessoas que não entende que nem tudo tem de estar escrito numa tábua. Se o chefe de cozinha ou o empregado não vos der escolha, aproveitem isso mesmo, o não ter de escolher.

Começando então pelos restaurantes, o Julião, na Cuba, mistura os pratos mais conhecidos do Alentejo, que andam quase sempre em torno do porco, com surpresas vindas do mar, como o lingueirão. Ainda na Cuba, e de estética mais moderna, temos o Essa Taberna, de abertura recente e cuja aposta recai na petiscaria. No extremo norte da concelhia aconselha-se a , um pequeno café que serve pratos regionais e onde as sopas - a de grão e a de cação - são a razão principal para se entrar.

Já as adegas - que, sejamos honestos, é o que realmente distingue o município -, o ideal é escolher Cuba ou Vila Alva, porque é lá que elas se concentram. A Casa de Monte Pedral, na Cuba, faz um cinquenta-cinquenta: ora é adega, ora é restaurante, e tem no feijão com cardo (ou carrasquinhas, como se preferir chamar) a figura de proa. E também na Cuba há uma bela casa típica alentejana que alberga a Adega da Lua onde o vinho é rei. Passando para Vila Alva, começo por recomendar que o leitor fique atento ao calendário e ao horário de abertura de cada adega, se for preciso ligue antes para confirmar se há gente para o servir, reforçando que a melhor maneira de as apanharmos todas de porta escancarada é nas festas das provas de vinho novo, em Novembro - nesse sentido, é famosa a Adega do Mestre Daniel por se ter tornado sede do projecto XXVI Talhas, bem como a Adega do Guel e a Adega de Panóias.

Onde dormir

Em primeiro lugar da lista de recomendações está a doce Casa do Alto da Eira, na aldeia de Albergaria dos Fusos, bem perto da recente praia fluvial. É uma tradicional casa alentejana que mistura xisto e tijolo com uma bela piscina harmonizada com a envolvente.

Entre Vila Ruiva e a sua famosa ponte encontramos o Turismo Rural Pedremoura, uma casa de campo cercada de vinhas e de sobreiros que vê nas bicicletas que empresta a melhor forma de pôr os hóspedes a tomar o pulso à terra alentejana.

A pequena mas arranjada Vila Girassol, em Vila Alva, garante bom leito a quem queira fazer um rally de adegas e dos seus vinhos de ânfora. Fica dentro dos limites da aldeia e serve de seguro aos exageros do tinto ou do branco.

Se a intenção for estar sediado na própria Cuba, então o melhor que há a fazer é fechar uma reserva no Cuba Real, um solar oitocentista reaproveitado para o turismo, munido com a maioria dos serviços mais requisitados pelo público.

Para conhecer mais promoções para dormidas na Cuba, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.23461 ​; lon=-7.91785

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