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Vila Ruiva e Vila Alva são o polo histórico do município de Cuba. Estão no flanco setentrional do concelho, muito próximas entre si: em 45 minutos fazemos o caminho a pé de uma para a outra. Por serem vizinhas e por serem, também, muito antigas – ambas funcionaram como município independente no passado -, acabam por aceitar mútua competição.

Por curiosidade, até no nome se alinham. Uma é ruiva e outra é alva – a cor como o seu principal adjectivo funciona em parelha. E na verdade, as duas partilham estes pantones – o casario é alvo nos dois casos, e as velhas searas circundantes conseguiam ser rubias (no sentido espanholizado, de louras) numa e noutra situação. Se nisso coincidem, na orografia idem. Ambas se adaptam às pequenas oscilações de declive características do norte do concelho de Cuba: Vila Ruiva está a cavalo de um cerro; Vila Alva fica num vale caído de outeiros envolventes. Mesmo nas doações elas funcionavam em conjunto como moeda de troca, como aconteceu em 1315 ou em 1385. E ademais, as suas principais igrejas descontavam rendas para o Convento da Conceição, em Beja.

Mas para o presente caso importa o que as distingue. Porque é de Vila Ruiva que se pretende falar, ainda que reconhecendo o quão espinhoso é mencionar uma esquecendo a outra.

Em volta de um monte

Podemos dizer que Vila Ruiva se fez em torno de um velho castelo, agora reduzido a pedra esparsa (como aconteceu com o pelourinho e com o Paço), que sublinha a importância medieva de que gozou, sobretudo quando foi gratificada com um primeiro foral do Mosteiro de Mancelos, depois arrebatada por D. Dinis e restantes monarcas que o seguiram na I Dinastia, logo oferecida a  Nun’Álvares Pereira quando Portugal esteve à beira de cair, e por fim doada aos Marqueses de Ferreira que muito fizeram por ela, a começar pela fundação da Misericórdia.

A torre de vigilância situava-se onde fica a rua 25 de Abril que agora termina num miradouro apontado a um montado – e que ganhou o sugestivo nome de Miradouro do Castelo. É por causa do desaparecido bastião que se realiza a Feira Medieval, anualmente, mal chega a Primavera.

Se presentemente os ilhéus – alcunha dada aos habitantes de Vila Ruiva – ficaram sem fortaleza, têm hoje na Igreja Matriz quinhentista o seu novo eixo de referência, sendo esta, de resto, vizinha do desaparecido castelo. Indo até lá e olhando para baixo percebemos que ali temos uma espécie de ponto zero, o lugar alto de onde a urbe brotou, seguindo com a história pela encosta abaixo.

No sopé, duas estradas encaixam Vila Ruiva estrategicamente. Numa vamos de Alvito até à Vidigueira. Noutra da Cuba até Viana do Alentejo. Vila Ruiva está a meio caminho de qualquer uma destas indicações. Tal como, lá está, a geminada Vila Alva. Em redor há sobreiros e azinheiras. Videira já houve muita, em tempos, tendo sido progressivamente substituída pelo olival – dá menos trabalho e mais dinheiro, dirão alguns.

Um passado palpável

Dos tempos áureos sobraram os monumentos. Os religiosos, sobretudo, a começar na já mencionada Igreja Matriz (ou Igreja da Senhora da Encarnação), e na Misericórdia, e na de São Sebastião. Enchem-se de pinturas feitas a água, os frescos tão apreciados no Alentejo: na Matriz, destaca-se a representação de Santo André; na Misericórdia, uma reprodução da Última Ceia; na de São Sebastião, salta à vista a imagem da Santíssima Trindade. Mas os frescos não são exclusivos dos templos – também os temos em ampla escala na casa solarenga dos Cappas, onde agora mora o InsectoZoo, um museu dedicado a esses pequenos bichos. Vila Ruiva vive tais manifestações artísticas com particular orgulho: declara-se a todos como a Capital do Fresco. Não é para menos, e nem sabemos quantas outras pinturas estarão encobertas por paredes batidas de cal.

Da Igreja do Senhor Jesus da Ladeira, além da formosura da fachada, retiramos a sugestividade no seu nome, que em parte é explicativo do encanto de Vila Ruiva – um Senhor da Ladeira, apenas numa terra colada a meio de uma encosta se poderia contar com uma designação destas.

Se a aldeia (sim, aldeia, o título de vila foi-lhe retirado, embora permaneça com esse nome) é bastante fácil de identificar num mapa – forma um círculo desenhado a compasso, coeso e de ténues desvios -, é de notar que uma boa fatia do capital espiritual da povoação reside fora do perímetro desta. Na ponta norte e na ponta sul encontramos, respectivamente, a Ponte de Vila Ruiva e a Ermida de Nossa Senhora da Represa. A primeira guarda uma lenda que tem no diabo a sua estrela. A segunda é destino de uma bela romaria realizada na época pascal e que junta, mais uma vez, as gentes vizinhas de Vila Ruiva e Vila Alva.

Fachada da Igreja Matriz de Vila Ruiva

Igreja Matriz, um reservatório de frescos

Pormenor de um fresco em Vila Ruiva

Fresco de Santo André em Vila Ruiva

Cuba do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Cuba, a vila alentejana e não a ilha caribenha, foi povoada desde épocas pré-romanas, embora tenha sido com Roma que ganhou relevância. Com efeito, é a nordeste da vila, num pequeno outeiro a que chamam de Moinhos do Tanquenho dado o par de moinhos de vento que por lá moram, que muito provavelmente um castelo romano foi alçado. Hoje temos dali um excelente palanque para a actual povoação - observa-se o baixo casario e, às suas cavalitas, as altitudes do silo de cereais e da torre das piscinas.

O burgo da Cuba é feito a esquadria, sobretudo o seu flanco sul, aquele que mais influência teve com a chegada da Estação de Caminhos de Ferro. A esse propósito, Pedro Ferro, na obra "Alto e Baixo Alentejo", chamou Cuba de "terra de cargas e descargas". Com efeito, aqui vinham quase todo os alentejanos residentes nessa mancha entre Évora e Beja à caça de mercadoria. Esta veia comercial cubense moldou as gentes e a terra. Viu uma modernização nos seus edifícios que poucas características guardam da arquitectura popular alentejana. Não obstante, na Cuba ainda temos a tradição sulista a funcionar em paralelo - nas adegas musicadas do Cante (que nunca cessem os cantadores cubenses que, com gravidade na boca e mini na mão, arrastam as sílabas numa dolência maior que em todo o resto do Alentejo), no activo lendário (veja-se a Lenda do Poço da Besta), na beleza interior da Igreja Matriz de São Vicente (o frontal de azulejos é gabado para lá da concelhia).

Como curiosidade, e puxando um pouco pela controvérsia, o Centro Cristóvão Colon está de portas abertas para quem se queira deixar convencer com a teoria da origem do descobridor ser não só portuguesa, mas muito em concreto cubense. Menos polémico é o Museu Literário Casa Fialho de Almeida, uma sentida homenagem da Cuba a um dos homens que mais beleza e veneno pôs nas palavras com que se criticava os dirigentes do país entre o final do século XIX e início do século XX.

Depois há o resto, exterior à sede de concelho, que não é pouco. Porém, quase tudo o que há para ver dentro das fronteiras do município de Cuba está no núcleo norte, mais ou menos entre as duas aldeias históricas de Vila Ruiva e Vila Alva. Na primeira destacam-se os vários frescos, na segunda as maravilhosas adegas onde se prova o barrento e romano Vinho de Talha. Lá param também dois monumentos fundamentais para a compreensão da história deste par de terriolas geminadas - a romana Ponte de Vila Ruiva, que é monumento nacional, e a Ermida da Senhora da Represa, onde há procissão por altura da Páscoa.

Mais para cima, próxima de Albergaria dos Fusos, fica a praia fluvial, novinha em folha, pronta a refrescar as tardes soalheiras. No flanco sul, apenas Faro do Alentejo serve de referência geográfica, sendo uma aldeia de poucas casas e cujo protagonismo apenas é reclamado aquando da sua Feira da Caça, da Pesca, e do Mundo Rural, que por acaso até acontece na mesma altura em que as talhas se abrem para a prova de vinho novo.

Falando em aberturas de talhas, e voltando à face setentrional do concelho, a não perder são os eventos lançados pela Herdade do Rocim e por Vila Alva, respectivamente designados Amphora Wine Day e Provando o Tareco, ambos realizados por ocasião do dia de São Martinho. No primeiro provamos os tintos de ânfora da quinta cubense, no segundo tragamos os tintos de ânfora das centenárias vinhas do município. Com jeitinho, dá para ir aos dois.

Onde comer

O correcto é dividir tudo o que se enquadrar na categoria de comes e bebes cubenses em dois grupos: os restaurantes e as adegas. Nos restaurantes o que mais importa é a comida, embora também se beba. Nas adegas o que interessa é a bebida, embora também se coma.

Antes de irmos a cada um deles, uma nota aos visitantes: estamos no Alentejo, e não num Alentejo qualquer, no interior alentejano. Em muitos estaminés não há menu. É entrar, sentar, e comer o que os donos recomendam. O processo não pode ser mais simples. Fico banzado com a quantidade de pessoas que não entende que nem tudo tem de estar escrito numa tábua. Se o chefe de cozinha ou o empregado não vos der escolha, aproveitem isso mesmo, o não ter de escolher.

Começando então pelos restaurantes, o Julião, na Cuba, mistura os pratos mais conhecidos do Alentejo, que andam quase sempre em torno do porco, com surpresas vindas do mar, como o lingueirão. Ainda na Cuba, e de estética mais moderna, temos o Essa Taberna, de abertura recente e cuja aposta recai na petiscaria. No extremo norte da concelhia aconselha-se a , um pequeno café que serve pratos regionais e onde as sopas - a de grão e a de cação - são a razão principal para se entrar.

Já as adegas - que, sejamos honestos, é o que realmente distingue o município -, o ideal é escolher Cuba ou Vila Alva, porque é lá que elas se concentram. A Casa de Monte Pedral, na Cuba, faz um cinquenta-cinquenta: ora é adega, ora é restaurante, e tem no feijão com cardo (ou carrasquinhas, como se preferir chamar) a figura de proa. E também na Cuba há uma bela casa típica alentejana que alberga a Adega da Lua onde o vinho é rei. Passando para Vila Alva, começo por recomendar que o leitor fique atento ao calendário e ao horário de abertura de cada adega, se for preciso ligue antes para confirmar se há gente para o servir, reforçando que a melhor maneira de as apanharmos todas de porta escancarada é nas festas das provas de vinho novo, em Novembro - nesse sentido, é famosa a Adega do Mestre Daniel por se ter tornado sede do projecto XXVI Talhas, bem como a Adega do Guel e a Adega de Panóias.

Onde dormir

Em primeiro lugar da lista de recomendações está a doce Casa do Alto da Eira, na aldeia de Albergaria dos Fusos, bem perto da recente praia fluvial. É uma tradicional casa alentejana que mistura xisto e tijolo com uma bela piscina harmonizada com a envolvente.

Entre Vila Ruiva e a sua famosa ponte encontramos o Turismo Rural Pedremoura, uma casa de campo cercada de vinhas e de sobreiros que vê nas bicicletas que empresta a melhor forma de pôr os hóspedes a tomar o pulso à terra alentejana.

A pequena mas arranjada Vila Girassol, em Vila Alva, garante bom leito a quem queira fazer um rally de adegas e dos seus vinhos de ânfora. Fica dentro dos limites da aldeia e serve de seguro aos exageros do tinto ou do branco.

Se a intenção for estar sediado na própria Cuba, então o melhor que há a fazer é fechar uma reserva no Cuba Real, um solar oitocentista reaproveitado para o turismo, munido com a maioria dos serviços mais requisitados pelo público.

Para conhecer mais promoções para dormidas na Cuba, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.24667 ​; lon=-7.9372