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A Herdade do Rocim é um ambicioso projecto do presente século cujos bons resultados estão à vista de todos – nas distinções, nos elogios, e sobretudo nas prateleiras dos supermercados dedicadas a Baco.

Situa-se na estrada que segue da Cuba até à Vidigueira, estando equidistante de ambas as terras, e, graças a Deus, mal se dá por ela. De portão discreto, guarda todo o seu tesouro para quem lá entrar.

Para já, é para se visitar. Num futuro próximo, será para dormir também.

Uma parideira de vinhos da Vidigueira

A sub-região da Vidigueira, integrada no gigante e por vezes confuso universo dos vinhos alentejanos, é um território paradoxal. Apesar de estar no Baixo Alentejo, apesar de já ficar longe do mar, apesar de ser a mais meridional das sub-regiões vinícolas alentejanas, tem dos climas menos extremos do sul português – não é tão seca como Granja, nem de clima tão assimétrico como Moura ou Reguengos, nem tão fria e húmida como Portalegre.

A Serra de Portel que se levanta a norte, mais conhecida por uma das suas escarpas intitulada a Falha da Vidigueira que divide o Alentejo em dois, funciona como biombo para as terras baixas que estão imediatamente a sul. Encerra-se aqui um microclima de uma amenidade estranha para esta parte do país, justamente reputada como a mais abrasiva em Portugal.

Ora, para um clima de excepção, vinhos de excepção. Já Leite de Vasconcellos dizia que, pelo século XVIII, os vinhos feitos na Cuba eram dos melhores néctares nacionais. Para sentirmos o que é que isso significa o melhor é meter pé no Rocim, uma parideira de vinhos da Vidigueira.

Sabendo desta uva providencial, espécie de dom congénito do solo cubense, na Herdade do Rocim a política é a do hands off. Deixa-se o vinho ser o que é e não aquilo que os outros querem que ele seja – um bom conselho até para a condição humana. Respeita-se a personalidade das castas e do chão. São bem feitos, biológicos, em modelo sustentável, com respeito pela videira, conservadores do ecossistema, a saber à terra de onde saem.

Tenho um exemplar aqui ao meu lado neste momento e é tão honesto que dá para conversar com ele.

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Ânforas na Herdade do Rocim

Velhas ânforas na Herdade do Rocim

Linhas paralelas de vinha na Herdade do Rocim

Linhas de vinha na Herdade do Rocim

O nascimento do Rocim

Um dia uma filha enóloga (Catarina Vieira) falou ao pai (José Ribeiro Vieira) de ter uns terrenos para fazer umas experiências vínicas. Um hectare bastaria. Valeu-nos o amor de pai que, sendo um empresário leiriense com capacidade de compra, decidiu adquirir herdade no Alentejo para entregar à sua menina. De um hectare pedido, a filha recebeu mais de cem. E assim começou, sem se saber como acaba. Tendo em conta que Catarina casou com um enólogo, Pedro Ribeiro, também ele elementar nos actuais trabalhos da Herdade do Rocim, e que entretanto já há descendência, supõe-se que este seja um negócio para futuras gerações – oxalá que sim, e que os nossos bisnetos possam provar o que nós aqui provamos hoje.

Parte da vinha já cá estava e não foi mexida. Outra foi mantida depois de recuperada. E algum know how na produção, mormente a baseada nos renascidos Vinhos de Talha, foi reaproveitado. Preservou-se praticamente tudo o que existia e construiu-se sobre isso.

O eixo reside na adega, espaço multifuncional, moderno, de baixa altura. É o ponto de encontro para todas as actividades, e são muitas: habituais provas de vinho que aqui ganham outro enlevo pela oferta variada que existe; refeições abastadas num restaurante que serve o melhor da gastronomia sulista acompanhada pela garrafeira local; vindimas acompanhadas com a gravidade do Cante; experiências personalizadas para criação do nosso próprio vinho mediante o blending de castas que entendermos; roteiros para compreender a simplicidade maravilhosa dos vinhos barrentos envelhecidos em ânforas; e depois temos o Amphora Wine Day, normalmente no primeiro fim de semana depois do dia de São Martinho, onde por tradição se destapam as talhas para a prova do vinho novo (episódios que se repetem noutros pontos do concelho, destacando-se o “Provando o Tareco“, em Vila Alva).

A Herdade do Rocim enquanto empresa, na verdade, já faz parte de um grupo que chega aos Açores, ao Douro, e à terra natal de Catarina Vieira – Leiria -, onde reactivaram uma vinha deixada pelo avô nas faldas da Serra de Aire. Mas a semente do leque mantém-se no Alentejo, de onde saem vinhos de eleição, como o selecto Grande Rocim, como o respeitável Olho do Mocho, como o inconfundível Amphora, e como o controverso Júpiter, cujo preço chega a ascender acima dos 1000 euros.

Prepara-se um lugar de dormidas em breve, talvez ainda no ano em que se escrevem estas linhas, o que só vai melhorar o tour. Afinal quem é que quer pegar no carro depois dos tintos alentejanos fazerem o seu trabalho?

Cuba do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Cuba, a vila alentejana e não a ilha caribenha, foi povoada desde épocas pré-romanas, embora tenha sido com Roma que ganhou relevância. Com efeito, é a nordeste da vila, num pequeno outeiro a que chamam de Moinhos do Tanquenho dado o par de moinhos de vento que por lá moram, que muito provavelmente um castelo romano foi alçado. Hoje temos dali um excelente palanque para a actual povoação - observa-se o baixo casario e, às suas cavalitas, as altitudes do silo de cereais e da torre das piscinas.

O burgo da Cuba é feito a esquadria, sobretudo o seu flanco sul, aquele que mais influência teve com a chegada da Estação de Caminhos de Ferro. A esse propósito, Pedro Ferro, na obra "Alto e Baixo Alentejo", chamou Cuba de "terra de cargas e descargas". Com efeito, aqui vinham quase todo os alentejanos residentes nessa mancha entre Évora e Beja à caça de mercadoria. Esta veia comercial cubense moldou as gentes e a terra. Viu uma modernização nos seus edifícios que poucas características guardam da arquitectura popular alentejana. Não obstante, na Cuba ainda temos a tradição sulista a funcionar em paralelo - nas adegas musicadas do Cante (que nunca cessem os cantadores cubenses que, com gravidade na boca e mini na mão, arrastam as sílabas numa dolência maior que em todo o resto do Alentejo), no activo lendário (veja-se a Lenda do Poço da Besta), na beleza interior da Igreja Matriz de São Vicente (o frontal de azulejos é gabado para lá da concelhia).

Como curiosidade, e puxando um pouco pela controvérsia, o Centro Cristóvão Colon está de portas abertas para quem se queira deixar convencer com a teoria da origem do descobridor ser não só portuguesa, mas muito em concreto cubense. Menos polémico é o Museu Literário Casa Fialho de Almeida, uma sentida homenagem da Cuba a um dos homens que mais beleza e veneno pôs nas palavras com que se criticava os dirigentes do país entre o final do século XIX e início do século XX.

Depois há o resto, exterior à sede de concelho, que não é pouco. Porém, quase tudo o que há para ver dentro das fronteiras do município de Cuba está no núcleo norte, mais ou menos entre as duas aldeias históricas de Vila Ruiva e Vila Alva. Na primeira destacam-se os vários frescos, na segunda as maravilhosas adegas onde se prova o barrento e romano Vinho de Talha. Lá param também dois monumentos fundamentais para a compreensão da história deste par de terriolas geminadas - a romana Ponte de Vila Ruiva, que é monumento nacional, e a Ermida da Senhora da Represa, onde há procissão por altura da Páscoa.

Mais para cima, próxima de Albergaria dos Fusos, fica a praia fluvial, novinha em folha, pronta a refrescar as tardes soalheiras. No flanco sul, apenas Faro do Alentejo serve de referência geográfica, sendo uma aldeia de poucas casas e cujo protagonismo apenas é reclamado aquando da sua Feira da Caça, da Pesca, e do Mundo Rural, que por acaso até acontece na mesma altura em que as talhas se abrem para a prova de vinho novo.

Falando em aberturas de talhas, e voltando à face setentrional do concelho, a não perder são os eventos lançados pela Herdade do Rocim e por Vila Alva, respectivamente designados Amphora Wine Day e Provando o Tareco, ambos realizados por ocasião do dia de São Martinho. No primeiro provamos os tintos de ânfora da quinta cubense, no segundo tragamos os tintos de ânfora das centenárias vinhas do município. Com jeitinho, dá para ir aos dois.

Onde comer

O correcto é dividir tudo o que se enquadrar na categoria de comes e bebes cubenses em dois grupos: os restaurantes e as adegas. Nos restaurantes o que mais importa é a comida, embora também se beba. Nas adegas o que interessa é a bebida, embora também se coma.

Antes de irmos a cada um deles, uma nota aos visitantes: estamos no Alentejo, e não num Alentejo qualquer, no interior alentejano. Em muitos estaminés não há menu. É entrar, sentar, e comer o que os donos recomendam. O processo não pode ser mais simples. Fico banzado com a quantidade de pessoas que não entende que nem tudo tem de estar escrito numa tábua. Se o chefe de cozinha ou o empregado não vos der escolha, aproveitem isso mesmo, o não ter de escolher.

Começando então pelos restaurantes, o Julião, na Cuba, mistura os pratos mais conhecidos do Alentejo, que andam quase sempre em torno do porco, com surpresas vindas do mar, como o lingueirão. Ainda na Cuba, e de estética mais moderna, temos o Essa Taberna, de abertura recente e cuja aposta recai na petiscaria. No extremo norte da concelhia aconselha-se a , um pequeno café que serve pratos regionais e onde as sopas - a de grão e a de cação - são a razão principal para se entrar.

Já as adegas - que, sejamos honestos, é o que realmente distingue o município -, o ideal é escolher Cuba ou Vila Alva, porque é lá que elas se concentram. A Casa de Monte Pedral, na Cuba, faz um cinquenta-cinquenta: ora é adega, ora é restaurante, e tem no feijão com cardo (ou carrasquinhas, como se preferir chamar) a figura de proa. E também na Cuba há uma bela casa típica alentejana que alberga a Adega da Lua onde o vinho é rei. Passando para Vila Alva, começo por recomendar que o leitor fique atento ao calendário e ao horário de abertura de cada adega, se for preciso ligue antes para confirmar se há gente para o servir, reforçando que a melhor maneira de as apanharmos todas de porta escancarada é nas festas das provas de vinho novo, em Novembro - nesse sentido, é famosa a Adega do Mestre Daniel por se ter tornado sede do projecto XXVI Talhas, bem como a Adega do Guel e a Adega de Panóias.

Onde dormir

Em primeiro lugar da lista de recomendações está a doce Casa do Alto da Eira, na aldeia de Albergaria dos Fusos, bem perto da recente praia fluvial. É uma tradicional casa alentejana que mistura xisto e tijolo com uma bela piscina harmonizada com a envolvente.

Entre Vila Ruiva e a sua famosa ponte encontramos o Turismo Rural Pedremoura, uma casa de campo cercada de vinhas e de sobreiros que vê nas bicicletas que empresta a melhor forma de pôr os hóspedes a tomar o pulso à terra alentejana.

A pequena mas arranjada Vila Girassol, em Vila Alva, garante bom leito a quem queira fazer um rally de adegas e dos seus vinhos de ânfora. Fica dentro dos limites da aldeia e serve de seguro aos exageros do tinto ou do branco.

Se a intenção for estar sediado na própria Cuba, então o melhor que há a fazer é fechar uma reserva no Cuba Real, um solar oitocentista reaproveitado para o turismo, munido com a maioria dos serviços mais requisitados pelo público.

Para conhecer mais promoções para dormidas na Cuba, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.19743 ; lon=-7.85552

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