Igreja de São Vicente (Cuba)

by | 24 Jul, 2023 | Baixo Alentejo, Lugares, Monumentos, Províncias, Religiosos

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Encorpado templo alentejano, cuja cor lembra os barros do Baixo Alentejo, a Igreja de São Vicente é também conhecida como a Igreja Matriz da vila de Cuba. Para além do orago, como o nome indica dedicado a São Vicente, compila ainda uma série de outras crenças cubenses que remontam aos séculos XVI, XVII e XVIII – algumas delas, entretanto, esquecidas.

A aldeia sem pároco

Cuba, apesar da sua antiguidade ir até tempos romanos ou mesmo anteriores a isso, só começou a crescer como parte do Reino de Portugal por volta do século XVI, e muito por culpa de uma obra aristocrática – o Paço dos Infantes, erguido por ordem de D. Luís, filho de D. Manuel I, como casa de repouso para as suas caçadas. Até 1600, nunca teve autonomia eclesiástica – andou desde sempre ligada à paróquia de São Cucufate, a norte da actual vila, estando esta sob a esfera de influência do Mosteiro de São Vicente de Lisboa.

Contudo, São Cucufate ficava a duas horas de distância a pé. Para os poucos cubenses que aqui residiam, celebrar a missa não era certamente prático. Como tal, ao longo do século XVI, e muito por arrasto da construção do Paço dos Infantes, novos empreendimentos aconteceram, a sua maioria de função religiosa, alguns dos quais posteriormente destruídos ou adaptados a outros ofícios (como por exemplo as desaparecidas Ermida do Espírito Santo e Igreja de São Sebastião Velho).

Um desses templos recém criados nesta nova dinâmica cubense quinhentista, e aquele podemos isolar como o mais importante de todos, é a Igreja de São Vicente, depois elevado a Igreja Matriz de Cuba. A obra foi feita em etapas, não de uma assentada, e é bem possível, se bem que não certo, que tenha vindo a ser montada sobre uma antiga Ermida de São Vicente onde antes missava um padre de Beja.

Foi preciso chegar o início do século XVII para Cuba se desvincular de São Cucufate, ganhando paróquia própria directamente dependente do Mosteiro de São Vicente de Lisboa.

Interior de azulejos na Igreja Matriz de São Vicente, na vila da Cuba

Forro de azulejos no interior da Igreja Matriz de São Vicente

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A Igreja de São Vicente por dentro e por fora

Uma possante fachada enquadrada por duas torres que sobem de patamares maiores para mais pequenos chega para se perceber que a igreja matriz da vila da Cuba é esta e mais nenhuma. Estendida ao comprido, amparada por vigorosos contrafortes, tem por cima do portão principal um pequeno painel de azulejos que denuncia o orago: São Vicente, o Mártir, aquele que no brasão de Lisboa está oculto pela lendária barca vigiada por dois corvos.

De fora, apercebemo-nos das proporções típicas do Renascimento com a actualização maneirista e o toque endémico do Estilo Chão – um monumento da sua época, portanto, assumindo que começou a ser armada na segunda metade do século XVI.

Por dentro, como antítese da límpida solidez que vemos no exterior, somos embrulhados num mar de azulejos – um vórtice de amarelo e azul inflacionado pela luminosidade da cerâmica envernizada.

Ao longe, cinco altares preenchem a cabeceira. Um na parede sul, dedicado ao Senhor dos Passos e que antes dava acesso à capela homónima. Outro na parede norte, originário de Vila Ruiva, que cultua Nossa Senhora do Socorro, que veio a tapar uma velha abertura para a Capela do Rosário Nova. E três na parede do fundo – do lado da Epístola temos um dedicado a Santo António, do lado do Evangelho vemos um que homenageava a Senhora do Rosário e que foi entretanto substituído pela Senhora de Fátima, e o altar-mor onde se destaca São Vicente. Todos eles reflectem passados ou ainda recentes cultos locais. Digno de nota é que os cubenses, tendo idolatrado tantos Santos e Senhores e Senhoras, acabem por dar primazia a São Vicente, um padroeiro dos vinicultores, numa terra tão apaixonada por vinho – vemos, aliás, imagens de parras e cachos de uva representados no interior da igreja, quer nas colunas da capela-mor, quer nas colunas do altar de Santo António.

Muito relevante é o frontal do altar-mor, também ele um trabalho de azulejaria de extremo cuidado onde reconhecemos motivos vegetalistas, aves, e na barra inferior um seguimento de animais exóticos, como leões e elefantes, misturados com animais autóctones, como coelhos e corços. A imagem destoa do que habitualmente vemos nas povoações do Baixo Alentejo, embora possamos encontrar exemplos muito similares a este dentro do concelho de Cuba, como é caso o frontal da Igreja Matriz de Vila Alva ou o frontal da Ermida de Nossa Senhora da Represa. Paulo Reis Godinho afirma que a extravagância poderá surgir das ligações da Igreja de São Vicente com o Mosteiro de São Vicente de Lisboa e que a imparidade do presente frontal resulta das beneficiações que o templo alentejano foi recebendo da capital, daí que o painel tenha uma inspiração imperial, bebedora da “experiência colonial portuguesa”, para usar as suas palavras.

Já neste século, a Câmara Municipal de Cuba decidiu acrescentar à igreja um acervo histórico ao qual intitulou Tesouro da Igreja Matriz e onde se destacam peças de ourivesaria, cálices e cruzes, pratas, bem como móveis de âmbito religioso e outro tipo de antiguidades.

Azulejos reproduzem pássaros e animais exóticos

O frontal de azulejos – a mais apreciada obra da Igreja Matriz de São Vicente

Cuba do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Cuba, a vila alentejana e não a ilha caribenha, foi povoada desde épocas pré-romanas, embora tenha sido com Roma que ganhou relevância. Com efeito, é a nordeste da vila, num pequeno outeiro a que chamam de Moinhos do Tanquenho dado o par de moinhos de vento que por lá moram, que muito provavelmente um castelo romano foi alçado. Hoje temos dali um excelente palanque para a actual povoação - observa-se o baixo casario e, às suas cavalitas, as altitudes do silo de cereais e da torre das piscinas.

O burgo da Cuba é feito a esquadria, sobretudo o seu flanco sul, aquele que mais influência teve com a chegada da Estação de Caminhos de Ferro. A esse propósito, Pedro Ferro, na obra "Alto e Baixo Alentejo", chamou Cuba de "terra de cargas e descargas". Com efeito, aqui vinham quase todo os alentejanos residentes nessa mancha entre Évora e Beja à caça de mercadoria. Esta veia comercial cubense moldou as gentes e a terra. Viu uma modernização nos seus edifícios que poucas características guardam da arquitectura popular alentejana. Não obstante, na Cuba ainda temos a tradição sulista a funcionar em paralelo - nas adegas musicadas do Cante (que nunca cessem os cantadores cubenses que, com gravidade na boca e mini na mão, arrastam as sílabas numa dolência maior que em todo o resto do Alentejo), no activo lendário (veja-se a Lenda do Poço da Besta), na beleza interior da Igreja Matriz de São Vicente (o frontal de azulejos é gabado para lá da concelhia).

Como curiosidade, e puxando um pouco pela controvérsia, o Centro Cristóvão Colon está de portas abertas para quem se queira deixar convencer com a teoria da origem do descobridor ser não só portuguesa, mas muito em concreto cubense. Menos polémico é o Museu Literário Casa Fialho de Almeida, uma sentida homenagem da Cuba a um dos homens que mais beleza e veneno pôs nas palavras com que se criticava os dirigentes do país entre o final do século XIX e início do século XX.

Depois há o resto, exterior à sede de concelho, que não é pouco. Porém, quase tudo o que há para ver dentro das fronteiras do município de Cuba está no núcleo norte, mais ou menos entre as duas aldeias históricas de Vila Ruiva e Vila Alva. Na primeira destacam-se os vários frescos, na segunda as maravilhosas adegas onde se prova o barrento e romano Vinho de Talha. Lá param também dois monumentos fundamentais para a compreensão da história deste par de terriolas geminadas - a romana Ponte de Vila Ruiva, que é monumento nacional, e a Ermida da Senhora da Represa, onde há procissão por altura da Páscoa.

Mais para cima, próxima de Albergaria dos Fusos, fica a praia fluvial, novinha em folha, pronta a refrescar as tardes soalheiras. No flanco sul, apenas Faro do Alentejo serve de referência geográfica, sendo uma aldeia de poucas casas e cujo protagonismo apenas é reclamado aquando da sua Feira da Caça, da Pesca, e do Mundo Rural, que por acaso até acontece na mesma altura em que as talhas se abrem para a prova de vinho novo.

Falando em aberturas de talhas, e voltando à face setentrional do concelho, a não perder são os eventos lançados pela Herdade do Rocim e por Vila Alva, respectivamente designados Amphora Wine Day e Provando o Tareco, ambos realizados por ocasião do dia de São Martinho. No primeiro provamos os tintos de ânfora da quinta cubense, no segundo tragamos os tintos de ânfora das centenárias vinhas do município. Com jeitinho, dá para ir aos dois.

Onde comer

O correcto é dividir tudo o que se enquadrar na categoria de comes e bebes cubenses em dois grupos: os restaurantes e as adegas. Nos restaurantes o que mais importa é a comida, embora também se beba. Nas adegas o que interessa é a bebida, embora também se coma.

Antes de irmos a cada um deles, uma nota aos visitantes: estamos no Alentejo, e não num Alentejo qualquer, no interior alentejano. Em muitos estaminés não há menu. É entrar, sentar, e comer o que os donos recomendam. O processo não pode ser mais simples. Fico banzado com a quantidade de pessoas que não entende que nem tudo tem de estar escrito numa tábua. Se o chefe de cozinha ou o empregado não vos der escolha, aproveitem isso mesmo, o não ter de escolher.

Começando então pelos restaurantes, o Julião, na Cuba, mistura os pratos mais conhecidos do Alentejo, que andam quase sempre em torno do porco, com surpresas vindas do mar, como o lingueirão. Ainda na Cuba, e de estética mais moderna, temos o Essa Taberna, de abertura recente e cuja aposta recai na petiscaria. No extremo norte da concelhia aconselha-se a , um pequeno café que serve pratos regionais e onde as sopas - a de grão e a de cação - são a razão principal para se entrar.

Já as adegas - que, sejamos honestos, é o que realmente distingue o município -, o ideal é escolher Cuba ou Vila Alva, porque é lá que elas se concentram. A Casa de Monte Pedral, na Cuba, faz um cinquenta-cinquenta: ora é adega, ora é restaurante, e tem no feijão com cardo (ou carrasquinhas, como se preferir chamar) a figura de proa. E também na Cuba há uma bela casa típica alentejana que alberga a Adega da Lua onde o vinho é rei. Passando para Vila Alva, começo por recomendar que o leitor fique atento ao calendário e ao horário de abertura de cada adega, se for preciso ligue antes para confirmar se há gente para o servir, reforçando que a melhor maneira de as apanharmos todas de porta escancarada é nas festas das provas de vinho novo, em Novembro - nesse sentido, é famosa a Adega do Mestre Daniel por se ter tornado sede do projecto XXVI Talhas, bem como a Adega do Guel e a Adega de Panóias.

Onde dormir

Em primeiro lugar da lista de recomendações está a doce Casa do Alto da Eira, na aldeia de Albergaria dos Fusos, bem perto da recente praia fluvial. É uma tradicional casa alentejana que mistura xisto e tijolo com uma bela piscina harmonizada com a envolvente.

Entre Vila Ruiva e a sua famosa ponte encontramos o Turismo Rural Pedremoura, uma casa de campo cercada de vinhas e de sobreiros que vê nas bicicletas que empresta a melhor forma de pôr os hóspedes a tomar o pulso à terra alentejana.

A pequena mas arranjada Vila Girassol, em Vila Alva, garante bom leito a quem queira fazer um rally de adegas e dos seus vinhos de ânfora. Fica dentro dos limites da aldeia e serve de seguro aos exageros do tinto ou do branco.

Se a intenção for estar sediado na própria Cuba, então o melhor que há a fazer é fechar uma reserva no Cuba Real, um solar oitocentista reaproveitado para o turismo, munido com a maioria dos serviços mais requisitados pelo público.

Para conhecer mais promoções para dormidas na Cuba, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.16748 ​; lon=-7.89059

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