Vale da Rosa

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O Vale da Rosa é uma herdade alentejana situada entre a vila de Ferreira do Alentejo e a aldeia do Alfundão. Ocupa cerca de 300 hectares de área, tendo no seu extremo meridional o reservatório de água de Ferreira do Alentejo.
O vale que lhe está no nome resulta da sua posição geográfica. Encontra-se no sopé da Serra do Pinheiro (um antigo nome usado para descrever toda esta área era precisamente Herdade do Pinheiro, da qual o Vale da Rosa fazia parte). Contudo, serra, neste caso, é substantivo um quanto exagerado – estamos na peneplanície do Baixo Alentejo, e portanto qualquer montículo pode levar com denominações excessivas.
Crónicas de uma herdade de vinha
A história do Vale da Rosa é a história de um pai e de um filho, ambos homens de ideias, ambos homens de trabalho, ambos comendadores.
Silvestre Ferreira, o pai, que na verdade era natural do Oeste português, tinha dedicado parte da sua vida à plantação de uva num vasto terreno para os lados de Ferreira do Alentejo. O negócio corria bem. Os solos barrentos circundantes de Beja garantiam abundância. A vinha dava uva suficiente para a venda nacional e até para a exportação, sobretudo para o Reino Unido. A família desdobrava-se para que cada filho se ocupasse de determinada parte do trabalho.
Entretanto, chegou 1974 e a revolução. Período de dúvida para os proprietários latifundiários, como sabemos. Em 1976, o pai Silvestre Ferreira testemunhou, como muitos, a ocupação das suas terras, fenómeno repetido um pouco por todo o Alentejo no período pós-revolucionário. Escolhe emigrar para o Brasil, como muitos da sua condição fizeram. Em 1978, um dos filhos de Silvestre Ferreira, de nome António Silvestre Ferreira, depois de várias viagens à experiência, emigra também para o Brasil à procura da vivência que um jovem sempre quer.
É nos contactos criados no Brasil e na sua aplicação em solo português que está a semente do que virá a ser o actual Vale da Rosa.
O pai Silvestre Ferreira, depois da estadia forçada no Brasil, resolve regressar a Portugal quando a herdade ocupada lhe é restituída. Soube pelo filho António que Itália desenvolveu uma particular forma de trabalhar a vinha através de uma protecção, em jeito de telhado, que garantia um adiamento da colheita, obrigando a uva a ficar maior e com mais sabor. E António, o filho, mantém uma vida académica no Brasil enquanto professor, que lhe vai permitindo absorver matérias fundamentais para a evolução posterior do Vale da Rosa. E assim é estabelecida uma parceria intergeracional – um filho no Brasil que gosta de experimentar, um pai em Portugal que gosta de executar. Por cá, Silvestre Ferreira pai escalava a produção. Por lá, Silvestre Ferreira filho testava variedades de uva que tinham a particularidade de não ter grainha.
Vem 1999. António Silvestre Ferreira resolve regressar a Portugal. Com ele vem a intenção de produzir a uva sem grainha que trabalhou no Brasil. Campos de vinha são plantados para esse efeito. No ano 2000, depois da morte do pai, herda parte da herdade e constitui a empresa Vale da Rosa. Ao mesmo tempo, um grande lago é criado para compensar a secura alentejana – a ele deram o nome de Alqueva, pedra angular do novo Alentejo. Cinco anos passam e as videiras trazem boas notícias: a uva sem grainha adaptou-se bem ao sol do céu, ao barro da terra, às águas do Alqueva.
Desde aí, a história do Vale da Rosa é um desenrolar de sucessos. O crescimento das vendas, a popularidade da uva, a diversificação de produto, a exportação para novos mercados. E, recentemente, a abertura da herdade a quem a pretende visitar.

Uva sem grainha do Vale da Rosa
Visitar o Vale da Rosa
Ferreira do Alentejo é concelho de azeite e uva. E por isso, quem quiser conhecer a economia rural mas, ao mesmo tempo, inovadora do município, deve bater à porta do Lagar do Marmelo, a noroeste da sede de concelho, e também à porta do Vale da Rosa, a nordeste. Entre um e outro são apenas quinze minutos de carro, talvez nem isso.
Esta recomendação é tão mais firme quanto mais próximos estivermos da vindima. No Vale da Rosa, há variedades que rebentam cedo e outras que são sacadas tardiamente, o que garante colheita em praticamente qualquer dia entre Junho e Outubro.
O programa inclui acompanhamento por um guia, uma viagem à herdade num tractor da casa, deambulações pelas oníricas galerias de parra e uva, e, claro, sessão de degustação do produto. Crianças podem ter actividades extras como, por exemplo, participarem na montagem de espantalhos. Em complemento, para quem está interessado em passar mais tempo no Vale da Rosa, podem ser feitos almoços com chefs convidados, concertos de cante alentejano, passeios de bicicleta e de charrete, ou participação no trabalho da colheita (pago em uva, um bom karma).
No final, a loja compromete-se a vender o que mais se quer: a cobiçada uva sem grainha, cartão de visita do Vale da Rosa, afamada dentro e fora de fronteiras.
A uva sem grainha do Vale da Rosa
Comecemos por desfazer mitos: a uva sem grainha não é produto do homem. Não é geneticamente alterada, nem quimicamente induzida, nem saída de uma sala de laboratório de um super-vilão corporativo. Pelo contrário, a uva sem grainha é filha da natureza e existe desde que há história do mundo. Sofria, contudo, de um problema – era mirrada. Não tinha arcaboiço. E por isso não tinha apelo.
Recentemente, investigadores californianos estabeleceram um objectivo: manter aquilo que as pessoas apreciam na uva de mesa (a ausência de semente) e corrigir aquilo que leva a que ninguém a consuma (o diminuto tamanho). Assim se abriram alas para a experimentação. Traçaram certa variedade com outra, e depois com outra, e depois voltaram atrás, e depois começaram de novo. O longo caminho da tentativa e erro. Ao fim de inúmeros testes e variadíssimas correcções, a uva sem grainha foi engordando. Ganhou valor comercial. Da Califórnia pulou para o mundo. E para a cabeça de um alentejano chamado António Silvestre Ferreira, à altura residente no Brasil, que viu nela uma solução para a dieta portuguesa.
Insistimos na uva sem grainha como se o Vale da Rosa não tivesse uva normal, com grainha. Mas tem. E de diferentes variedades. A uva com grainha continua a ser de grande importância para mercados tão elementares como o do vinho – é a grainha, a par com a casca, que dá aquela aspereza taninosa ao néctar.
No entanto, o Vale da Rosa é uma herdade que produz sobretudo uva de mesa. E como tal, a prioridade sobre que uva se deve produzir tem essa premissa em conta. A semente da uva não tem a mesma importância quando falamos de uma sobremesa ou de um acompanhamento para saladas. Na realidade, até há quem a dispense quando se trata de comer uva directamente do cacho. Evita-se a trabalheira de ter de abrir o fruto em dois para tirar as espinhas. Até porque desfazer uma uva é um pecado – o que substitui aquele crac da primeira dentada?
Ferreira do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir
A vasta maioria do que há para ver em Ferreira do Alentejo está na própria sede de concelho. Em primeiro lugar, no património religioso: a Capela do Calvário, símbolo maior da vila, é obrigatória, mas também a Igreja da Senhora da Conceição e a Igreja Matriz - que partilham a história de uma imagem que se crê ter ido com Vasco da Gama até à Índia -, merecem visita. Em segundo, o Museu Municipal - uma compilação da história e da cultura de Ferreira do Alentejo numa casa senhorial recuperada e de bonita fachada. Em terceiro, o bom gosto do Festival Giacometti, dedicado à cultura Ibérica, sobretudo a alentejana, homenageando da melhor maneira o homem que tanta recolha musical fez pelo país. E por último, a estátua da Ferreira, mulher de armas que deu nome à vila e que encontra eco noutras heroínas nacionais.
Para lá da urbe, Ferreira do Alentejo é uma exibição do Baixo Alentejo: planície infinita, casario caiado, chão de azeite e uva. Por falar em azeite, o Lagar do Marmelo disponibiliza pedagógicas visitas que devemos encarar como um primeiro passo para levar o nosso azeite mais a sério. E por falar em uva, o Vale da Rosa abre portas aos curiosos que queiram saber um pouco mais sobre a sua afamada uva sem grainha. Já na fronteira norte do concelho há um pequeno oásis, a Lagoa dos Patos, bem perto da Albufeira da Ribeira de Odivelas. E na fronteira oriental há a pequena povoação de Peroguarda, ainda hoje celebrada entre os locais como a mais alentejana do Alentejo, conforme afirmava a propaganda de António Ferro. Quanto ao artesanato, é fundamental conhecer as Cestas de Odivelas criadas na aldeia com o mesmo nome.
Na gastronomia local, destacam-se o Ferreirense (doce a lembrar uma Queijada de Sintra feito à base de amêndoa, ovos e Vinho do Porto) e o Cozido à Alentejana (um belo prato de tacho que mistura enchidos e carnes de porco com grão). Nos restaurantes recomendam-se O Chico (barato e simpático, com uma excelente Sopa de Cação) e O Portão (artesão da comida tradicional alentejana), ambos em Ferreira do Alentejo.
Quanto a camas confortáveis para passar a noite, destacam-se o Trendy and Luxe Bed & Breakfast (situado a sudoeste da vila), a Casa do Infante (uma elegante casa solarenga à saída de Ferreira do Alentejo) e o Monte da Floresta B&B (imediatamente a sul da vila).
Outras ofertas para dormir em Ferreira do Alentejo podem ser vistas em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=38.08981; lon=-8.08116