Festival Giacometti

by | 4 Out, 2022 | Baixo Alentejo, Festas, Junho, Províncias, Tradições

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O Festival Giacometti abre portas todos os anos, no primeiro fim de semana de Junho, e presta homenagem a uma personalidade incontornável da cultura portuguesa: Michel Giacometti. Fá-lo com excelência, combinando um cuidado extremo na selecção dos artistas e um criativo respeito pelos costumes locais.

Um festival ao bom gosto

Pequena confissão: na primeira vez que ouvi falar do Festival Giacometti achei que talvez as gentes de Ferreira do Alentejo e de Peroguarda ainda não estivessem preparadas para tal vanguardismo. Estávamos em 2018. Hoje, em 2022, e com uma pandemia pelo meio, festejo ao saber o quão errado andava. O público gostou – o de lá e o de fora. Tem repetido e retorna. Alentejanos, algarvios, lisboetas, até já portuenses não fazem da distância um obstáculo. E assim se faz uma tradição.

O meu cepticismo, contudo, tinha razão de ser. Combinar a arte clássica com a contemporânea metendo vincada vertente tradicional ao barulho não é para todos. Não que se esteja em território nunca antes navegado – há exemplos na música, na pintura, na dança, entre outros, cuja originalidade nasce precisamente do equilíbrio entre o novo e o velho, o popular e o erudito. Mas o cruzamento destas linguagens, apesar de não ser novo, está longe de ser simples. Facilmente se chega a um resultado pouco homogéneo, onde componentes contraditórias se juntam a martelo. Contudo, o concelho de Ferreira do Alentejo arriscou. E fez bem. O ponto de partida do Festival Giacometti, assumido pelo próprio, não podia ser mais óbvio: cuidamos raízes e lançamos rebentos, dizem os responsáveis. A forma como o consegue, aproveitando as idiossincrasias da típica terra alentejana, pondo uns jeans aos Grupos de Coral, só merece aplausos.

Tendo a premissa bem entranhada, já não nos devemos surpreender com o facto de, no mesmo espaço, podermos ver um cortejo de crianças a embalar chocalhos, ou ouvir nomes da pop nacional lado a lado com mestras dos adufes de Monsanto, ou celebrar um aniversário ao som do cante, ou mirar vídeos etnográficos acompanhados por beats de um DJ recrutado à metrópole, ou testemunhar guitarras eléctricas a competir com campaniças, ou provar a gastronomia do sul do país com embaixadores tão fortes quanto o gaspacho e o presunto e a cerveja artesanal local. Quem acha que o Alentejo parou no tempo, nunca cá pôs o pé.

Tudo isto e bem mais é entregue pelo Festival Giacometti quer em Ferreira do Alentejo (seja no Museu Municipal, no Jardim Municipal, na Casa do Vinho e do Cante, no Centro Cultural Manuel da Fonseca, no Largo Comendador José de Vilhena), quer em Peroguarda (quase sempre na Praça Professor Joaquim Roque), durante três dias do mês de Junho. O programa pode ser consultado no site oficial do festival.

O homem da Córsega que deu nome a tão virtuosa festa deve estar de sorriso rasgado no céu.

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Giacometti e o amor a Portugal

Há quem queira pôr o seu perfil político em destaque, mas Michel Giacometti foi sobretudo um homem bom. Um alentejano nascido na Córsega que dedicou metade da sua vida à árdua tarefa de recolher e promover o cancioneiro popular português, rumo tomado por outros músicos e etnógrafos como Fernando Lopes Graça (de quem era amigo) ou José Alberto Sardinha.

A surpresa de um diagnóstico que lhe atribuiu a doença da tuberculose e que o obrigou a procurar um lugar de clima seco para viver, aliada ao gosto que tinha pela canção mediterrânea, muito em particular a portuguesa, trouxeram-no até cá. Primeiro instalado em Trás-os-Montes, onde acabou por gravar muitas vozes transmontanas, dedicou-se depois, com apaixonada entrega, ao Alentejo que acabou por adoptar como casa.

Durante esse tempo foram milhares as gravações realizadas, muitas delas publicadas em áudio ou vídeo – salientam-se os LPs com capa de serapilheira que compilavam o cancioneiro popular de várias províncias (um dedicado ao Minho, outro às Beiras, outro ao Alentejo, outro a Trás-os-Montes, e outro ao Algarve) ou as expedições realizadas por todo o canto e recanto do país exibidas no programa “O povo que canta“.

Morreu com 61 anos, em Faro. Está enterrado, por decisão sua, na aldeia de Peroguarda, concelho de Ferreira do Alentejo, onde o Festival Giacometti nasceu.

Ferreira do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

A vasta maioria do que há para ver em Ferreira do Alentejo está na própria sede de concelho. Em primeiro lugar, no património religioso: a Capela do Calvário, símbolo maior da vila, é obrigatória, mas também a Igreja da Senhora da Conceição e a Igreja Matriz - que partilham a história de uma imagem que se crê ter ido com Vasco da Gama até à Índia -, merecem visita. Em segundo, o Museu Municipal - uma compilação da história e da cultura de Ferreira do Alentejo numa casa senhorial recuperada e de bonita fachada. Em terceiro, o bom gosto do Festival Giacometti, dedicado à cultura Ibérica, sobretudo a alentejana, homenageando da melhor maneira o homem que tanta recolha musical fez pelo país. E por último, a estátua da Ferreira, mulher de armas que deu nome à vila e que encontra eco noutras heroínas nacionais.

Para lá da urbe, Ferreira do Alentejo é uma exibição do Baixo Alentejo: planície infinita, casario caiado, chão de azeite e uva. Por falar em azeite, o Lagar do Marmelo disponibiliza pedagógicas visitas que devemos encarar como um primeiro passo para levar o nosso azeite mais a sério. E por falar em uva, o Vale da Rosa abre portas aos curiosos que queiram saber um pouco mais sobre a sua afamada uva sem grainha. Já na fronteira norte do concelho há um pequeno oásis, a Lagoa dos Patos, bem perto da Albufeira da Ribeira de Odivelas. E na fronteira oriental há a pequena povoação de Peroguarda, ainda hoje celebrada entre os locais como a mais alentejana do Alentejo, conforme afirmava a propaganda de António Ferro. Quanto ao artesanato, é fundamental conhecer as Cestas de Odivelas criadas na aldeia com o mesmo nome.

Na gastronomia local, destacam-se o Ferreirense (doce a lembrar uma Queijada de Sintra feito à base de amêndoa, ovos e Vinho do Porto) e o Cozido à Alentejana (um belo prato de tacho que mistura enchidos e carnes de porco com grão). Nos restaurantes recomendam-se O Chico (barato e simpático, com uma excelente Sopa de Cação) e O Portão (artesão da comida tradicional alentejana), ambos em Ferreira do Alentejo.

Quanto a camas confortáveis para passar a noite, destacam-se o Trendy and Luxe Bed & Breakfast (situado a sudoeste da vila), a Casa do Infante (uma elegante casa solarenga à saída de Ferreira do Alentejo) e o Monte da Floresta B&B (imediatamente a sul da vila).

Outras ofertas para dormir em Ferreira do Alentejo podem ser vistas em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.05879 ; lon=-8.11981

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