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Um monumento não precisa de ter mais de cem ou duzentos anos de história. Olhe-se para a modernidade do Lagar do Marmelo para tirar as dúvidas – um elegante bunker, situado a noroeste de Ferreira do Alentejo, harmoniza-se com a imensidão do olival (a chamada Herdade do Marmelo) e da barragem que o abastece com as águas do Barranco das Furnas (igualmente nomeada Barragem do Monte do Marmelo).

Um lagar que fornece o mundo

Quem faz a estrada entre Ferreira do Alentejo e Figueira dos Cavaleiros reparará que, por trás de uma primeira linha de pinheiros ou canaviais, há um cobertor de oliveiras alinhadas em corredores paralelos, num e noutro lado da estrada, até onde a vista consegue ir. Estamos a atravessar um dos maiores olivais do mundo, certamente o maior de Portugal, propriedade do Grupo Sovena.

A meio do caminho, há uma interrupção na monocromia. Um edifício que alia a monumentalidade à discrição aparece. Desenhado por Ricardo Bak Gordon, as linhas modernas da cobertura sugerem ser de recente construção. Lá dentro, uma desconcertante escada em caracol reforça a ideia. E confirma-se: abriu portas em 2010. Cá se montou um dos mais modernos projectos de produção de azeite.

Aqui se criam azeites que fornecem o mercado nacional, mas também o internacional, entre os quais o famoso Oliveira da Serra com todas as suas variantes. Não se trata apenas de uma marca de herdade ou de quinta, habitualmente de produção pouco massificada. O Lagar do Marmelo tem outra ordem de grandeza – produzem-se quase dez milhões de litros por ano. O supracitado Oliveira da Serra é, portanto, um azeite de escala internacional, produto de um grande embalador nacional (o outro será Victor Guedes, responsável pela Gallo).

As visitas podem e devem ser feitas. É necessária marcação, mas percebe-se porquê. A tecnicamente muito competente guia leva-nos num passeio que integra toda e qualquer tarefa, de montante a jusante, desde o momento da plantação até àquele por que todos esperam: a prova.

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Escada em caracol no Lagar do Marmelo

Escadas em caracol no Lagar do Marmelo, desenho de Ricardo Bak Gordon, execução de O Feliz

A produção no Lagar do Marmelo

Conforme falado, o Lagar do Marmelo oferece entradas para qualquer alma que queira viajar pelo reino do azeite.

Cá podemos visitar a barragem e parte do olival – seria impossível mostrá-lo todo, estamos defronte de mais de dez milhões de oliveiras plantadas. Na época da colheita, que ocupa praticamente todo o Outono e parte do Inverno, máquinas colossais vêm aqui percorrer as linhas de oliveiras. Encobrem a árvore, agitam-na lentamente, e, em baixo, recolhem as azeitonas que vão caindo depois do abanão, sem que estas alguma vez toquem o chão. A colheita é então carregada por tractores até ao lagar – o lugar da transformação do fruto em azeite.

A fase da transformação é explicada dentro do lagar. Aí compreendemos o aproveitamento de tudo aquilo que chega da colheita, até o que não serve para a criação de azeite – a água é tratada e reintroduzida na rega dos campos, as folhas de oliveira são moídas e reutilizadas na fertilização dos solos, os caroços usados como combustível nas caldeiras. Quanto ao que mais interessa, a azeitona, vai à moenda onde é esmigalhada até se tornar pasta de onde, depois, através de termobatedeira (que uniformiza o composto) e de centrifugadora (que num primeiro processo de centrifugação horizontal separa o azeite do bagaço, e num segundo processo de centrifugação vertical retira as últimas impurezas), se extrai aquilo que já poderemos considerar azeite.

As fases seguintes já pressupõem provas e testes de laboratório para catalogação do produto. O azeite é então armazenado dependendo da variedade de azeitona usada e da maturação a que foi sujeito. Não demora muito até que seja embalado e esteja próprio para consumo – o azeite, ao contrário do vinho ou do whisky, deve ser bebido ainda novo. A prova é feita no final – com pão para quem não se quer aventurar pela prova directa, em copo.

A ignorância portuguesa sobre o azeite português

Em Portugal, toda a gente consome azeite. O nosso instinto de colocá-lo em quase tudo advém de uma cultura que, especialmente no sul, é marcadamente mediterrânea – não desfazendo o maravilhoso azeite transmontano, que nada deve aos alentejanos ou algarvios. Contudo, não temos o culto do azeite, como espanhóis, gregos ou italianos têm. Se perguntarmos por três distintas variedades de azeitonas, ninguém sabe responder. A prova de azeite – isto é, beber azeite de um copo, simples, sem ajuda de nada que não a boca – ainda é encarada com um torcer de nariz.

Diria que a principal razão para não levarmos o azeite a sério prende-se, desde logo, pela nossa capacidade financeira, francamente abaixo de outros colegas europeus, como Espanha, França, ou Itália. Compra-se azeite pelo preço. E esse azeite serve para tudo. Nunca pela região e muito menos pela variedade da azeitona – ao contrário do que acontece nos vinhos onde muita gente não hesita em dizer se gosta mais de Alentejo, de Dão ou de Douro, por exemplo. Não concebemos sequer a hipótese de que há azeites próprios para carne, outros para peixe, e outros para saladas ou até sobremesas.

A restauração não ajuda. Regra geral, somos brindados com azeites fracos ou, quando não fracos, de pouca variedade. Seria útil que um ou dois restaurantes por província assumissem uma função pedagógica – que aprendessem sobre os azeites que vendem, e que aconselhassem quais os melhores mediante os pratos que listam no cardápio.

Ainda há pouco mencionou-se o vinho e o whisky. Não foi por acaso. Apreciar um azeite deve ser equiparado a provar um vinho ou um whisky. Há características associadas a determinados tipos de azeitona, e também a determinados graus de maturação. Tal como no vinho, temos castas de azeitonas que dão mais amargor, mais doçura, mais picante ao nariz e à língua. Tal como no whisky, temos quintas que produzem o seu próprio azeite ou embaladores que misturam azeites de diferentes quintas (o equivalente ao single malt e ao blend, no universo dos whiskies). Se gostamos de saber se à mesa está um Douro ou um Verde, porque não extrapolar tal gosto para as variadíssimas marcas, gamas, selecções especiais e edições limitadas de azeite que temos em Portugal?

Um bom começo será compreender a complexidade que um azeite pode ter. O Lagar do Marmelo dá um pequeno empurrão para esse mundo. O resto tem de vir de nós.

Ferreira do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

A vasta maioria do que há para ver em Ferreira do Alentejo está na própria sede de concelho. Em primeiro lugar, no património religioso: a Capela do Calvário, símbolo maior da vila, é obrigatória, mas também a Igreja da Senhora da Conceição e a Igreja Matriz - que partilham a história de uma imagem que se crê ter ido com Vasco da Gama até à Índia -, merecem visita. Em segundo, o Museu Municipal - uma compilação da história e da cultura de Ferreira do Alentejo numa casa senhorial recuperada e de bonita fachada. Em terceiro, o bom gosto do Festival Giacometti, dedicado à cultura Ibérica, sobretudo a alentejana, homenageando da melhor maneira o homem que tanta recolha musical fez pelo país. E por último, a estátua da Ferreira, mulher de armas que deu nome à vila e que encontra eco noutras heroínas nacionais.

Para lá da urbe, Ferreira do Alentejo é uma exibição do Baixo Alentejo: planície infinita, casario caiado, chão de azeite e uva. Por falar em azeite, o Lagar do Marmelo disponibiliza pedagógicas visitas que devemos encarar como um primeiro passo para levar o nosso azeite mais a sério. E por falar em uva, o Vale da Rosa abre portas aos curiosos que queiram saber um pouco mais sobre a sua afamada uva sem grainha. Já na fronteira norte do concelho há um pequeno oásis, a Lagoa dos Patos, bem perto da Albufeira da Ribeira de Odivelas. E na fronteira oriental há a pequena povoação de Peroguarda, ainda hoje celebrada entre os locais como a mais alentejana do Alentejo, conforme afirmava a propaganda de António Ferro. Quanto ao artesanato, é fundamental conhecer as Cestas de Odivelas criadas na aldeia com o mesmo nome.

Na gastronomia local, destacam-se o Ferreirense (doce a lembrar uma Queijada de Sintra feito à base de amêndoa, ovos e Vinho do Porto) e o Cozido à Alentejana (um belo prato de tacho que mistura enchidos e carnes de porco com grão). Nos restaurantes recomendam-se O Chico (barato e simpático, com uma excelente Sopa de Cação) e O Portão (artesão da comida tradicional alentejana), ambos em Ferreira do Alentejo.

Quanto a camas confortáveis para passar a noite, destacam-se o Trendy and Luxe Bed & Breakfast (situado a sudoeste da vila), a Casa do Infante (uma elegante casa solarenga à saída de Ferreira do Alentejo) e o Monte da Floresta B&B (imediatamente a sul da vila).

Outras ofertas para dormir em Ferreira do Alentejo podem ser vistas em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.08769 ; lon=-8.17407

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