Peroguarda
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Dirá um olhar desatento que Peroguarda não tem nada que ver. De facto, se descontarmos a curiosidade que é a Igreja de Santa Margarida, a preguiça de ir mais fundo leva-nos a concordar. A questão é que o mais bonito aqui não está diante dos olhos. São as histórias de uma comunidade vergada ao sol, as canções solenes dos homens e mulheres do cante, a tradição oral na Lenda do Pero Guarda, e a alma de Giacometti que perdura no povo.
Quem viaja só com os olhos, portanto, está a perder quase tudo o que Peroguarda tem de bom.
A lenda da fundação de Peroguarda
Peroguarda já foi escrito de outra forma: Pero Guarda. E diz a lenda que esse seria o nome de um homem abastado que terá construído umas quantas casas em torno de uma oliveira, perto de onde é hoje o adro da aldeia. Mas uma noite, um lobo que se escondia por trás do tronco da oliveira atacou o desgraçado, acabando por o matar. Antes da morte, ainda assim, o homem exclamou: “fiz Peroguarda e Alfundão, todos vivam como eu vivi, e ninguém morra como eu morri…”.
As casas fundadas por Pero Guarda lá ficaram e seriam o início do que hoje é a aldeia. Há mesmo uma rua com o nome rua do Lobo que desemboca na Igreja de Santa Margarida. Alfundão, a outra terra mencionada na lenda, encontra-se a norte de Peroguarda e partilha consigo, actualmente, a mesma freguesia.
A casa típica de Peroguarda
Um alentejo em aldeia
Peroguarda sofre do mesmo mal que quase todo o Baixo Alentejo: seca climática e seca demográfica – a água é pouca, ainda que haja depósitos relativamente próximos, como a Barragem do Pisão; a gente escasseia e a que fica está velha. No século XX, sendo verdade que o trabalho era duro, mal pago, e exercido sob um manto de calor do inferno, também é verdade que o trabalho existia – para o homem e para a mulher, aquele enquanto almocreve ou lavrador ou pastor ou supervisor, esta enquanto mondadeira ou ceifeira. Na actualidade, a lavoura é pouco mais do que uma memória. Fugiram os jovens do campo, para as fábricas, para a capital, para o estrangeiro.
E no entanto, olhando para alguns campos de trigo que circundam a povoação, percebemos que a terra não é propriamente estéril. Há bom cereal a ser semeado e colhido. Há verde como pouco se vê no sul aquém do Caldeirão. A própria arqueologia confirma que estes territórios foram povoados por quase todos os antepassados ibéricos – lusitanos, romanos, visigodos, mouros, cristãos da Reconquista -, o que atesta a atractividade dos solos.
De resto, a envolvência de Peroguarda reflecte outra realidade alentejana: o latifúndio das herdades ou, como disse Manuel Alegre, da terra pouca para muitos, terra muita para poucos.
O casario não podia ser mais regional. Casas rasas e alvas como um lenço de linho branco. Rodapés tórridos, azuis e amarelos, são a única emenda nas fachadas simples e monótonas. E, em cima, a telha alaranjada a quem compete a impossível tarefa de travar a radiação. Amontoam-se as moradias numa curta mancha humana, como se o problema de Peroguarda fosse a falta de espaço. Se descontarmos o isolado cemitério (onde Giacometti tem o seu eterno descanso), a malha urbana da aldeia é densa e concentrada.
E depois a cultura. Deveríamos dizer Peroguarda sempre a cantar. Foi aqui que Giacometti fez parte das suas recolhas, hoje eternizadas no cancioneiro nacional. O Cante Alentejano é a mais íntima expressão da aldeia, como uma segunda língua. Polifonias com vozes masculinas e femininas em sotaque carregado saem cá para fora nos principais momentos festivos – a antiga Festa de Santa Margarida e o moderno Festival Giacometti.
Talvez por tudo isto, por Peroguarda compilar todas as características de uma só província, a propaganda do antigo regime a tenha levado a concurso para a “Aldeia mais portuguesa de Portugal” enquanto representante do Alentejo. Acabou por vencer Monsanto. Isso não impediu que Peroguarda ficasse com a reputação de aldeia mais alentejana de Portugal. São vários os autores que criticam a distinção por vir da época de António Ferro e do Estado Novo. Como se hoje não se fizesse o mesmo – basta ver a quantidade de concursos dedicados às Maravilhas de Portugal.
No final, para o bem e para o mal, Peroguarda concentra toda a alma alentejana. Quem não gosta de Peroguarda, não gosta do Alentejo.
Ferreira do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir
A vasta maioria do que há para ver em Ferreira do Alentejo está na própria sede de concelho. Em primeiro lugar, no património religioso: a Capela do Calvário, símbolo maior da vila, é obrigatória, mas também a Igreja da Senhora da Conceição e a Igreja Matriz - que partilham a história de uma imagem que se crê ter ido com Vasco da Gama até à Índia -, merecem visita. Em segundo, o Museu Municipal - uma compilação da história e da cultura de Ferreira do Alentejo numa casa senhorial recuperada e de bonita fachada. Em terceiro, o bom gosto do Festival Giacometti, dedicado à cultura Ibérica, sobretudo a alentejana, homenageando da melhor maneira o homem que tanta recolha musical fez pelo país. E por último, a estátua da Ferreira, mulher de armas que deu nome à vila e que encontra eco noutras heroínas nacionais.
Para lá da urbe, Ferreira do Alentejo é uma exibição do Baixo Alentejo: planície infinita, casario caiado, chão de azeite e uva. Por falar em azeite, o Lagar do Marmelo disponibiliza pedagógicas visitas que devemos encarar como um primeiro passo para levar o nosso azeite mais a sério. E por falar em uva, o Vale da Rosa abre portas aos curiosos que queiram saber um pouco mais sobre a sua afamada uva sem grainha. Já na fronteira norte do concelho há um pequeno oásis, a Lagoa dos Patos, bem perto da Albufeira da Ribeira de Odivelas. E na fronteira oriental há a pequena povoação de Peroguarda, ainda hoje celebrada entre os locais como a mais alentejana do Alentejo, conforme afirmava a propaganda de António Ferro. Quanto ao artesanato, é fundamental conhecer as Cestas de Odivelas criadas na aldeia com o mesmo nome.
Na gastronomia local, destacam-se o Ferreirense (doce a lembrar uma Queijada de Sintra feito à base de amêndoa, ovos e Vinho do Porto) e o Cozido à Alentejana (um belo prato de tacho que mistura enchidos e carnes de porco com grão). Nos restaurantes recomendam-se O Chico (barato e simpático, com uma excelente Sopa de Cação) e O Portão (artesão da comida tradicional alentejana), ambos em Ferreira do Alentejo.
Quanto a camas confortáveis para passar a noite, destacam-se o Trendy and Luxe Bed & Breakfast (situado a sudoeste da vila), a Casa do Infante (uma elegante casa solarenga à saída de Ferreira do Alentejo) e o Monte da Floresta B&B (imediatamente a sul da vila).
Outras ofertas para dormir em Ferreira do Alentejo podem ser vistas em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=38.09182 ; lon=-8.04725