Senhora da Conceição de Ferreira do Alentejo

Nada menos que Padroeira de Portugal, a Senhora da Imaculada Conceição apresenta forte culto no país, muito em especial no Baixo Alentejo. No caso concreto de Ferreira do Alentejo, uma imagem sua é alvo de extraordinária crença: diz o povo que foi ela que acompanhou Vasco da Gama na sua viagem à Índia.

A imagem de Cristóvão Estribeiro

A tradição oral conta que Cristóvão Estribeiro, natural de Ferreira do Alentejo, foi amigo de longa data de Vasco da Gama. O descobridor da Índia terá mesmo escolhido Cristóvão Estribeiro como seu acompanhante nessa histórica jornada, entre outros nomes da sua confiança.

Ora, crêem os ferreirenses que, antes da partida, Vasco da Gama pediu às altas patentes que iriam a seu lado para trazerem uma imagem que desse boa fortuna à viagem. Todos o fizeram. Mas, das várias escolhas possíveis, Vasco da Gama elegeu a sugestão de Cristóvão Estribeiro – uma leve escultura de roca, de culto mariano, em particular da Imaculada Conceição.

Assim partiram os descobridores, fossem capitães ou marinheiros ou grumetes. E com eles ia a tal Senhora da Conceição, imagem de devoção e amuleto de aventura. Pelos vistos, deu sorte. E como repaga, Vasco da Gama devolveu a imagem a Cristóvão Estribeiro que, por sua vez, a ofereceu à sua terra-natal: Ferreira do Alentejo.

Acredita o povo de Ferreira do Alentejo que a dita escultura da Senhora da Conceição permaneceu na vila até hoje. Esteve guardada na Igreja da Senhora da Conceição e, neste momento, por questões de segurança, encontra-se na Igreja Matriz.

A Senhora da Conceição da Igreja Matriz

Cristóvão Estribeiro existiu mesmo – e residiu, de facto, em Ferreira do Alentejo. Chegou até a ser Tesoureiro da Índia, o que se alinha com a história contada pelo povo sobre a sua migração para oriente. Até aqui, nenhum dado histórico esbarra na crença da vila alentejana.

Contudo, Cristóvão Estribeiro viveu entre a segunda metade do século XVI e a primeira do século XVII. Vasco da Gama, pelo contrário, viveu entre a segunda metade do século XV e a primeira metade do século XVI. Ou seja, ou há um outro Cristóvão Ribeiro na ascendência daquele que citei, ou é impossível que estes dois homens se tenham conhecido, muito menos que tenham sido amigos como aqui se escreve.

Também a imagem guardada na Igreja Matriz de Ferreira do Alentejo poderá sofrer de algum exagero histórico. O mais provável é que tenha existido, realmente, uma escultura de grande devoção – e que a actual seja uma réplica dessa. Se era propriedade de Cristóvão Ribeiro, não sabemos. Se esteve na posse de Vasco da Gama, não sabemos. Se foi até à Índia, não sabemos. Aquilo que sabemos com certeza é que convivemos bem com esse mistério.

Resta dizer que esta fé não é exclusiva de Ferreira do Alentejo, havendo outras imagens a que se prestam antigos tributos relacionados com uma viagem feita pela altura dos Descobrimentos Portugueses. A título de exemplo, podemos mencionar a Senhora da Esperança que se crê ter ido com Pedro Álvares Cabral até Vera Cruz – está exposta na Igreja Matriz de Belmonte ou, dependendo da altura, na Igreja da Conceição. Descortina-se aqui, de certa forma, o carácter religioso, quase predestinado, do Portugal do além-mar.

Igreja da Senhora da Conceição

Ferreira do Alentejo – o que fazer, onde comer, onde dormir

A vasta maioria do que há para ver em Ferreira do Alentejo está na própria sede de concelho. Em primeiro lugar, no património religioso: a Capela do Calvário, símbolo maior da vila, é obrigatória, mas também a Igreja da Senhora da Conceição e a Igreja Matriz - que partilham a história de uma imagem que se crê ter ido com Vasco da Gama até à Índia -, merecem visita. Em segundo, o Museu Municipal - uma compilação da história e da cultura de Ferreira do Alentejo numa casa senhorial recuperada e de bonita fachada. Em terceiro, o bom gosto do Festival Giacometti, dedicado à cultura Ibérica, sobretudo a alentejana, homenageando da melhor maneira o homem que tanta recolha musical fez pelo país. E por último, a estátua da Ferreira, mulher de armas que deu nome à vila e que encontra eco noutras heroínas nacionais.

Para lá da urbe, Ferreira do Alentejo é uma exibição do Baixo Alentejo: planície infinita, casario caiado, chão de azeite e uva. Por falar em azeite, o Lagar do Marmelo disponibiliza pedagógicas visitas que devemos encarar como um primeiro passo para levar o nosso azeite mais a sério. E por falar em uva, o Vale da Rosa abre portas aos curiosos que queiram saber um pouco mais sobre a sua afamada uva sem grainha. Já na fronteira norte do concelho há um pequeno oásis, a Lagoa dos Patos, bem perto da Albufeira da Ribeira de Odivelas. E na fronteira oriental há a pequena povoação de Peroguarda, ainda hoje celebrada entre os locais como a mais alentejana do Alentejo, conforme afirmava a propaganda de António Ferro. Quanto ao artesanato, é fundamental conhecer as Cestas de Odivelas criadas na aldeia com o mesmo nome.

Na gastronomia local, destacam-se o Ferreirense (doce a lembrar uma Queijada de Sintra feito à base de amêndoa, ovos e Vinho do Porto) e o Cozido à Alentejana (um belo prato de tacho que mistura enchidos e carnes de porco com grão). Nos restaurantes recomendam-se O Chico (barato e simpático, com uma excelente Sopa de Cação) e O Portão (artesão da comida tradicional alentejana), ambos em Ferreira do Alentejo.

Quanto a camas confortáveis para passar a noite, destacam-se o Trendy and Luxe Bed & Breakfast (situado a sudoeste da vila), a Casa do Infante (uma elegante casa solarenga à saída de Ferreira do Alentejo) e o Monte da Floresta B&B (imediatamente a sul da vila).

Outras ofertas para dormir em Ferreira do Alentejo podem ser vistas em baixo: