Rota do Caldeirão (Torre de Moncorvo)

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Os cinco quilómetros da Rota do Caldeirão, no concelho de Torre de Moncorvo, não têm uma beleza de encher o olho. Podem até nem ser o mais feérico dos percursos apresentados pelo município. Mas ajudam a perceber a geografia moncorvense, e como ela muda de um lado para o outro do rio Sabor.
Da Terra Fria para a Terra Quente
Já o dissemos, mas se for preciso voltamos ao assunto: Torre de Moncorvo fixa-se numa zona de transição entre a Terra Quente e a Terra Fria transmontana. A primeira, oficialmente, alberga cinco concelhias – Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães. A segunda, outras cinco – Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda, Mogadouro. Entre uma e outra, há municípios que não se encaixam totalmente numa ou noutra, tidos como terras de transição.
Torre de Moncorvo é bom exemplo da transição da Terra Quente para a Terra Fria. Se calhar o melhor dos exemplos. Da Terra Quente tem quase toda a zona a poente do Sabor, onde apanha boa parte do milagre fecundo que é o Vale da Vilariça, a ocidente do concelho, rasgado pela ribeira homónima. Da Terra Fria leva com as alturas nordestinas da Serra do Reboredo, quase a atingir os mil metros de altitude, e onde se apoia a sede de concelho. No meio, ficam territórios que misturam características de um e outro lado, sobranceiros ao rio Douro, dominados por vinha e amendoal.
Regra geral, quem vai a Moncorvo fica a conhecer a parte fria e a parte mista do concelho. É lá que está a vila. É lá que estão os miradouros. É lá que estão as quintas produtoras de vinho duriense. A dita Terra Quente moncorvense, a oeste do Sabor, passa esquecida. Fica lá para os rebordos de Carrazeda, longe dos principais pontos de interesse.
Aqui entra Castedo, pequena freguesia no extremo ocidente do município, com o percurso circular cunhado como Rota do Caldeirão, nome dado em homenagem ao ponto alto da caminhada – um pequeno lago circular, criado pela água que, na dura pedra granítica, funcionou como picareta.
A Rota do Caldeirão como viagem ao outro pedaço de Moncorvo
A Rota do Caldeirão parte do Largo de São Sebastião, no mesmo ponto onde uma outra também de ali sai: a Rota da Moura Encantada. Mas enquanto esta última passa em lugares místicos da freguesia, como a Pala da Moura ou a Pedra da Fertilidade, a oriente de Castedo, a do Caldeirão prossegue para a fronteira ocidental de Torre de Moncorvo, com um desnível de duzentos metros que nos leva até à beira do Ribeiro Grande.
Começa por nos mandar para o meio da aldeia de Castedo e assinala a simplicidade do seu património, nas capelas, na igreja, nas fontes. Mas vê-se mais do que isso. Olhamos para uma terra seca, poeirenta, de oliveiras e sobreiros. Não fosse o relevo, que acima dos seiscentos metros de altitude nem deixa ver o que aqueles vales escavaram lá para baixo, e poderíamos estar no Baixo Alentejo, tal o sol, tal a cor.
A austeridade da paisagem viaja connosco. Assim a temos, de todos os lados, até o trilho guinar para ocidente, encosta abaixo. Se formos fora dos meses abrasivos, o Ribeiro Grande pode anunciar-se pelo som das águas nos cascos. Nessa época, com grande probabilidade, temos o lago do Caldeirão bem servido, um tanque natural a convidar ao banho que bem merecido é, depois de mais de um par de quilómetros a dar corpo ao astro. Contudo, a partir de Junho e até Setembro, é possível que o Caldeirão se assemelhe a uma banheira de riacho rasteirinho. Sem cascata. Sem corrente. A água que, de alguma forma, entrou, não consegue sair. Nesses casos, por muito que custe, o melhor é seguir passo.
Voltamos ao terreno, agora para trepar a encosta. Em torno, de mão humana, só a agricultura e umas sobras de moinhos que antes devem ter ajudado a dar pão a esta gente. O restante é o resultado da relação entre a calidez do clima e a crueldade da terra.
No final, as setas guiam-nos por um curto desvio até à Barragem de Palameiro. Até nela se reflecte a escassez de água. Não é mais do que um pequeno lago amparado por uma parede de terra com cerca de cento e cinquenta metros de comprimento. Uns passos mais à frente e retornamos a Castedo.
Menos de duas horas depois de começarmos, finito. Foi a caminhada da nossa vida? Certamente que não. Mas chega para compreender o que é isso da Terra Quente invadir território de Moncorvo.
Torre de Moncorvo – o que fazer, onde comer, onde dormir
Não sendo oficialmente parte da Terra Quente transmontana - como o são Vila Flor, Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, e Macedo de Cavaleiros -, Torre de Moncorvo acumula ainda muitas das suas características: um tempo quente e seco no Verão, com chuvas reservadas para os meses invernais, alternadas com raros momentos de neve. Estando num enclave entre o rio Sabor e o rio Douro, que inclui uma mancha do viçoso Vale da Vilariça a norte, podemos concluir que o concelho foi de certa forma abençoado com bons cursos fluviais e uma boa dose de calor, sorte que só é contrariada pelas frias altitudes da Serra do Reboredo, onde a sede de concelho repousa a meia encosta.
É nesta dicotomia, entre a magnitude do Reboredo que lembra a Terra Fria, e o vale onde a ribeira da Vilariça traz boa fortuna às colheitas que lembra a Terra Quente, que devemos conhecer o município. No primeiro caso, o do Reboredo, com uma viagem atribulada entre os caminhos batidos que levam a vários miradouros serranos e, já agora, à histórica aldeia de Mós, deixada para trás pelo tempo. No segundo caso, o do Vale da Vilariça - sustento da ovelha Churra da Terra Quente -, com um roteiro pelas quintas vinícolas do Douro Superior, havendo várias por onde escolher, mas destacando a Quinta do Couquinho (convém ligar para sondar se pode haver visita) ou a Quinta da Terrincha (com possibilidade de pernoitar num solar oitocentista).
Nas zonas fronteiriças da concelhia guardam-se as horas para o turismo de natureza, sobretudo as que metem água ao barulho - no eixo ocidental temos o Caldeirão, um poço natural acedido por uma pequena rota pedestre mas que nem sempre tem água suficiente para banhos no pico do estio, e na confluência do Sabor com o Douro temos a Praia Fluvial da Foz do Sabor, justamente a mais concorrida da região, com uma envolvência que tão depressa não se esquece.
Já Torre de Moncorvo, a vila, vale muito a pena. Sendo verdade que do seu castelo já mal consigamos ver alguma coisa sem recorrer ao uso da imaginação apoiado em um ou outro muro fortificado recentemente requalificado, também não é mentira que os moncorvenses têm muito para contar da sua terra - sobre a judiaria e como ela foi uma espécie de quartel das comunidades judaicas transmontanas, sobre o ferro e as minas que abriram para o caçar, sobre a Basílica Menor da Senhora da Assunção e a ambição de aqui se ter uma nova diocese que dominasse todo o Nordeste. De caminho, e porque quase todo o comércio municipal se concentra na sede de concelho, aproveite-se para comprar e levar na bagagem o famoso Queijo Terrincho e a Amêndoa Coberta de Moncorvo, que por acaso nem casam mal um com o outro.
Fora da vila, há pelo menos dois exemplos de património religioso que devem ser mirados: a Capela da Senhora da Teixeira, que com boa dose de exagero à mistura é apelidada como a Capela Sistina de Trás-os-Montes; e aquela que é conhecida, entra várias designações, por Igreja das Três Marias, onde as paredes falam mais do que pensamos. E se por acaso viajarmos por estas paragens no início de Novembro, faça-se o possível para assistir ao dia de São Martinho na povoação de Maçores, uma tradição fora do comum até para quem está habituado a tradições fora do comum. Caso Novembro não seja hipótese, lembrem-se de Moncorvo no final de Fevereiro, quando as amendoeiras espetam as suas flores para fora e enchem os campos de rosa e branco - é sempre bom recordar como os maiores espectáculos que a natureza nos dá não têm preço.
Onde comer
Primeiro, uma curiosidade: se forem refrescar-se à Foz do Sabor, porque é lá que está a principal praia fluvial de Moncorvo, lembrem-se do Lameirinho, um pequeno estaminé que serve peixe de rio frito.
Fora isso, é imperativo conhecer a gastronomia transmontana pelas mãos da senhora Dina, que governa a Taberna do Carró, um aconchegante lugar onde as mesas são cobertas com padrões de piquenique, e a Posta à Mirandesa é feita no fogo. Conta também com loja anexa, com venda de produtos regionais. E ademais, temos o Lagar, restaurante que deambula pelas iguarias de Trás-os-Montes - em especial pela amêndoa de Moncorvo, sobretudo nas sobremesas. Tem cardápio rotativo, e óptimas favas guisadas.
Onde dormir
O melhor sítio para ficar em Torre de Moncorvo é a Quinta da Terrincha, num terreno vinhateiro abençoado pelo Vale da Vilariça (que, já agora, é o principal fornecedor do maravilhoso pequeno-almoço). Tem na casa principal os quartos mais luxuosos e conta com lareira, que é sempre um bombom nos meses mais frios. É, contudo, também um dos sítios mais caros do concelho, embora não excessivamente, e já sabemos que o bom custa dinheiro.
Mais modesto é o Capalonga, uma bonita casa transmontana aproveitada para Alojamento Local na aldeia de Larinho. Por dentro ainda vemos como era o típico casario do interior Norte português. Melhor para repouso, já que está longe das principais urbes.
Para conhecer mais promoções para dormidas em Torre de Moncorvo, ver em baixo.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.23099; lon=-7.17165