Monumentos

Natureza

Povoações

Festas

Tradições

Lendas

Insólito

Roteiros

Terrincho, no feminino ou no masculino, tomou praticamente o nome às terras fecundas do Vale da Vilariça, pelo menos quando se pensa em boa comida e boa dormida. Se é a ovelha Terrincha a que produz leite para o Queijo Terrincho, se é o cordeiro Terrincho que dá gosto ao famoso Borrego Terrincho DOP, falaremos agora de outras terrinchices, nomeadamente da Quinta da Terrincha, essa maravilha plantada entre o ribeiro do Poio e a ribeira da Vilariça, no sopé de uma serrania que liga o Monte de São João (a norte) e o Monte de São Gregório (a sul).

De lá, do solar do século XIX agora convertido em hotel de luxo, e das várias villas reaproveitadas de antigas residências de quem lá laborava, temos das melhores fotografias que se podem tirar ao dominador Vale da Vilariça, um oásis de terra fértil no meio da aridez transmontana do Douro Superior.

Herdade de herança romana

É plausível que os terrenos da Vilariça fossem antes povoados por romanos, ou mesmo por galaicos. É, de resto, sabido que Roma aproveitou as minas destas áreas, mormente as do Reboredo, mas também o chão viçoso por que é reconhecido o Vale da Vilariça. Nos hectares dedicados à produção de azeite da Quinta da Terrincha, as sobras dos muros deixam antever esse passado.

No entanto, foi por altura da fundação da nacionalidade que a quinta se desenvolveu – primeiro com administração régia, depois, pelo final da Idade Média, transferida para os feudos senhoriais, muito provavelmente como recompensa por apoio militar na causa da expansão portuguesa no norte de África, como foi apanágio da época.

Esteve nas mãos dessas linhagens da fidalguia durante séculos, e continuou após a construção do actual solar e da capela, ambos de origem oitocentista. Foi apenas no século XX, com a nova classe burguesa cimentada na organização social de Portugal, que a Quinta da Terrincha deixou de ter sangue azul, e no final do mesmo século, depois de um mais um desastre incendiário, tão típico do Centro e Norte português, acabou comprada pela família Seixas Pinto, sendo gerida e promovida e administrada desde aí por três diferentes gerações de mulheres.

Siga-nos nas Redes Sociais

O azeite e o vinho

Como comer é viajar, lembremos que a Quinta da Terrincha produz vinagre, mel, compota de fruta, entre muita outra coisa, e que tem tudo isso disponível para nos regalar. Ainda há o queijo, o célebre Terrincho DOP ou Queijo Terrincho, feito por cá, e que leva pontos extra pelo picante.

Mas tendo de escolher – que não temos -, ponha-se a mão nos vinhos, que há para vários gostos e para várias bolsas, e no azeite, de produção biológica. Com efeito, praticamente dois terços da quinta estão preenchidos com oliveiras e vinha, protegidos pelo biombo natural que a serra levanta. Provar esta uva em vinho é uma obrigação. Regar as pratadas servidas no restaurante com o sumo da azeitona cá varejada é outra.

Há mais quintas a sarapintar as contínuas elevações e correspondentes talvegues do concelho de Torre de Moncorvo. Eu, por exemplo, tive oportunidade de visitar (e degustar) a Quinta do Couquinho, bem à beira daqui, e é um encanto. Mas a Terrincha, talvez por trazer o nome do queijo e da carne que tanto me põe a boca em água, salta para a linha da frente no enoturismo moncorvense – mais do que um hotel de referência, é um histórico solar oitocentista que se prova à mesa com azeite e vinho.

Torre de Moncorvo – o que fazer, onde comer, onde dormir

Não sendo oficialmente parte da Terra Quente transmontana - como o são Vila Flor, Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, e Macedo de Cavaleiros -, Torre de Moncorvo acumula ainda muitas das suas características: um tempo quente e seco no Verão, com chuvas reservadas para os meses invernais, alternadas com raros momentos de neve. Estando num enclave entre o rio Sabor e o rio Douro, que inclui uma mancha do viçoso Vale da Vilariça a norte, podemos concluir que o concelho foi de certa forma abençoado com bons cursos fluviais e uma boa dose de calor, sorte que só é contrariada pelas frias altitudes da Serra do Reboredo, onde a sede de concelho repousa a meia encosta.

É nesta dicotomia, entre a magnitude do Reboredo que lembra a Terra Fria, e o vale onde a ribeira da Vilariça traz boa fortuna às colheitas que lembra a Terra Quente, que devemos conhecer o município. No primeiro caso, o do Reboredo, com uma viagem atribulada entre os caminhos batidos que levam a vários miradouros serranos e, já agora, à histórica aldeia de Mós, deixada para trás pelo tempo. No segundo caso, o do Vale da Vilariça - sustento da ovelha Churra da Terra Quente -, com um roteiro pelas quintas vinícolas do Douro Superior, havendo várias por onde escolher, mas destacando a Quinta do Couquinho (convém ligar para sondar se pode haver visita) ou a Quinta da Terrincha (com possibilidade de pernoitar num solar oitocentista).

Nas zonas fronteiriças da concelhia guardam-se as horas para o turismo de natureza, sobretudo as que metem água ao barulho - no eixo ocidental temos o Caldeirão, um poço natural acedido por uma pequena rota pedestre mas que nem sempre tem água suficiente para banhos no pico do estio, e na confluência do Sabor com o Douro temos a Praia Fluvial da Foz do Sabor, justamente a mais concorrida da região, com uma envolvência que tão depressa não se esquece.

Torre de Moncorvo, a vila, vale muito a pena. Sendo verdade que do seu castelo já mal consigamos ver alguma coisa sem recorrer ao uso da imaginação apoiado em um ou outro muro fortificado recentemente requalificado, também não é mentira que os moncorvenses têm muito para contar da sua terra - sobre a judiaria e como ela foi uma espécie de quartel das comunidades judaicas transmontanas, sobre o ferro e as minas que abriram para o caçar, sobre a Basílica Menor da Senhora da Assunção e a ambição de aqui se ter uma nova diocese que dominasse todo o Nordeste. De caminho, e porque quase todo o comércio municipal se concentra na sede de concelho, aproveite-se para comprar e levar na bagagem o famoso Queijo Terrincho e a Amêndoa Coberta de Moncorvo, que por acaso nem casam mal um com o outro.

Fora da vila, há pelo menos dois exemplos de património religioso que devem ser mirados: a Capela da Senhora da Teixeira, que com boa dose de exagero à mistura é apelidada como a Capela Sistina de Trás-os-Montes; e aquela que é conhecida, entra várias designações, por Igreja das Três Marias, onde as paredes falam mais do que pensamos. E se por acaso viajarmos por estas paragens no início de Novembro, faça-se o possível para assistir ao dia de São Martinho na povoação de Maçores, uma tradição fora do comum até para quem está habituado a tradições fora do comum. Caso Novembro não seja hipótese, lembrem-se de Moncorvo no final de Fevereiro, quando as amendoeiras espetam as suas flores para fora e enchem os campos de rosa e branco - é sempre bom recordar como os maiores espectáculos que a natureza nos dá não têm preço.

Onde comer

Primeiro, uma curiosidade: se forem refrescar-se à Foz do Sabor, porque é lá que está a principal praia fluvial de Moncorvo, lembrem-se do Lameirinho, um pequeno estaminé que serve peixe de rio frito.

Fora isso, é imperativo conhecer a gastronomia transmontana pelas mãos da senhora Dina, que governa a Taberna do Carró, um aconchegante lugar onde as mesas são cobertas com padrões de piquenique, e a Posta à Mirandesa é feita no fogo. Conta também com loja anexa, com venda de produtos regionais. E ademais, temos o Lagar, restaurante que deambula pelas iguarias de Trás-os-Montes - em especial pela amêndoa de Moncorvo, sobretudo nas sobremesas. Tem cardápio rotativo, e óptimas favas guisadas.

Onde dormir

O melhor sítio para ficar em Torre de Moncorvo é a Quinta da Terrincha, num terreno vinhateiro abençoado pelo Vale da Vilariça (que, já agora, é o principal fornecedor do maravilhoso pequeno-almoço). Tem na casa principal os quartos mais luxuosos e conta com lareira, que é sempre um bombom nos meses mais frios. É, contudo, também um dos sítios mais caros do concelho, embora não excessivamente, e já sabemos que o bom custa dinheiro.

Mais modesto é o Capalonga, uma bonita casa transmontana aproveitada para Alojamento Local na aldeia de Larinho. Por dentro ainda vemos como era o típico casario do interior Norte português. Melhor para repouso, já que está longe das principais urbes.

Para conhecer mais promoções para dormidas em Torre de Moncorvo, ver em baixo.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.23889​; lon=-7.08496

Siga-nos nas Redes Sociais