Praia Fluvial da Foz do Sabor

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Era uma vez um rio. Um rio selvagem, talvez o último rio selvagem do país, de nome estranho, Sabor, de pronúncia ainda mais estranha, sá-bor, nascido lá para as montanhas da província leonesa, e visitante da beleza do Montesinho quando entra em Portugal.
A sul dele, havia um plano para uma grande barragem geradora de electricidade para várias centenas de milhar de pessoas. Ficaria poucos quilómetros a montante da foz do rio Côa, um dos principais afluentes do Douro. Para mal dos investidores, uma galeria de gravuras rupestres salva pela UNESCO por levar com o carimbo de Património da Humanidade fez com que a sua construção fosse interrompida. A segunda opção seria montar muro semelhante num outro curso fluvial, também ele um afluente do Douro, esse tal de nome estranho, o rio Sabor.
Apesar das forças ecologistas que se organizaram para bloquear o início da obra, a coisa avançou. A nova Barragem do Baixo Sabor tornou-se uma das maiores do país, em dimensão e em capacidade de produção energética. Um brutal empreendimento que reorientou boa parte da província transmontana. A pesca foi penalizada. Os ecossistemas, dizem os ambientalistas, também.
A montante da barragem recentemente levantada, a paisagem mudou drasticamente: do corrimento imparável de um rio violento, nasceram lagos, os ditos Lagos do Sabor, desde Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, terminando em Torre de Moncorvo. São espelhos de água sedentários que o turismo agora aproveita, afinal o calor de Trás-os-Montes é infernal e o mar fica longe.
E a jusante da mesma barragem, exactamente no ponto de encontro entre o Sabor e o Douro, nasceu uma praia fluvial, provavelmente uma de muitas das que ainda estão por aparecer no futuro: a Praia Fluvial da Foz do Sabor, encostada à aldeia piscatória com o mesmo nome.
Do Sabor para o Douro
A Praia Fluvial da Foz do Sabor tem tapete de relva, o que é bom – deixemos a areia para o litoral. E a água, quando o pé lá entra, surpreende. Não é a gélida água de rio a que a pele se acostumou. Aqui, talvez por o sol bater de chapa e da corrente estar amainada pelos diques, temos mergulhos que se calhar nos lembram o Algarve.
Está devidamente enquadrada no meio de arvoredo, amieiros e não só, e complementada com alguns dos habituais serviços disponíveis nas praias fluviais nacionais – estacionamento, parque de merendas, canoas e gaivotas, atracções para as crianças, as fundamentais casas de banho, etcétera.
Além de ser um dos raros locais de banho na região, o que a torna um dos mais atractivos destinos moncorvenses é, no entanto, a envolvência. A fisgar os montes vinhateiros durienses, terrenos onde frequentemente pairam abutres do Egipto, nadam lontras, saltam ginetas, a Foz do Sabor é um doce para os olhos. Para os olhos e para a boca. Se subirmos até ao Lameirinho, a um quilómetro de distância da praia, e tivermos a decência de pedir os pratos possíveis daquela terra – peixe de rio, claro, ora frito, ora assado, acompanhado com arroz ou verdura do Vale da Vilariça.
No Verão, fica ocupada à séria. Com gente da terra e com gente que já foi da terra – os emigrantes regressados de França e da Alemanha, já com uma ou duas gerações na sua descendência a acompanhar. Aproveitam as consequências de uma controversa barragem, como será de esperar. Podiam queixar-se daquele imenso monolito. Mas nisto, vêem o copo meio cheio. O Sabor mudou. De embrutecido a amadurecido. Temos de mudar com ele.
Torre de Moncorvo – o que fazer, onde comer, onde dormir
Não sendo oficialmente parte da Terra Quente transmontana - como o são Vila Flor, Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, e Macedo de Cavaleiros -, Torre de Moncorvo acumula ainda muitas das suas características: um tempo quente e seco no Verão, com chuvas reservadas para os meses invernais, alternadas com raros momentos de neve. Estando num enclave entre o rio Sabor e o rio Douro, que inclui uma mancha do viçoso Vale da Vilariça a norte, podemos concluir que o concelho foi de certa forma abençoado com bons cursos fluviais e uma boa dose de calor, sorte que só é contrariada pelas frias altitudes da Serra do Reboredo, onde a sede de concelho repousa a meia encosta.
É nesta dicotomia, entre a magnitude do Reboredo que lembra a Terra Fria, e o vale onde a ribeira da Vilariça traz boa fortuna às colheitas que lembra a Terra Quente, que devemos conhecer o município. No primeiro caso, o do Reboredo, com uma viagem atribulada entre os caminhos batidos que levam a vários miradouros serranos e, já agora, à histórica aldeia de Mós, deixada para trás pelo tempo. No segundo caso, o do Vale da Vilariça - sustento da ovelha Churra da Terra Quente -, com um roteiro pelas quintas vinícolas do Douro Superior, havendo várias por onde escolher, mas destacando a Quinta do Couquinho (convém ligar para sondar se pode haver visita) ou a Quinta da Terrincha (com possibilidade de pernoitar num solar oitocentista).
Nas zonas fronteiriças da concelhia guardam-se as horas para o turismo de natureza, sobretudo as que metem água ao barulho - no eixo ocidental temos o Caldeirão, um poço natural acedido por uma pequena rota pedestre mas que nem sempre tem água suficiente para banhos no pico do estio, e na confluência do Sabor com o Douro temos a Praia Fluvial da Foz do Sabor, justamente a mais concorrida da região, com uma envolvência que tão depressa não se esquece.
Já Torre de Moncorvo, a vila, vale muito a pena. Sendo verdade que do seu castelo já mal consigamos ver alguma coisa sem recorrer ao uso da imaginação apoiado em um ou outro muro fortificado recentemente requalificado, também não é mentira que os moncorvenses têm muito para contar da sua terra - sobre a judiaria e como ela foi uma espécie de quartel das comunidades judaicas transmontanas, sobre o ferro e as minas que abriram para o caçar, sobre a Basílica Menor da Senhora da Assunção e a ambição de aqui se ter uma nova diocese que dominasse todo o Nordeste. De caminho, e porque quase todo o comércio municipal se concentra na sede de concelho, aproveite-se para comprar e levar na bagagem o famoso Queijo Terrincho e a Amêndoa Coberta de Moncorvo, que por acaso nem casam mal um com o outro.
Fora da vila, há pelo menos dois exemplos de património religioso que devem ser mirados: a Capela da Senhora da Teixeira, que com boa dose de exagero à mistura é apelidada como a Capela Sistina de Trás-os-Montes; e aquela que é conhecida, entra várias designações, por Igreja das Três Marias, onde as paredes falam mais do que pensamos. E se por acaso viajarmos por estas paragens no início de Novembro, faça-se o possível para assistir ao dia de São Martinho na povoação de Maçores, uma tradição fora do comum até para quem está habituado a tradições fora do comum. Caso Novembro não seja hipótese, lembrem-se de Moncorvo no final de Fevereiro, quando as amendoeiras espetam as suas flores para fora e enchem os campos de rosa e branco - é sempre bom recordar como os maiores espectáculos que a natureza nos dá não têm preço.
Onde comer
Primeiro, uma curiosidade: se forem refrescar-se à Foz do Sabor, porque é lá que está a principal praia fluvial de Moncorvo, lembrem-se do Lameirinho, um pequeno estaminé que serve peixe de rio frito.
Fora isso, é imperativo conhecer a gastronomia transmontana pelas mãos da senhora Dina, que governa a Taberna do Carró, um aconchegante lugar onde as mesas são cobertas com padrões de piquenique, e a Posta à Mirandesa é feita no fogo. Conta também com loja anexa, com venda de produtos regionais. E ademais, temos o Lagar, restaurante que deambula pelas iguarias de Trás-os-Montes - em especial pela amêndoa de Moncorvo, sobretudo nas sobremesas. Tem cardápio rotativo, e óptimas favas guisadas.
Onde dormir
O melhor sítio para ficar em Torre de Moncorvo é a Quinta da Terrincha, num terreno vinhateiro abençoado pelo Vale da Vilariça (que, já agora, é o principal fornecedor do maravilhoso pequeno-almoço). Tem na casa principal os quartos mais luxuosos e conta com lareira, que é sempre um bombom nos meses mais frios. É, contudo, também um dos sítios mais caros do concelho, embora não excessivamente, e já sabemos que o bom custa dinheiro.
Mais modesto é o Capalonga, uma bonita casa transmontana aproveitada para Alojamento Local na aldeia de Larinho. Por dentro ainda vemos como era o típico casario do interior Norte português. Melhor para repouso, já que está longe das principais urbes.
Para conhecer mais promoções para dormidas em Torre de Moncorvo, ver em baixo.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.17704; lon=-7.11206