Percurso das Quedas de Água das Paredes

by | 30 Nov, 2022 | Beira Alta, Lugares, Natureza, Províncias, Rotas e Caminhos

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O caminho para as Quedas de Água das Paredes, no concelho de Mortágua, é quase o percurso que a água faz na ribeira dos Moinhos, mas em sentido inverso, já que andamos de jusante para montante, em contracorrente. Não há, no município, melhor forma de nos fundirmos com a natureza. Um mergulho no bosque que, no final, poderá progredir para um mergulho no poço, havendo coragem para isso.

O percurso

Se a ideia é apenas conhecer as Quedas de Água das Paredes, há solução: pegar a estrada alcatroada que vai de Laceiras até à aldeia de Paredes e, antes desta, quando surgir uma bifurcação, desviar para uma outra, agora em terra batida, que termina direitinha no destino pretendido. Atenção que para isso convém ter carro com tracção, especialmente nos dias de chuva, ou então, como fazem alguns pares de namorados da zona, recorrer à moto.

No entanto, há razões suficientes para que tenha escolhido o percurso e não a cascata como título do presente texto. As Quedas de Água das Paredes não são só quedas de água. São isso mas também a viagem – curta, com pouco mais de sete quilómetros – desde a ponte de Laceira até lá.

Aproveite-se a passada ribeirinha para apreciar a pouca flora mortaguense que não está tomada por eucaliptos. Os eucaliptais andam lá, certo, torna-se impossível não os ver, sobranceiros e hegemónicos, mas sempre que nos colamos à ribeira, coisa que acontece em praticamente todo o roteiro, lá lavamos um pouco as vistas dessa monótona monocultura que se foi apropriando de Portugal.

Temos várias azenhas para descobrir, ruinas de uma época, não tão passada quanto isso, onde a água servia de motor à moagem, neste caso à transformação do milho em pó, para a produção de pão. O primeiro desses moinhos, tão perto do início da caminhada que conseguimos apontá-lo da ponte, guardou o nome de Moinho da Laceira, e, segundo se conta, teve como hóspede Tomás da Fonseca, revolucionário de quem já falámos quando se abordou a Lenda do Juiz de Fora. Nascido em Laceiras, Tomás da Fonseca viveu anos a denunciar as ditaduras de Sidónio Pais e do Estado Novo. Conhecendo bem as redondezas da terra onde cresceu, dizem que se escondeu da polícia política neste moinho de paredes em xisto que dispunha de tudo aquilo que era necessário à sobrevivência.

E depois há as várias pequenas e médias quedas de água que se vão atravessando no passeio, excelentes companhias para eventuais banhos antecipados. Qualquer socalco é uma cascata em potência, dependendo a magnitude desta da altura daquele. Por vezes há mesas e cadeiras a abastecer estes lugares. Ao largo, a vegetação que gosta de ouvir o restolhar dos rios – os amieiros, os salgueiros, os fetos. E algures nas sombras, as rãs e os sapos e as salamandras, a raposa à caça, a lontra à espreita, a truta aos saltos. A meio caminho, a acastanhada aldeia das Paredes, levantada em ardósia. É um crescendo de breves paraísos até ao shangri-la final, quando as Quedas de Água das Paredes nos apanham de frente.

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Poço de Água junto à aldeia das Paredes, concelho de Mortágua

Quedas de Água das Paredes

Quedas de Águas das Paredes

Por fim, de pés bem fundos na garganta entre a Serra de Paredes (a leste) e a Serra do Brejo (a oeste), sentimos a pujança da ribeira de Moinhos como nunca até aí. Acontece pela união de dois outros ribeiros, a norte, o do Lagoeiro e o do Serrado. Juntam forças num novo caudal que, com o desnível, forma uma catadupa intercalada por breves lagoas de perfil circular.

O poço mais baixo das Quedas de Água das Paredes, aquele que está imediatamente defronte de uma ponte construída em madeira, é, como seria de esperar, o mais frequentado – o acesso é fácil, munido de passadiço, e não há qualquer obrigação de escalada. No Verão, podemos ver dezenas de pessoas à sua volta, ajeitando-se como podem ao declive imprevisível da penedia.

A lagoa superior, ainda relativamente abordável, já goza de maior silêncio e, até, de mais horas de sol. Daqui para cima é que a coisa se complica. Há, pelo menos, mais três lanços a montante. Cada um menos povoado que o anterior, mas também menos alcançável. Compreendemos melhor a beleza do conjunto, mas aumenta o risco de sairmos de lá com uma entorse, se não pior. Fica à conta de cada um, conhecendo as suas limitações, saber onde é melhor parar.

Mortágua – o que fazer, onde comer, onde dormir

Portugal ficará sempre em dívida com Mortágua depois de esta ter desgastado o exército napoleónico quando a Terceira Invasão Francesa chegou para tomar definitivamente o país - conhecessem os francos a Lenda do Juiz de Fora e saberiam que, neste terra, não se brinca. O confronto ocorreu na franja sul do actual concelho, comummente conhecida como Batalha do Bussaco, e ainda hoje podem ser vistos os moinhos onde Wellington, do lado inglês, e Masséna, do lado francês, descansaram e prepararam o plano de ataque. Na sede de município, um Centro de Interpretação da batalha pode também ser visitado.

Deixando o passado, outros pontos de interesse do concelho recomendáveis são o Santuário do Senhor do Mundo (o monsanto mortaguense, numa colina a sul da vila), o Santuário de Chão de Calvos (cenário onde acontece a Feira dos Calvos, em Outubro) e o belo Percurso das Quedas de Água das Paredes (um dos poucos redutos que não foi engolido pelo negócio do eucalipto).

O que não pode falhar é um faustoso almoço de Lampantana, o prato tradicional cá do burgo, a lembrar a Chanfana mas, de acordo com os mortaguenses, com ovelha em vez de cabra, e idealmente cozinhada no quase extinto barro vermelho de Gândara. A Adega dos Sabores e o restaurante A Roda servem-na com distinção. Também restaurante mas já encostado à confecção de lambarice, está o magnífico Porta 22, responsável pela saborosa Delícia de Mortágua.

Para dormir, as casinhas de madeira da Mimosa Village, afundadas entre serras, são apetecíveis. Mais impessoal, mas com piscina, temos a Casa de Santo António, bem perto da albufeira da Barragem da Aguieira, um dos melhores destinos balneares de todo o distrito de Viseu.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.46795 ​; lon=-8.29889

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