Feira dos Calvos

by | 14 Dez, 2022 | Beira Alta, Festas, Outubro, Províncias, Tradições

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A Feira dos Calvos não é nenhuma concentração de gente sem cobertor para o escalpe. Tem esse nome porque é realizada em Chão de Calvos, um pequeno vale a norte de Mortágua, bem encostado à Barragem da Macieira.

Acontece anualmente, no terceiro Domingo do mês de Outubro, e tem direito a romaria.

A lenda, a romaria, e a Senhora de Chão de Calvos

Segundo crença mortaguense, houve um homem calvo que um dia aqui veio e descobriu, numa fenda de um castanheiro, uma escultura de Nossa Senhora.

Estando este ermo entre as povoações de Pala e de Sobral, houve disputa sobre quem deveria guardar a sagrada imagem. Levou Sobral a melhor, e na sua paróquia resolveu zelar pela Senhora.

Acontece que a imagem, todos os dias, desaparecia. E quando a procuravam lá estava ela de volta ao castanheiro de onde foi desencantada. Tantas vezes isto se passou que a povoação de Pala tomou a iniciativa de construir uma ermida junto da árvore. E assim começou um culto secular, que dura até hoje.

As entrelinhas da lenda

Dizem as pessoas de Mortágua que foi o facto de a Senhora ter sido encontrada por um homem calvo que deu o nome Chão de Calvos a este lugar. Contudo, parece-me que o que é realmente calvo aqui é o terreno, uma clareira de vegetação rasteirinha sitiada por pinheiros e eucaliptos. Chão Calvo poderia, assim, ser a sua designação original, numa referência à esterilidade de um pedaço de solo, entretanto transformada em Chão de Calvos posteriormente.

Quanto à imagem que desaparecia e tornava a aparecer no sítio onde houvera sido descoberta, é caso para repetir a pergunta: onde é que eu já ouvi isto? De facto, perde-se a conta à quantidade de relatos que partem desta premissa para justificar a construção de uma capela. Veja-se, como exemplo, as lendas da Pedra da Mua, da Senhora do Mont’Alto, da Senhora de Mércoles, da Senhora das Preces, da Senhora de Anamão

A Senhora como objecto da Romaria de Chão de Calvos

A imagem que passeia, carregada por andor, na Romaria de Chão de Calvos é um exemplar das várias Senhoras da Lactação, ou Madonna Lactans, usando o latim: Maria, de seio destapado, carrega o seu filho Jesus, amamentando-o.

Ora, este tipo de esculturas, onde Nossa Senhora aparece de peito nu, está quase sempre ligado às celebrações pascais, sendo o leite com que ela alimenta Cristo um símbolo da abundância primaveril (e relembramos como a Páscoa coincide com o início da Primavera). O leite materno é, como sabemos, o nosso primeiro alimento, e aquilo que nos faz crescer nos primeiros meses de existência. É, como tal, indissociável da vida.

E, na realidade, as primeiras romarias que se deram em Chão de Calvos ocorreram precisamente por altura da Páscoa, mais concretamente na primeira semana da Quaresma. Essa procissão, no entanto, deixou de ser feita, passando depois a ser realizada no Outono, na chamada Feira dos Calvos, que integra a romaria e uma feira de cariz popular no mesmo calendário: terceiro Domingo de Outubro e a Segunda-Feira do dia seguinte.

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Andor com a Senhora de Chão de Calvos

A Senhora de Chão de Calvos a amamentar Jesus

O santuário

O santuário onde a Feira dos Calvos se realiza é composto por três capelas e ainda uma fonte.

A maior das ermidas é a Capela de Nossa Senhora de Chão de Calvos, reconstrução de uma outra, setecentista, entretanto destruída. A norte desta, e também a maior altitude, fica a Capela da Senhora dos Aflitos. E na ponta sul do santuário, numa confluência de estradas que seguem até Pala, está a Capela da Senhora da Agonia, meio camuflada pelo eucaliptal.

Quanto à fonte, montada em cima de um veio de água subterrâneo, tem acesso por uma escadaria. Diz-se que dali parte um túnel até ao interior da Capela de Chão de Calvos.

Mortágua – o que fazer, onde comer, onde dormir

Portugal ficará sempre em dívida com Mortágua depois de esta ter desgastado o exército napoleónico quando a Terceira Invasão Francesa chegou para tomar definitivamente o país - conhecessem os francos a Lenda do Juiz de Fora e saberiam que, neste terra, não se brinca. O confronto ocorreu na franja sul do actual concelho, comummente conhecida como Batalha do Bussaco, e ainda hoje podem ser vistos os moinhos onde Wellington, do lado inglês, e Masséna, do lado francês, descansaram e prepararam o plano de ataque. Na sede de município, um Centro de Interpretação da batalha pode também ser visitado.

Deixando o passado, outros pontos de interesse do concelho recomendáveis são o Santuário do Senhor do Mundo (o monsanto mortaguense, numa colina a sul da vila), o Santuário de Chão de Calvos (cenário onde acontece a Feira dos Calvos, em Outubro) e o belo Percurso das Quedas de Água das Paredes (um dos poucos redutos que não foi engolido pelo negócio do eucalipto).

O que não pode falhar é um faustoso almoço de Lampantana, o prato tradicional cá do burgo, a lembrar a Chanfana mas, de acordo com os mortaguenses, com ovelha em vez de cabra, e idealmente cozinhada no quase extinto barro vermelho de Gândara. A Adega dos Sabores e o restaurante A Roda servem-na com distinção. Também restaurante mas já encostado à confecção de lambarice, está o magnífico Porta 22, responsável pela saborosa Delícia de Mortágua.

Para dormir, as casinhas de madeira da Mimosa Village, afundadas entre serras, são apetecíveis. Mais impessoal, mas com piscina, temos a Casa de Santo António, bem perto da albufeira da Barragem da Aguieira, um dos melhores destinos balneares de todo o distrito de Viseu.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.43933 ; lon=-8.25384

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