Lontra
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Chamam-na Lontra Europeia ou Lontra Euroasiática – porque a sua distribuição, apesar de mais concentrada na Europa, se desvia até países tão longínquos como a Malásia ou a Indonésia. Mas se a tratassem por Lontra Portuguesa não chocaria: ela existe, efectivamente, em grande parte do território continental, do norte ao sul do país.
Um bicho que, com cauda, pode medir mais de um metro de comprimento, oculta-se nas reservas de água doce portuguesas
A Lontra Europeia em Portugal
A Lontra é daqueles mamíferos que vê na água, sobretudo a doce, e mormente na escuridão da noite, o seu recreio diário. Como tal, será normal assestar as suas zonas de observação: rios, riachos, ribeiras, lagoas, albufeiras, sapais, paludes, pântanos e afins.
Os cursos de água gelada que nascem no Gerês, no Minho, e no Montesinho, em Trás-os-Montes, são, como espécie anfíbia, ambiente propício para a Lontra. Mais abaixo, pode ser vista nos igualmente frios e também transmontanos parques do Alvão e do Douro Internacional. Nas Beiras, encontram-se de ocidente a oriente – no Paul da Arzila, na Serra da Estrela e na Serra da Malcata. E no Paul de Tornada, já na Estremadura, é tão estimada que faz parte do símbolo do parque. Avançando até ao sul português, podemos vê-la em sítios tão díspares como no Vale do Guadiana (há histórias documentadas sobre o carinho com que os pescadores de Mértola as descrevem), aos lagos artificiais ou albufeiras insufladas por barragens como o Alqueva (bem apelidado como o Grande Lago) ou a Barragem de Santa Clara-a-Velha.
No sudoeste de Portugal, parece haver uma apetência da Lontra pela água salgada, situando-se na Costa Vicentina, talvez para fugir à secura dos campos do interior (é conhecida a preferência das Lontras por campos revestidos de cores verdejantes). Contudo, mesmo aqui, nota-se a necessidade de estar próxima de reservas de água doce ou na foz dos rios vicentinos, de forma a conseguir lavar-se do sal quando mergulha em ambiente marinho.
Apesar de transversal ao território português (excluindo as regiões autónomas) e de estar relativamente bem conservada por cá – ao contrário de outros pontos da Europa -, isso não se traduz em forte probabilidade de observação. A Lontra é esquiva e é preciso procurar antes pelos seus dejectos ou pegadas para sabermos onde ela anda – de resto, aquilo que fazemos com um outro carnívoro ibérico: o lobo.
À procura de presa nos rios europeus
Hábitos da Lontra
A sua fisgada pela água (se preciso, aguenta-se mais de cinco minutos submersa) aliada ao facto de ter uma dieta maioritariamente carnívora tornam-na um animal de hábitos especiais.
A começar pela sua performance enquanto predadora: com olhos que vêem mais no breu da noite, com olfacto que chega longe (têm um dispositivo ao nível do nariz que detecta vibrações abaixo da linha de água), e com uma audição superior à de muitas outras espécies (incluindo a nossa), a Lontra espera pelo pôr do sol para sacar das suas armas. As presas são sobretudo peixes ou crustáceos, em menor escala outros mamíferos, e eventualmente répteis à falta de melhor.
É portanto uma criatura da noite, aproveitando o dia para dormir em esconderijos que o rio proporcione. As suas casas são buracos escavados em turfeiras, muitas delas com acesso pela água. Aproveitam-se também de cavidades feitos por outras espécies de habitat similar.
Também invulgar é o seu cariz solitário. Raramente vemos um par de Lontras juntas a menos que estejam em período de reprodução ou que seja ainda uma mãe Lontra a guardar as suas jovens crias. Fora esses particulares momentos da sua vida, fazem o seu quotidiano sozinhas. Os machos, por exemplo, nem se dedicam à sua função paternal, abandonando a família quando a fêmea ainda se encontra em período de gestação.
Mostram várias vezes uma vontade para brincar com objectos que encontram, numa forma de entretenimento que é rara, podendo até ser encontradas a fazer coisas que humanos não negariam, como escorregar em encostas de gelo ou neve, elas que se aguentam tranquilamente em altitudes bem acima dos mil metros.