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No Centro e Norte do país, onde a montanha existe, a truta galga seixos e contraria correntes. É um dos peixes mais cobiçados da água doce, elemento obrigatório dos pratos nobres do interior serrano.

O peixe malhado

Peixe de rio por excelência, a truta é identificável sem que seja necessário grande esforço. O seu corpo malhado, coberto de pintas, como se de um leopardo de água se tratasse, facilita a tarefa. Em Portugal, há essencialmente duas espécies de truta (podemos argumentar que há mais, mas entraremos em minuciosidades pouco relevantes para o caso): a Truta Salmonada (aquela em que pensamos quando se fala simplesmente em truta, sendo esta, para olhos desatentos, confundida com o salmão), e a Truta Arco-Íris (menos comum e não indígena). Por partes.

Truta Salmonada

A cor vai revezando entre verde acastanhado e castanho esverdeado, dependendo da zona e, sobretudo, da alimentação que leva – note-se que a truta gosta de alimento carnudo, sobrevivendo à conta de outros peixes mais pequenos, alguns insectos que possam estar por perto, crustáceos e moluscos de vários tipos.

Prefere águas relativamente frias e solos submersos onde o cascalho abunda, e desova nos meses de Outono. O tamanho varia entre quinze centímetros e quase um metro – em Portugal, é praticamente impossível chegarem a este limite máximo.

Divide-se em dois tipos: a que vai ao mar (denominada truta marisca ou truta do mar) e a que não vai (chamada fario). A primeira, habitualmente, concentra-se nos rios do Minho (o rio Minho, o rio Lima, e respectivos afluentes) – decide maturar no oceano e torna ao rio que a viu nascer para desovar e morrer. A segunda, menos nómada, nasce e cresce e morre no rio, nunca chegando a pôr barbatana em água oceânica.

Truta Arco-Íris

Distingue-se da Salmonada em diversos factores, a começar pela origem.

Com efeito, a Truta Arco-Íris não é de cá, mas sim da América (versão hemisfério norte).

Apesar do seu formato igualmente fusiforme, tem um elemento distintivo: uma linha rosa que percorre todo o seu corpo, da cabeça até à cauda, como se estivesse assinalada por um marcador de filtro (ver foto).

É comummente empurrada para reprodução em viveiros e injectada em rios onde a Salmonada, por várias razões, tem vindo a ter dificuldade em reproduzir. Paulatinamente, por causa da sua adaptabilidade, esta espécie exógena tem tomado o lugar da nativa. Pode também acomodar-se facilmente à água salgada, podendo assim ser criada em tanques próximos de estuários.

A truta arco-íris com a característica linha rosada

Truta Arco-Íris

Distribuição

A truta, em Portugal, espalha-se um pouco por toda a área do Centro e do Norte, isto é, do Tejo para cima, onde as águas têm temperaturas suficientemente frias.

Começando exactamente na bacia do rio que termina em Lisboa, a truta conta com domínios ao longo do seu curso e também num dos seus principais afluentes, o rio Zêzere. Mais a norte, as bacias do Vouga e do Mondego têm igualmente um boa activo de trutas, bem como os rios Alva, Criz, Côa e Ceira.

Por fim, os terrenos setentrionais do país, nomeadamente a província do Minho, contêm os cursos com maior concentração (e basta confirmar a quantidade de localidades cujo nome é rebuscado à denominação do peixe). O rio Lima para começar, e o rio Minho em particular, dividindo este as suas margens com a Galiza. O rio Mouro, o rio Cávado, e o rio Coura são referências óbvias, mais ainda para quem faz da sua pesca um passatempo para a vida. Trás-os-Montes, embora com menor densidade, tem no Parque do Montesinho um bom depósito natural de trutas.

Importa salientar que é nos primeiros troços de cada rio que as trutas encontram melhores condições para a sua vivência: águas límpidas, cristalinas, frias, muitas vezes resultantes de degelo, como acontece na Serra da Estrela ou no Gerês.

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Receitas de truta

É à chegada das chuvas de Outono, aquelas que engordam o caudal dos rios, que as trutas arranjam espaço para correrem até à desova. Esta estende-se pelo Inverno adentro. Em Março, terminado o processo, entra a época da pesca. E será nessa altura, quando a truta pega o anzol, que a começamos a ver nos cardápios da restauração que se alinha junto aos rios mais frios do país.

Há quem goste delas grelhadas ou no forno, cozinhadas com variantes – uma delas, bem a meu gosto, é com amêndoas.

Contudo, e porque muita gente não descortina um sabor especial na carne de truta, há quem a procure consoante o molho que a acompanha. O de escabeche é um dos mais lembrados. No Minho, por exemplo, é costume usar-se toucinho para lhe acrescentar um pouco de gordura e acentuar o palato.

De resto, a truta tem a grande vantagem de podermos abusar dela numa dieta cuidada. Tem poucas calorias e é rica em sais minerais, vitaminas, e proteína. O colesterol, com certeza, não baterá ferros por isso.

Possível extinção?

A truta é um dos peixes que mais poderá sofrer com o aumento das temperaturas das águas fluviais portuguesas. Habituada a temperaturas frescas, sempre abaixo dos 20º, avizinha-se um futuro incerto quanto à permanência da truta em Portugal e, até, na Península Ibérica.

No que toca à sua forma marisca, o problema é crescente tendo em conta o aumento do número de obstáculos à sua necessária circulação do rio até ao mar, e do mar até ao rio. As barragens são o mais óbvio dos exemplos, criando compartimentos inultrapassáveis, comprometendo as desovas.

A poluição e o não cumprimento de certas normas na pesca de rio (como a pesca anterior à fase da desova) poderão, também, quebrar o número de exemplares nacional.

Mantendo-se a tendência actual, as expectativas não animam. Um estudo na revista Global Change Biology prevê que no final do presente século a truta (em especial a Salmonada) esteja praticamente desaparecida na península.

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