Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”

by | 18 Dez, 2022 | Beira Alta, Lugares, Monumentos, Museus e Exposições, Províncias

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O Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”, no coração do concelho mortaguense, guarda uma pequena exposição alusiva a um acontecimento incontornável da história de Portugal e até, porque não?, da Europa. Serve para relembrar uma das mais violentas contendas ocorridas em território português.

O papel de Mortágua na Batalha do Bussaco

Corria o ano de 1810. O contexto é o da Terceira Invasão Francesa – ou quarta, dependendo de quando começamos a contá-las, já que a da Guerra das Laranjas pode servir como primeira. Depois de duas tentativas frustradas (ou três, lá está, contando com a Guerra das Laranjas), Napoleão envia o seu mais sólido corpo militar para ocupar de vez Portugal – quer em número de soldados, quer em termos de prestígio dos seus líderes, tendo Masséna como o comandante supremo da operação.

O exército francês, entrando pela Beira Alta (e não pela Beira Baixa, como aconteceu com a Segunda Invasão), tomou de assalto as praças-fortes de Almeida e de Cidade Rodrigo e preparou a sua conquista a partir daqui. Dividia-se em três corpos – uma coluna, à direita, avançava por Pinhel e por Trancoso; outra, ao meio, por Alverca; e finalmente a da esquerda, pelo Sabugal. A ideia era seguir até Coimbra, através das vias de Mortágua, afim de chegar à estrada que os levaria até Lisboa.

No entanto, as forças aliadas de Portugal e Inglaterra, comandadas por Wellesley (mais tarde conhecido por Duque de Wellington), vigiavam de longe os movimentos franceses. Iam recuando e recuando, estrategicamente, levando ou destruindo qualquer coisa que servisse de apoio ou abastecimento aos soldados de Masséna. A terra-queimada executada pelos portugueses e ingleses prolongou-se por toda a Estrada da Beira, até, enfim, se alcantilarem nas cumeadas da Serra do Bussaco, barreira natural que obrigaria as tropas de Napoleão a estancar e a tomar uma de duas escolhas: retirar ou lutar em condições adversas.

Os três corpos franceses convergiram e pararam marcha defronte do Bussaco, como se previa, instalando acampamento nas terras baixas dos concelhos de Mortágua e Penacova. Masséna, contra a opinião de alguns dos seus generais, decide enfrentar o toiro pelos cornos – afinal, apesar do cansaço, tinha ainda o exército mais robusto, em infantaria, em cavalaria, e em artilharia, e a batalha devia ser travada porque assim ordenou o Imperador. Apesar da coragem e, até, da imponente arrancada francesa, a orografia pendia para o exército aliado: as tropas napoleónicas investiram mas sem alguma vez conseguir chegar ao topo da Serra do Bussaco, e as balas e as baionetas anglo-lusas provocaram danos profundos nos militares de Masséna (fala-se em quase 4500 baixas francesas, entre mortos, feridos, e presos, fora eventuais deserções).

Masséna ainda deu um ar da sua graça ao ter arranjado maneira de flanquear a armada anglo-lusa, um pouco para surpresa de Wellesley, recorrendo à portela de Boialvo, a norte do Bussaco. No entanto, um novo revés em Coimbra e, posteriormente, a impenetrabilidade das Linhas de Torres Vedras, fizeram os soldados franceses retirar. Após esta Terceira Invasão, as incursões napoleónicas foram pouco mais que insignificantes.

Seguida à desfeita do Bussaco, Napoleão viria a perder na Rússia, dois anos depois, em Leipzig, três anos depois, e em Waterloo, cinco anos depois, esta última levando à queda do imperador.

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A exposição Mortágua na Batalha do Bussaco

Mortágua não podia ficar indiferente à importância da sua história. A derrota de Napoleão nestas terras é hoje um marco da história militar portuguesa, mas também inglesa e até europeia. Podemos especular o que seria deste país, ou mesmo de outras nações do Velho Continente, caso Masséna tivesse vingado. Quem ficaria dono do Atlântico quando um porto tão importante como o de Lisboa passasse definitivamente para mãos francesas? Quanto perderia a Inglaterra na sua relação privilegiada com Portugal no comércio colonial? Portugal ainda existiria enquanto reino ou seria dividido como prémio de uma possível aliança franco-espanhola?

O Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco” (o único referente a esta temática em território nacional) é um reconhecimento desse passado incontornável e irreversível, dando uma especial atenção ao que aconteceu não só aos exércitos mas também à população mortaguense, vítima do seu posicionamento geográfico e, por isso, particularmente sacrificada. Ao mesmo tempo, expõe maquetes e gravuras, ecrãs interactivos, trajes militares, armas, infográficos e mapas explicativos das movimentações de ambos os lados. E numa pequena divisão é possível ver um documentário acerca da batalha.

De caminho, e por estarmos bem perto, visite-se o moinho da Moura, onde se recolheu Masséna, e o moinho de Sula, casa de comando do inglês Craufurd. Indo de um ao outro conseguimos perceber as diferentes perspectivas de cada um, no momento em que a batalha se travou – e também compreendemos a razão por que foi mais fácil para a aliança anglo-lusa levar a melhor, mesmo estando em desvantagem numérica.

Mortágua – o que fazer, onde comer, onde dormir

Portugal ficará sempre em dívida com Mortágua depois de esta ter desgastado o exército napoleónico quando a Terceira Invasão Francesa chegou para tomar definitivamente o país - conhecessem os francos a Lenda do Juiz de Fora e saberiam que, neste terra, não se brinca. O confronto ocorreu na franja sul do actual concelho, comummente conhecida como Batalha do Bussaco, e ainda hoje podem ser vistos os moinhos onde Wellington, do lado inglês, e Masséna, do lado francês, descansaram e prepararam o plano de ataque. Na sede de município, um Centro de Interpretação da batalha pode também ser visitado.

Deixando o passado, outros pontos de interesse do concelho recomendáveis são o Santuário do Senhor do Mundo (o monsanto mortaguense, numa colina a sul da vila), o Santuário de Chão de Calvos (cenário onde acontece a Feira dos Calvos, em Outubro) e o belo Percurso das Quedas de Água das Paredes (um dos poucos redutos que não foi engolido pelo negócio do eucalipto).

O que não pode falhar é um faustoso almoço de Lampantana, o prato tradicional cá do burgo, a lembrar a Chanfana mas, de acordo com os mortaguenses, com ovelha em vez de cabra, e idealmente cozinhada no quase extinto barro vermelho de Gândara. A Adega dos Sabores e o restaurante A Roda servem-na com distinção. Também restaurante mas já encostado à confecção de lambarice, está o magnífico Porta 22, responsável pela saborosa Delícia de Mortágua.

Para dormir, as casinhas de madeira da Mimosa Village, afundadas entre serras, são apetecíveis. Mais impessoal, mas com piscina, temos a Casa de Santo António, bem perto da albufeira da Barragem da Aguieira, um dos melhores destinos balneares de todo o distrito de Viseu.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.39649 ; lon=-8.22975

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