Torre de Penegate
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Uma das mais imponentes casas-torre do país, e aquela que, segundo alguns investigadores, se considera a mais militarizada, a Torre de Penegate, no concelho de Vila Verde, foi levantada em 1322 por um fiel apoiante de D. Dinis num momento em que Portugal vivia mais uma guerra civil.
A torre de Mem Rodrigues de Vasconcelos
D. Dinis, como de resto qualquer um dos seus antecessores, viveu num delicado balanço entre o que o poder régio autorizava e o que o poder da nobreza podia fazer. Em muitos casos, um e outro chocavam, como acontecia na disputa de territórios entre certas casas senhoriais e os ditos reguengos.
O problema vinha de trás. Portugal tinha, a esse propósito, conhecido uma outra guerra civil há pouco tempo, quando D. Sancho II e o seu irmão Afonso, Conde de Bolonha, resolveram contar armas e aliados e entrar numa acesa disputa de trono. Sabemos quem venceu: o Conde da Bolonha, tornando-se D. Afonso III, considerado o quinto rei português.
Ora, o reinado de D. Afonso III ficou conhecido pela atitude combativa contra duas classes dominadoras do mundo medieval: clero e nobreza. A linha política foi continuada por D. Dinis, seu filho, que desenvolveu inquirições afim de saber que nobres se estavam a aproveitar, sem legitimidade, de terras que não eram suas. Anulou também algumas das doações que tinha feito quando ainda era novo, alegando que tal apenas aconteceu devido à sua prematura idade. Ademais exigiu, talvez mais do que qualquer outro antecessor seu, que qualquer edifício fortificado construído por qualquer casa nobre necessitasse de aprovação régia antes de ser levantado – pretendia-se com isto limitar a capacidade militar de alguns Senhores portugueses que, pela força, poderiam ameaçar a figura principal do país: o monarca.
A atitude de D. Dinis teve uma reacção, como seria de esperar. Vários foram os nobres que se insurgiram contra o rei e o seu aparente despotismo, apoiando o seu filho Afonso como o homem que deveria ficar à frente do reino de imediato. Afonso, filho de D. Dinis, vivia atormentado com a ideia de que o seu pai não o iria apontar como sucessor mas sim o seu meio-irmão, o bastardo Afonso Sanches, e por isso viu aquele momento como oportuno para garantir a coroa.
Entre 1320 e 1325, Portugal viveu assim mais uma guerra civil, desta vez não entre dois irmãos, mas sim entre pai e filho. Afonso, o filho, chegou a tomar Coimbra, Montemor-o-Velho, Feira, Gaia, Porto… Numa contínua corrida para norte, teve em Guimarães a sua primeira resistência séria, vinda do Meirinho-Mor de D. Dinis, o fiel Mem Rodrigues de Vasconcelos. Foi neste contexto que o rei, em reconhecimento da lealdade de Mem Rodrigues de Vasconcelos, o autoriza a construir uma torre no topo de um afloramento granítico e com vista ampla para o vale para sua protecção è a sua família.
Capela de Nossa Senhora da Penha, com a Torre de Penegate ao fundo
A Torre de Penegate e as restantes torres senhoriais
Torres senhoriais não faltam neste país, ainda mais quando falamos da zona Norte – aqui bem perto temos a Torre e Casa de Gomariz, já falada neste espaço. A esmagadora maioria delas são acompanhadas de casas solarengas posteriormente construídas, propriedade de uma nobreza de segunda linha, habitualmente fixadas no epicentro das suas férteis terras, e nem sempre protegidas por elementos de natureza defensiva.
Olhamos para a Torre de Penegate, que de resto deve ter vindo a sobrepor-se a uma anterior, possivelmente românica, e nada disso bate certo. Não tem qualquer solar anexado – a única coisa que lhe adossaram foi uma pequena casa em granito, bastante simples, e de construção recente. Não está situada em qualquer fértil vale, bem pelo contrário, encontra-se no topo de uma elevação de difícil acesso. E, ao invés de muitas torres vizinhas, tem praticamente todos os adereços que ligamos às torres de menagem de defesa de território, como o mata-cães ou a porta rasgada acima do nível térreo.
A razão de tão particular perfil já foi, em parte, explicada. Primeiro, D. Dinis não permitiu que qualquer nobre, fosse ele de baixa ou de alta condição, construísse torres de carácter militar sem sua autorização – e aquelas que o rei permitiu foram para recompensar alguma fidalguia a ele leal, como aconteceu no caso de Mem Rodrigues de Vasconcelos. Segundo, porque o Meirinho-Mor de D. Dinis nunca usou a torre como sua casa permanente – ela seria apenas um último recurso, caso as tropas afeitas a Afonso invadissem as terras baixas.
A sua função defensiva foi-se perdendo, e nunca chegou a ser compensada com uma função civil. E ainda assim, sobreviveu até hoje, agora com uma capela logo a seu lado, a marcar um tempo de traições e conquistas.
Uma torre militar numa penha granítica
Vila Verde – o que fazer, onde comer, onde dormir
Vila Verde explica-se a si própria: para onde quer que se mire, é a cor que lhe dá nome que ataca os olhos. Estamos num dos mais longos vales do coração do Minho. Não admira que à nossa volta, debaixo de cada pedra, salte uma romaria. A ter de escolher, a de Santo António de Vila Verde ou a Feira dos Vinte da vila de Prado, são das mais concorridas.
E já que estamos na vila de Prado, terra em lugar prometido, numa das principais passagens do rio Cávado, leia-se um pouco sobre a fascinante história lendária da ponte que serve de papel de parede à Praia Fluvial do Faial. Um pouco a norte do vilarejo, e continuando no encalço do património lendário, temos o Penedo da Moura junto ao antigo castro, hoje popularmente conhecido como Monte do Castelo, ao qual só se acede com esforçada caminhada. E para nascente, uma nova lenda justifica um bizarro costume que deve ser comprovado na Casa das Promessas do Santuário do Alívio - à santa, é costume oferecerem-se cobras como ex-votos.
Mas vila verde não se percorre apenas entre montanhas. Na fronteira norte do concelho, há vila-verdenses serranos, a viverem nas sobras ocidentais do Gerês. Por lá encontramos uma pequena aldeia de nome Borges onde, segunda crença popular, um dente de São Frutuoso ajudava as povoações a curarem-se da raiva. E também na serrania vila-verdense tem lugar, no minúsculo povoado de Mixões da Serra, a famosa Bênção dos Animais, celebrada num livro e numa exposição fotográfica de Alfredo Cunha. Mais para sul, uma outra elevação foi equipada com torreão para defesa de um dos maiores apoiantes de D. Dinis na guerra civil contra D. Afonso IV - a Torre de Penegate.
Na gastronomia, não se pode sair de lá sem ir aos pratos elementares: as Papas de Sarrabulho (que têm uma versão especial na Feira dos Vinte), o Pica-no-Chão (do qual Vila Verde é capital), e o Pudim Abade de Priscos (cujo inventor aqui nasceu). Para ir ao melhor que o o concelho tem para entregar no prato, recomendam-se a Tasquinha do Cerqueira e a Toca do Lobo para as carnes. Com preço um pouco acima dos anteriores, mas famoso pelo bacalhau e pelo arroz de pica-no-chão (vulgo, arroz de cabidela), temos o Torres.
E para dormir, à cabeça, aparece a antiga Torre e Casa de Gomariz, actualmente revivida enquanto hotel de luxo, a Torre de Gomariz Wine & Spa Hotel. Mas há tanta oferta que podemos passar uma tarde inteira no processo de escolha. De portas recentemente abertas está o Recanto Nature, novinho em folha mas já com boa fama. Para casas, uma boa opção é a Casa Tarrio, a norte da sede de concelho, ou a Casa da Assudra, perto do Monte do Castelo.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.65884 ; lon=-8.49174