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Os Solares tornaram-se parte de um determinado tipo de Norte português, como o Monte está para o Alentejo. Poderemos encontrá-los em várias regiões do país, de norte a sul, mas será no Norte e Centro-Norte que os encontramos em maior quantidade.

São propriedades de gente senhorial – algumas ainda habitadas, pelo menos sazonalmente, outras deixadas ao abandono, outras entregues à gestão autárquica, e outras tornadas espaço para turismo rural.

Não há uma arquitectura padronizada para os Solares portugueses, até porque poderão vir de diferentes épocas, com décadas ou séculos a separá-las.

A Casa Senhorial, mais conhecida por Solar, é uma constante da paisagem rural nortenha, e um produto arquitectónico em constante evolução

Origem dos Solares em Portugal

O Solar nasceu no Norte de país porque Portugal nasceu no Norte do país.

Inicialmente, era a casa de gente nobre, ligada à elite aristocrática de determinada região. Só mais tarde se começou a democratizar o conceito a outras classes, no caso a uma determinada burguesia que cresceu com o Império Português ou, a uma escala regional, com o comércio do vinho na região do Douro.

Daí ainda hoje haver uma certa controvérsia com o emprego da palavra Solar. Os mais puristas dirão ser Solares apenas as casas cuja linhagem lá nascida era atribuída a uma certa nobreza. Outros, mais flexíveis, usam-na para classificar até algumas casas de veraneio de gente que foi enriquecendo, e que quis mostrá-lo reproduzindo algumas dessas Casas Senhoriais originais.

De qualquer forma, parece inegável que a Casa Solarenga deu à luz quando Portugal era ainda uma ideia embrionária. Fez parte, de certo modo, da fundação de um país, que à altura, como qualquer outro, necessitava de uma nobreza forte e leal para sobreviver. É nesse contexto que aparece o Solar minhoto, de tendência militar, que depois evoluirá para formas muito distantes da matriz prima.

Uma explosão do Barroco no Solar da Loureira

O barroco do Solar da Loureira

Arquitectura dos Solares

Como dito acima, é difícil criar um molde que resuma o típico Solar português, mesmo que estejamos a falar exclusivamente da sua versão Entre-Douro-e-Minho.

De forma muito sucinta, pode-se dizer que aquilo que os unifica é a assinatura da família a quem pertence (o brasão), uma certa apetência para a combinação de elementos populares e eruditos nas fachadas, e o uso de materiais autóctones, nomeadamente no tipo de pedra. E mesmo isto pode não ser exactamente verdade, como veremos.

Fora disto, a Casa Senhorial variará muito consoante a região e a época de que falamos.

No século XII eram normais as Casas-Torre, de arquitectura militar, contextualizadas com a altura em que estávamos: a Reconquista. Eram torres de menagem medievais, com ameias e seteiras, bem ao jeito daquilo que era feito em fortificações clássicas, vulgo, castelos. Tratava-se, assim, de um Solar construído em altura, cuja ligação entre as várias divisões era feita através de escadaria interna. Podemos encontrá-las com maior regularidade no Minho, agora entaladas entre anexos que foram posteriormente desenvolvidos.

Com o avanço da fronteira para sul, as necessidades defensivas das casas solarengas minhotas foram sendo esquecidas, começando aí uma nova forma de pensar o Solar, mais em conta com as funcionalidades domésticas. As seteiras viraram janelas e a área exterior transformou-se em jardim.

Depois, já com o Reino de Portugal perfeitamente instalado no ocidente ibérico, vieram os tais anexos. Casas extensas horizontalmente, muitas vezes com fachada posicionada entre duas novas torres. A torre antiga, medieva, ia perdendo o seu cunho militar – as ameias seriam destruídas dada a sua total inutilidade, e em substituição entrariam elementos da época, em especial o Manuelino.

Em paralelo, mais a sul, junto a Lisboa e no Alentejo, os Solares que por aí se começaram a construir recebiam influência de fora, sobretudo de Itália, com plantas em forma de L, onde a casa já nem sequer era o actor principal, muitas vezes tornando-se os jardins a referência maior, pontuados com novas casas e pavilhões.

E por fim, o período áureo dos Solares portugueses nasceu, curiosamente, quando Portugal foi integrado no Reino de Espanha. A nobreza lusa foge para as zonas rurais, instalando-se em casas de pendor mais provinciano e com planta em U. Este foi o ponto de partida para que posteriormente, já com o Barroco em voga, se começassem a fazer as belíssimas fachadas do Solar setecentista, verdadeiros palácios de granito tão fáceis de encontrar junto ao rio Douro, testemunhos de uma nova classe burguesa em ascenção. Desta vez, vêm acompanhados de pequenas capelas, normalmente a lateralizar a casa principal.

Serão estes últimos aqueles que a nossa memória colectiva conserva com a etiqueta de Solar. Também o é. Ou também o poderá ser, dependendo de perspectivas. De qualquer forma, é sempre bom lembrar a semente de tudo isto, nessas torres perdidas nas terras fecundas entre o Rio Minho e o Rio Cávado.