Mata dos Sete Montes

by | 11 Fev, 2022 | Florestas e Bosques, Lugares, Natureza, Províncias, Ribatejo

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Do triângulo sacro que se encontra no núcleo histórico de Tomar – e que inclui o castelo, o convento, e o bosque adjacente aos dois anteriores -, a Mata dos Sete Montes, também conhecida por Cerca Conventual ou Mata do Conde, é o mais recente dos empreendimentos.

Uma extensão para a contemplação

Século XVI. Na margem direita do rio Nabão, um vale conhecido por Lugar dos Sete Montes (e também por Vale da Riba Fria) desenrolava-se no sopé do Castelo de Tomar e do vizinho Convento de Cristo. O seu nome advinha das sete colinas que, em ferradura, com curvatura na ponta oeste e abertura a dar para o rio, o cercavam. Era um conjunto de pequenas propriedades inundado de bosques, várzeas, hortas, olivais, jardins, searas.

D. João III, rei de Portugal, ordena que todos aqueles terrenos fossem comprados. A ideia era juntá-los num só, para os entregar aos monges da Ordem de Cristo, sucessores dos Templários e residentes no convento homónimo, situado a montante, dando-lhes desta forma um espaço exterior dedicado às caminhadas circunspectas e à natureza sagrada. Assim aconteceu, pela mão do viajado Frei António de Lisboa, ele mesmo um membro da ordem.

Logo que as compras e trocas se efectuaram, garantindo um território uno a sul do convento e do castelo, uma longa cerca que aproveitou as antigas muralhas castelãs delimitou o novo espaço – a Cerca Conventual, nome pelo qual ainda é hoje conhecida para os tomarenses. Os freires passariam, desta forma, a ter um perímetro exterior consagrado à contemplação, complementando-o com o isolamento interior do templo, dedicado à oração. Em adição, toda a área fora de portas permitia aos eremitas ali recolhidos alguma auto-sustentabilidade – oliveiras e hortas foram plantadas, fornecidas primeiro pelas fontes naturais que lá surgiam espontaneamente e posteriormente pela água do Aqueduto dos Pegões.

A Cerca Conventual estremava, então, a povoação de Tomar de todo o bosque de veneração pisado pelos cenobitas. Isto durou até, pelo menos, o século XVIII, altura em que um arrendamento da mata – que, por esta altura, já assumia mais a feição de uma quinta – a um cidadão nabantino deu o primeiro sinal de abertura.

Chegado o século XIX e terminada a Guerra Civil, as hostes liberais, vencedoras, declaram o fim das ordens religiosas. A Ordem de Cristo, como consequência, é extinta. E todo o terreno que fora outrora um bosquedo conventual é vendido em praça a Costa Cabral, esse mesmo, o inventor do Cabralismo, que viria a ser Conde de Tomar e, mais tarde, Marquês de Tomar (daqui nascendo o outro nome pelo qual o espaço é lembrado – a Mata do Conde). Duas gerações depois, decorria o ano de 1936, e o neto de Costa Cabral resolve vender toda a propriedade – o comprador é o contribuinte português, vulgo, o Estado. Um par de anos volvidos, a quinta é reorganizada. A intenção é devolver toda a zona intramuros ao povo de Tomar. Durante cerca cinco décadas vão-se sucedendo obras de requalificação e reestruturação até que, em 1986, ganha novo nome: Mata dos Sete Montes. Assim se mantém até ao presente.

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Uma alameda de flores e sebes na Mata dos Sete Montes

A geometria do jardim formal

O grande espaço verde tomarense

A Mata dos Sete Montes está para Tomar como Monsanto para Lisboa ou o Parque da Cidade para o Porto. É a grande mancha verde da terra, infelizmente um pouco ignorada por boa parte dos tomarenses nas últimas duas décadas dada a expansão urbana ter invadido a margem esquerda do Nabão, oposta ao casco histórico, e prolongado para nordeste a partir daí.

De qualquer forma, esforços municipais têm sido feitos de forma a manter a antiga mata conventual como a grande referência da cidade, com alguns frutos – o último deles deu-se com a colocação de um baloiço panorâmico, na ponta ocidental. Apesar de algumas invenções recentes, nomeadamente na política de florestação, certo é que o carácter encantado do bosque se mantém e só alguém com o coração do avesso não o sente.

A entrada é feita pelo lado este, onde o jardim formal, a lembrar alguns franceses, se apresenta como uma introdução aristocrática ao que aí vem. A continuar a grande via criada pelo jardim, vem a Avenida dos Freixos, que termina lá no fundo, junto do Tanque da Cadeira d’El Rey, onde água se armazenava e depois seguia pelo aqueduto até ao convento e às terras cultivadas na mata. Do lado norte, a Torre da Condessa faz a ligação entre o espaço verde e o castelo. A sul, um pinhal recentemente plantado denominado Pinhal de Santa Bárbara estica a mancha arbórea até ao Estaleiro Municipal.

Podemos assumir o jardim e a Avenida dos Freixos como o eixo central da Mata dos Sete Montes. A restante parte, a norte e a sul do eixo, deixa de lado o rigor e a geometria do buxo e retrata com maior exactidão o que deveria ser uma passeata de um monge por trilhos esmagados com a força dos pés. As espécies são incontáveis: aroeiras, pinheiros, medronheiros, choupos, loureiros, agreiras, ciprestes, oliveiras, carvalhos, olaias, freixos, plátanos, ulmeiros… um sem-fim de flora autóctone e flora importada por onde saltita o esquilo vermelho e se amplifica o cantar de toutinegras e pica-paus, entre muitas outras aves reconhecidas pelos olhos lusos.

A mata deve ser explorada sem ordem. Deambular é mesmo a melhor forma de tirar proveito dela. Mas há dois recantos que, pelo mistério, devem fazer obrigatoriamente parte do roteiro. A saber…

Gruta ou Fonte do Sangue

A Gruta do Sangue, cujo nome deriva de uma crença local, fortalecendo o carácter místico do recinto, é um dos mais enigmáticos pontos da mata.

O que sabemos pelos livros é que, aquando da tentativa de invasão do castelo por parte de uma remontada sarracena liderada por Abu Iacube Almançor, que recuperou territórios do Algarve até acima da linha do Tejo, o califado encontrou na fortaleza nabantina o primeiro travão à ofensiva. A batalha durou praticamente uma semana e foi na porta sul do castelo que a carnificina foi total. A partir daí, tal porta ganhou o nome de Porta do Sangue. A seu jusante, isto é, já no espaço da Cerca Conventual, uma cavidade de onde deveria sair água viu escorrer sangue mouro por dias a fio. E a cavidade seguiu o exemplo da porta, ganhando o nome de Gruta do Sangue.

Contudo, não deixa de ser curiosa a forma da lapa, lembrando um pouco o órgão sexual feminino – poderá o sangue que aqui é referido ser uma espécie de menstruação simbólica, um antigo rito telúrico, a que os Templários não eram alheios? Haveria uma iniciação a ser tomada nesta escavação? Na minha opinião, vindo de quem vem, diria que sim. Se depois foi readaptada ao quotidiano da Ordem de Cristo, passada a extinção dos Templários, é outra pergunta. A aceitarmos esta teoria, contudo, teríamos como mais provável ser a gruta da mata a dar o nome à porta que se encontra no castelo, e não a porta a emprestar o nome à gruta, como hoje se crê.

A Fonte de Sangue, na Mata dos Sete Montes

A fonte conhecida como Gruta do Sangue

Charolinha

A charolinha é o objecto mais famoso de toda a Mata dos Sete Montes e o seu nome advém da Charola que existe dentro do próprio convento. Trata-se de um mini templo quinhentista, cercado por um tanque de água, e acedido por uma estreita ponte onde mal cabem dois pés lado a lado. Lá dentro, não o vendo, sabemos estar um banco curvo, a acompanhar a sua planta circular.

Estudiosos garantem que o seu traço é inspirado pelas torres-lanterna que se encontram nas esquinas do Convento de Cristo. Um olhar grosseiro leva a crer que sim. Mas o que realmente a torna especial é a envolvência. O facto de estar cercada de água aprofunda a sua índole religiosa, de reclusão e isolamento, num confronto do homem consigo mesmo, fechado em si.

Ali dentro terão estado monges em desafiante e íntima recolha, entregues a uma meditação escura, reduzidos a uma condição primária, muito concordante com a dos Pobres Cavaleiros de Cristo, que faziam da castidade e da temperança o seu mote.

Tomar – o que fazer, onde comer, onde dormir

Em Tomar, nada do que parece, é. Produto da simbologia Templária, da imaginação do Infante D. Henrique, e da religiosidade da Ordem de Cristo, a cidade tornou-se palco de investigação dos mais diversos académicos - nacionais e internacionais. Não raras vezes, cada monumento conta com mais de três ou quatro interpretações diferentes. É, portanto, justo que algumas visitas se façam acompanhar de alguém que conheça bem as sinuosidades do monumentos visitados, como é o caso da santíssima trindade que se encontra na margem direita do rio Nabão: o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, e a Mata Nacional dos Sete Montes.

Mas além desses três óbvios destinos, só na cidade, há dezenas de outros pontos a picar: a sinagoga, o Café Paraíso, o jardim que guarda a Roda do Mouchão, o Convento de São Francisco, a Igreja de São João Baptista, os Paços do Concelho. Na outra margem do rio, onde o betão domina, a oferta turística é menor, mas ainda assim temos exemplares como a Igreja de Santa Maria do Olival, com uma belíssima fachada de um gótico obscuro.

Nas festividades, é impossível não mencionar a Festa dos Tabuleiros, realizada de quatro em quatro anos. Mas também a pascal Matança dos Judeus, organizada por rapazes e raparigas de Cem Soldos, deve ser vista, bem como a Feira de Santa Iria, no dia 20 de Outubro, ou o orgulhoso Carnaval da Linhaceira, considerado como o mais artesanal de Portugal. Para um público mais jovem, a música pop e rock nacional tem destaque no Festival Bons Sons, também em Cem Soldos.

Nas sempre importantes comidas, há duas iguarias que têm de ser provadas para quem aprecia doces: uma delas é fácil de adivinhar, as Fatias de Tomar, disponíveis em várias cafetarias e restaurantes da terra; a outra é a mais recente invenção nabantina, um pequeno bolo intitulado Beija-me Depressa, que podemos provar, exclusivamente, no café Estrelas de Tomar. Mais quatro restaurantes juntam-se à pool de sítios a ir para manjar à séria - o famoso Tabuleiro; a medieval Taverna Antiqua; o Chico Elias que nos meses invernais tem direito a lareira, mas que requer algum cuidado porque conta com um horário sui generis; e a Lúria, casa de comidas e bebidas regionais onde se destacam alguns pratos sazonais e as açordas.

Para dormir na cidade de Tomar, a escolha é muita. Reduzimos o leque a um par de hipóteses, ficando o leitor a saber que haverá muitas outras, eventualmente tão boas quanto estas: o Hotel República, que não esquece a herança templária nabantina e acolhe-a na sua decoração, e a Casa dos Ofícios, edifício setecentista que recupera as antigas actividades da labora tomarense. Fora do perímetro urbano aconselham-se várias alternativas nas margens do Zêzere, junto à Barragem de Castelo do Bode, como a Casa RioTempo, com vista e acesso para a albufeira, ou a Quinta do Troviscal, um cuidado espaço que goza de privilegiada geografia.

Mais espaços para dormir no concelho de Tomar podem ser vistos em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=39.60138 ; lon=-8.41653

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