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A recente poluição de que tem sido vítima nos últimos anos não lhe pode apagar a história. Na realidade, é mesmo a sua história que deve ser usada para confrontar quem o polui. O rio Nabão, antigo motor económico do concelho de Tomar, está acima dessa ingratidão.

As cruzadas de um rio templário

O rio Nabão é um afluente de um afluente do Tejo. Dito assim, parece irrelevante. Mas não é. Trata-se de um fluxo de água de mais de 60 quilómetros que ajudou a fixar várias povoações, sendo a mais importante delas Tomar, quando Gualdim Pais, Mestre da Ordem dos Templários, procurou as férteis terras que o ladeiam para obrar um novo castelo.

Estando irremediavelmente ligado à cidade tomarense, tanto que os seus habitantes se chamam agora nabantinos, o rio vem lá de cima, das serras beirãs, e não podemos esquecer essa longa viagem que faz antes de chegar às várzeas do concelho de Tomar.

Com efeito, podemos considerar que o rio Nabão se divide em cinco partes, cada uma com características distintas das restantes.

Nabão selvagem

Uma primeira parte que começa na sua nascente no concelho de Ansião, fruto da convergência de várias ribeiras (ainda hoje há quem discuta se a verdadeira origem do rio se situa no poço do Manchinho ou nos Olhos de Água), passando depois ao de leve pelos concelhos de Alvaiázere e Pombal, e que termina sensivelmente no momento em que cruza o concelho de Ourém.

Corresponde, em parte, à zona partilhada com o sítio da Rede Natura 2000 Sicó-Alvaiázere. Tem, neste troço, um perfil marcadamente selvagem e impoluto – embora de difícil acesso -, envolto por densos carvalhos e choupos, por empertigados juncais, e por serras calcárias que ocultam grutas submersas e abrigam bandos de morcegos.

Nabão bucólico

Uma segunda parte que se inicia na fronteira onde cruza o concelho de Ourém, perto da povoação de Parcerias, e termina na Praia Fluvial do Agroal, logo passada a fronteira do concelho de Tomar.

Neste trecho, o Nabão ainda corre estreito, embora se note um gradual engrossamento causado por várias ribeiras que lá desaguam. Encontra algumas vilas de considerável dimensão, como Freixianda ou Formigais, oferecendo vários pontos de aproximação fácil ao caudal do rio.

Nabão activo

Uma terceira parte, esta impulsionadora da actividade fabril tomarense, e que tem o seu princípio na Praia Fluvial do Agroal, que avoluma o seu caudal, e a periferia norte da cidade de Tomar.

Parte significativa deste percurso é feito em fundas gargantas, cujas vertentes, abruptas e verticais, podem ascender aos cem metros de altitude. É o Canhão do Nabão.

Por aqui começamos a ver várias praias que arrefecem os corpos dos nabantinos nos meses de calor, como a já mencionada Praia do Agroal, mas também a da Mendacha, a da Fonte do Caldeirão, ou a da Pedreira. Ao mesmo tempo, vislumbramos neste perímetro os vários exemplares de ruínas industriais que foram, antes, o virabrequim de Tomar.

Nabão urbano

Uma quarta parte, verdadeiramente citadina, e que é determinada pela passagem que faz pela urbe tomarense.

O rio Nabão transforma-se, nesta altura, num órgão estruturante da cidade, separando-a em duas – na margem direita os bairros históricos, na margem esquerda a expansão imobiliária dada no século XX.

É neste eixo que, previsivelmente, mais pontes se sobrepõem ao curso do rio, e é também aqui que encontramos a famosa ilha do Parque do Mouchão onde trabalha a Roda do Mouchão como recordação de tempos antigos.

Nabão velho

E, enfim, uma quinta parte, que corresponde a todo o curso posterior ao território da cidade de Tomar até encontrar a sua foz, no rio Zêzere, não muito longe deste, por sua vez, se entregar ao rio Tejo.

Neste pedaço, o rio Nabão corre vagaroso e cansado, em terras baixas, dando alimento aos campos agrícolas que organizam a terra em ambas as margens. Há, contudo, ainda marcas de actividade industrial, como acontece com a Fábrica de Papel da Marinaia ou a Fábrica de Papel da Matrena.

As águas límpidas da Praia do Agroal

Agroal – a mais procurada das praias fluviais do Nabão

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As fábricas do rio Nabão

Tal como um carro precisa de combustível para andar, as fábricas e moinhos e lagares que se foram instalando junto ao curso do Nabão precisaram das suas águas para produzir.

A arqueologia industrial está lá para nos mostrar essa importância vital do rio para o homem.

Actualmente ainda conseguimos mirar muitos dos antigos açudes, noras e canais que continham e arrancavam água do rio para regar a terra, moer os cereais, ou criar energia. Do Nabão se fazia pão, azeite, papel, seda ou algodão, peças de vestuário. A vastíssima maioria destas unidades fabris morreu. Mas o esqueleto lá repousa, e não raras vezes consegue ser bonito.

São inúmeros os casos, boa parte deles no centro ou na periferia de Tomar. Destaco apenas alguns para evitar sobredosagem de exemplos. Temos, então, de montante para jusante: a Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros, produtora de papel para documentos oficiais como passaportes, tendo finalizado actividade no ano 2000; a Fábrica de Papel do Sobreirinho que, embora já não se dedique a qualquer fabrico, está em mãos de um particular, o que explica o seu bom estado de conservação; a Fábrica de Papel do Prado, dedicada à produção de armamento e só depois de papel, encerrada recentemente, em 2017; a Fábrica da Fiação de Tomar, pioneira no uso da electricidade, actualmente Imóvel de Interesse Público; a Levada de Tomar, agora convertido em museu no centro da cidade, que agrupava um conjunto de moinhos, o Açude dos Frades e os Lagares d’El Rei e foi responsável pela produção de energia eléctrica; a bonita Fábrica de Papel da Marinaia, que fechou portas em 1971 mas conserva boa parte do seu casco; e a Fábrica de Papel da Matrena, que começou por ser uma vidreira, extinta em 1999.

O Nabão e a cidade de Tomar

Se, em certos espaços urbanos, o rio distingue duas localidades – como acontece em Lisboa, no Porto, ou mesmo em Barcelos -, em Tomar ele existe como eixo aglutinador.

Foi o rio que trouxe os templários para um monte deserto. Foi o rio que tornou a Ordem de Cristo, recolhida à Mata dos Sete Montes, autosustentável. Foi o rio que deu ritmo e trabalho a uma população que, de tão crescente, teve de pular para a outra margem.

É certo que quem faz por ir a Tomar procura, normalmente, perder-se na imensidão do Convento de Cristo. Mas não é possível olhar para Tomar sem reconhecer naquela linha de água o seu primórdio.

As zonas de lazer tomarenses encontram-se quase todas à beira-rio – os cafés, a restauração, os jardins, o estádio, a hotelaria, o campismo, o mercado. Tomar é, presentemente, uma expansão que segue paralela ao Nabão, nunca o abandonando.

Basta ver que ainda designamos a zona histórica nabantina como aquém-ponte, e a zona nova como além-ponte. Em Tomar, tudo é apontado e orientado conforme a sua relação com o rio.

A poluição

O problema não é novo. Contudo, tem-se agravado. De vez em quando, sobretudo na altura das cheias, o rio ganha uma espuma suspeita, de cor escura, que se acumula nos intervalos da corrente.

A situação piora quando sabemos que são estas águas a regar terrenos agrícolas, com eventuais implicações na toxicidade dos produtos que daí vêm.

Sabemos que as causas são várias: despejos industriais ilegais e não fiscalizados, estações de tratamento de água que não funcionam na sua plenitude e cuja reabilitação é demasiado custosa para o orçamento camarário, falta de cuidado nas actividades pecuárias ou da produção de azeite.

Tem havido alguma vontade política para resolver o problema, mas não chega. Promoveu-se, há pouco tempo, uma iniciativa da Câmara Municipal de Tomar para limpeza do rio Nabão em todo o perímetro citadino. Ajuda, mas falta o resto, até porque o grande problema parece surgir a montante da cidade. É importante que os cidadãos nabantinos se associem na protecção do seu mais valioso património natural – a solução também está nas pessoas, não só no poder público.

Tomar – o que fazer, onde comer, onde dormir

Em Tomar, nada do que parece, é. Produto da simbologia Templária, da imaginação do Infante D. Henrique, e da religiosidade da Ordem de Cristo, a cidade tornou-se palco de investigação dos mais diversos académicos - nacionais e internacionais. Não raras vezes, cada monumento conta com mais de três ou quatro interpretações diferentes. É, portanto, justo que algumas visitas se façam acompanhar de alguém que conheça bem as sinuosidades do monumentos visitados, como é o caso da santíssima trindade que se encontra na margem direita do rio Nabão: o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, e a Mata Nacional dos Sete Montes.

Mas além desses três óbvios destinos, só na cidade, há dezenas de outros pontos a picar: a sinagoga, o Café Paraíso, o jardim que guarda a Roda do Mouchão, o Convento de São Francisco, a Igreja de São João Baptista, os Paços do Concelho. Na outra margem do rio, onde o betão domina, a oferta turística é menor, mas ainda assim temos exemplares como a Igreja de Santa Maria do Olival, com uma belíssima fachada de um gótico obscuro.

Nas festividades, é impossível não mencionar a Festa dos Tabuleiros, realizada de quatro em quatro anos. Mas também a pascal Matança dos Judeus, organizada por rapazes e raparigas de Cem Soldos, deve ser vista, bem como a Feira de Santa Iria, no dia 20 de Outubro, ou o orgulhoso Carnaval da Linhaceira, considerado como o mais artesanal de Portugal. Para um público mais jovem, a música pop e rock nacional tem destaque no Festival Bons Sons, também em Cem Soldos.

Nas sempre importantes comidas, há duas iguarias que têm de ser provadas para quem aprecia doces: uma delas é fácil de adivinhar, as Fatias de Tomar, disponíveis em várias cafetarias e restaurantes da terra; a outra é a mais recente invenção nabantina, um pequeno bolo intitulado Beija-me Depressa, que podemos provar, exclusivamente, no café Estrelas de Tomar. Mais quatro restaurantes juntam-se à pool de sítios a ir para manjar à séria - o famoso Tabuleiro; a medieval Taverna Antiqua; o Chico Elias que nos meses invernais tem direito a lareira, mas que requer algum cuidado porque conta com um horário sui generis; e a Lúria, casa de comidas e bebidas regionais onde se destacam alguns pratos sazonais e as açordas.

Para dormir na cidade de Tomar, a escolha é muita. Reduzimos o leque a um par de hipóteses, ficando o leitor a saber que haverá muitas outras, eventualmente tão boas quanto estas: o Hotel República, que não esquece a herança templária nabantina e acolhe-a na sua decoração, e a Casa dos Ofícios, edifício setecentista que recupera as antigas actividades da labora tomarense. Fora do perímetro urbano aconselham-se várias alternativas nas margens do Zêzere, junto à Barragem de Castelo do Bode, como a Casa RioTempo, com vista e acesso para a albufeira, ou a Quinta do Troviscal, um cuidado espaço que goza de privilegiada geografia.

Mais espaços para dormir no concelho de Tomar podem ser vistos em baixo:

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