Café Paraíso
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Em Tomar, a rua Serpa Pinto, ainda conhecida pelos locais como a histórica rua da Corredoura, tem no Café Paraíso um porto seguro para gaiatos, adolescentes, jovens adultos, meia idade, reformados. Já leva mais de cem anos de história e está para durar.
Amizade e família
Por razões pessoais, tenho uma grande admiração por espaços de convívio que florescem da amizade. O Paraíso, como muitas vezes é tratado, abriu negócio no dia 20 de Maio de 1911, nem um ano após a implantação da república, e foi uma iniciativa de um grupo de cinco amigos, organizados numa sociedade com um nome premonitório – “Empreza do Paraíso de Thomar”. Estávamos no prelúdio da art déco, e a cafetaria seria altamente influenciada pelo seu movimento modernista que privilegiava o aparato e o luxo.
Numa altura tão conturbada quanto foi a da 1ª República, faço ideia o difícil que deve ter sido para estes cinco comparsas arriscar uma iniciativa destas – e imagino, de igual forma, as discussões que lá aconteceram, entre a elite saudosista monárquica e a elite progressista republicana.
De qualquer forma, da mão cheia de sócios, só um acabou por prosseguir com o botequim. Foi Manuel Cândido da Mota que comprou a quota dos restantes. Morreu de um enfarte que atacou quando estava no Café Paraíso e, desde essa altura, o negócio não mais largou a família. Esteve muitos anos nas mãos de Manuel Mota Grego (sobrinho de Manuel Cândido da Mota), conhecido localmente por senhor Manel, e irredutível aficcionado da União de Tomar. Passou depois pelas mãos de Maria do Rosário Grego e Maria Luísa Grego, até chegar aos actuais gestores Xana Grego e o seu marido Pedro Santos.
As colunas forradas a mármore
Arquitectura
A maior parte do que vemos vem da restauração que aconteceu em 1946, promovida por Manuel Mota Grego com as linhas de um arquitecto nortenho, de nome Granja – as cadeiras, que se mantêm originais; os vidros venezianos que aprofundam a sala; as colunas cobertas com massa a replicar mármore; o par de ventoinhas pregado ao tecto que, conscientemente, divide o espaço em dois. A antiga máquina de café também lá está, bem conservada, tal como as revistas da Flama, a lembrar-nos que estamos em sítio histórico.
De fora ficaram as cinco portas ogivais da fachada, tal como as janelas, substituídas por uma desafogada montra que permanece.
De 1946 para a frente, as alterações ao Paraíso passam mais por reparações e exercícios de manutenção periódica do que por reformulação estética. Ainda bem, acrescento eu. Sobrevaloriza-se a mudança. Mexer no que está bom é meio caminho andado para a asneira.
As gentes
A clientela do Paraíso foi mudando radicalmente com o tempo.
No início, e talvez durante quase todo o período do Estado Novo, era um café burguês, a combinar com a decoração, com mesas reservadas a profissionais bem pagos, como engenheiros, advogados, médicos. Alguma intelectualidade, sabemos, também lá parava – da Esquerda à Direita, segundo vários testemunhos de quem o frequentava diariamente.
A actual gerente, Alexandra Grego, ou Xana para quem a conhece desde sempre, diz que se lembra de lá ver Umberto Eco, o que não é de estranhar, sabendo que o escritor tinha um vivo interesse pela história dos Templários e um profundo fascínio pelo simbolismo embutido no Convento de Cristo, bem transparente no seu livro “O pêndulo de Foucault“. Fernando Lopes-Graça, compositor nascido em Tomar, passou lá vários serões.
Com o tempo, e depois de, em 1974, os espaços da bourgeoisie portuguesa se democratizarem, o Café Paraíso tornou-se destino de massas. Turistas, artistas, pensadores, políticos, como já era hábito. Mas também reformados e idosos, classe operária, estudantes e visitantes curiosos.
Ganhou fama pelos concertos, exposições, apresentações, e espectáculos de teatro que recebeu. Também documentários, filmes publicitários e episódios de novela foram lá gravados.
É hoje um sítio de todos. Não há idades. Não há nacionalidades.
Para o perceber, passe-se um dia inteiro lá. De manhã é uma normal cafetaria que serve pequenos-almoços a apressados que se querem pôr a horas no trabalho. À tarde vê-se ocupado por velhinhas e velhotes a gozarem os anos da reforma no calor vaporizado do chá das cinco, por vezes acompanhado pela popular tosta de frango. Pela noite, os jovens que frequentam o Instituto Politécnico de Tomar, principalmente os ligados às artes, transformam o Paraíso num surpreendente bar, até numa discoteca acendida a música electrónica, nas noites de sextas e sábados.
É por causa desta salganhada que o povo passou a dizer que o Café Paraíso é paraíso de manhã, purgatório à tarde, inferno à noite. Como a laranja, que de manhã é ouro, à tarde é prata, e à noite mata.
Tomar – o que fazer, onde comer, onde dormir
Em Tomar, nada do que parece, é. Produto da simbologia Templária, da imaginação do Infante D. Henrique, e da religiosidade da Ordem de Cristo, a cidade tornou-se palco de investigação dos mais diversos académicos - nacionais e internacionais. Não raras vezes, cada monumento conta com mais de três ou quatro interpretações diferentes. É, portanto, justo que algumas visitas se façam acompanhar de alguém que conheça bem as sinuosidades do monumentos visitados, como é o caso da santíssima trindade que se encontra na margem direita do rio Nabão: o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, e a Mata Nacional dos Sete Montes.
Mas além desses três óbvios destinos, só na cidade, há dezenas de outros pontos a picar: a sinagoga, o Café Paraíso, o jardim que guarda a Roda do Mouchão, o Convento de São Francisco, a Igreja de São João Baptista, os Paços do Concelho. Na outra margem do rio, onde o betão domina, a oferta turística é menor, mas ainda assim temos exemplares como a Igreja de Santa Maria do Olival, com uma belíssima fachada de um gótico obscuro.
Nas festividades, é impossível não mencionar a Festa dos Tabuleiros, realizada de quatro em quatro anos. Mas também a pascal Matança dos Judeus, organizada por rapazes e raparigas de Cem Soldos, deve ser vista, bem como a Feira de Santa Iria, no dia 20 de Outubro, ou o orgulhoso Carnaval da Linhaceira, considerado como o mais artesanal de Portugal. Para um público mais jovem, a música pop e rock nacional tem destaque no Festival Bons Sons, também em Cem Soldos.
Nas sempre importantes comidas, há duas iguarias que têm de ser provadas para quem aprecia doces: uma delas é fácil de adivinhar, as Fatias de Tomar, disponíveis em várias cafetarias e restaurantes da terra; a outra é a mais recente invenção nabantina, um pequeno bolo intitulado Beija-me Depressa, que podemos provar, exclusivamente, no café Estrelas de Tomar. Mais quatro restaurantes juntam-se à pool de sítios a ir para manjar à séria - o famoso Tabuleiro; a medieval Taverna Antiqua; o Chico Elias que nos meses invernais tem direito a lareira, mas que requer algum cuidado porque conta com um horário sui generis; e a Lúria, casa de comidas e bebidas regionais onde se destacam alguns pratos sazonais e as açordas.
Para dormir na cidade de Tomar, a escolha é muita. Reduzimos o leque a um par de hipóteses, ficando o leitor a saber que haverá muitas outras, eventualmente tão boas quanto estas: o Hotel República, que não esquece a herança templária nabantina e acolhe-a na sua decoração, e a Casa dos Ofícios, edifício setecentista que recupera as antigas actividades da labora tomarense. Fora do perímetro urbano aconselham-se várias alternativas nas margens do Zêzere, junto à Barragem de Castelo do Bode, como a Casa RioTempo, com vista e acesso para a albufeira, ou a Quinta do Troviscal, um cuidado espaço que goza de privilegiada geografia.
Mais espaços para dormir no concelho de Tomar podem ser vistos em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=39.60399 ; lon=-8.4139