Matança dos Judeus

by | 16 Mar, 2016 | Abril, Festas, Março, Províncias, Ribatejo, Tradições

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No Domingo de Páscoa, na pequena povoação de Cem Soldos (agora conhecida por abrigar um festival de música portuguesa), faz-se a que é popularmente conhecida como Matança dos Judeus, ou, usando um nome menos sanguinário, a Festa da Aleluia, ou ainda, como terceira alternativa, a Procissão das Cruzes.

A Festa da Aleluia de Cem Soldos

O seu nome encontra equivalente em ritos organizados por outras zonas do país nesta altura do ano, como as dezenas de Queimas do Judas que, por esta altura, celebram a entrada na Primavera. No entanto, em Cem Soldos, o ritual a que esta festa obedece é atípico.

Comemora, oficialmente, a Ressurreição de Cristo. Digo oficialmente porque na verdade poderá estar ligada a outro tipo de sacralizações, como não será difícil de desconfiar quando descrever o que lá se passa. E é por aí que começamos.

Dias antes da festa, normalmente a partir de Quinta-Feira, rapazes montam cruzes feitas de cana, e no seu centro, onde Cristo deveria estar, são apresentadas flores silvestres. Já as raparigas recolhem, na véspera da festividade, ramos floreais. Ambos, homens e mulheres, deverão, na manhã de Domingo de Páscoa, trazer respectivamente as suas cruzes e os seus ramalhetes. Aí, antes de alguma coisa começar, uns miúdos, envergando uma capa escarlate, louvam a Ressurreição, em discursos e cânticos. Depois, encabeçada pelos mesmos, faz-se a procissão, acompanhada por gritos de aleluias alusivos a Cristo. A segui-los estão os restantes rapazes e raparigas, com as cruzes montadas e os bouquets improvisados. E no final, chegando à parte mais enigmática, partem as cruzes à entrada da igreja, de forma, digamos, contundente. Destroem tudo até que quase nada sobre para desfazer. E fazem-no, segundo testemunhos de alguns velhos participantes, para mostrarem a revolta da morte de Cristo às mãos dos Judeus. Será mesmo assim? Provavelmente, não, e o nome Matança dos Judeus saiu cá para fora como uma forma de diabolizar esse povo e, ao mesmo tempo, como uma rocambolesca maneira da igreja conseguir legitimar (e explicar, ainda que mal) um gesto provocatório que de católico nada tem.

Origem da Procissão das Cruzes de Cem Soldos

O porquê de tal heresia acontecer é difícil de dizer com certeza. Mas haverá quem avance por uma via que me parece lógica, numa perspectiva histórica e geográfica.

Olhando para o mapa, estamos em pleno campo da Ordem do Templo – Cem Soldos encontra-se a aproximadamente cinco quilómetros de distância da Templária cidade de Tomar, e o próprio nome da aldeia, segundo uma das teorias, tem origem na Ordem do Templo (cem soldos poderia, eventualmente, ser o pagamento feito à Ordem).

Virá este ritual daí? Tendo em conta que os Cavaleiros Monges foram até acusados de negar a cruz, talvez sim. E lembrando o desapego que os Templários tinham por tudo o que era material, a coisa encaixa.

E nesse caso, o partir da cruz significará o abdicar da matéria como metáfora do homem emancipado, encontrado com o seu eu espiritual, que não precisa de objectos (isto é, de cruzes, neste caso) para sentir o sagrado. Tendo em conta que quem encima esta procissão são jovens que rondam as idades de fim de adolescência, esta explicação terá ainda mais sentido enquanto fenómeno de passagem para a idade adulta – como acontece no nordeste, em Dezembro, nas Festas dos Rapazes, que podem ser vistas em Varge ou em Ousilhão.

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Tomar – o que fazer, onde comer, onde dormir

Em Tomar, nada do que parece, é. Produto da simbologia Templária, da imaginação do Infante D. Henrique, e da religiosidade da Ordem de Cristo, a cidade tornou-se palco de investigação dos mais diversos académicos - nacionais e internacionais. Não raras vezes, cada monumento conta com mais de três ou quatro interpretações diferentes. É, portanto, justo que algumas visitas se façam acompanhar de alguém que conheça bem as sinuosidades do monumentos visitados, como é o caso da santíssima trindade que se encontra na margem direita do rio Nabão: o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, e a Mata Nacional dos Sete Montes.

Mas além desses três óbvios destinos, só na cidade, há dezenas de outros pontos a picar: a sinagoga, o Café Paraíso, o jardim que guarda a Roda do Mouchão, o Convento de São Francisco, a Igreja de São João Baptista, os Paços do Concelho. Na outra margem do rio, onde o betão domina, a oferta turística é menor, mas ainda assim temos exemplares como a Igreja de Santa Maria do Olival, com uma belíssima fachada de um gótico obscuro.

Nas festividades, é impossível não mencionar a Festa dos Tabuleiros, realizada de quatro em quatro anos. Mas também a pascal Matança dos Judeus, organizada por rapazes e raparigas de Cem Soldos, deve ser vista, bem como a Feira de Santa Iria, no dia 20 de Outubro, ou o orgulhoso Carnaval da Linhaceira, considerado como o mais artesanal de Portugal. Para um público mais jovem, a música pop e rock nacional tem destaque no Festival Bons Sons, também em Cem Soldos.

Nas sempre importantes comidas, há duas iguarias que têm de ser provadas para quem aprecia doces: uma delas é fácil de adivinhar, as Fatias de Tomar, disponíveis em várias cafetarias e restaurantes da terra; a outra é a mais recente invenção nabantina, um pequeno bolo intitulado Beija-me Depressa, que podemos provar, exclusivamente, no café Estrelas de Tomar. Mais quatro restaurantes juntam-se à pool de sítios a ir para manjar à séria - o famoso Tabuleiro; a medieval Taverna Antiqua; o Chico Elias que nos meses invernais tem direito a lareira, mas que requer algum cuidado porque conta com um horário sui generis; e a Lúria, casa de comidas e bebidas regionais onde se destacam alguns pratos sazonais e as açordas.

Para dormir na cidade de Tomar, a escolha é muita. Reduzimos o leque a um par de hipóteses, ficando o leitor a saber que haverá muitas outras, eventualmente tão boas quanto estas: o Hotel República, que não esquece a herança templária nabantina e acolhe-a na sua decoração, e a Casa dos Ofícios, edifício setecentista que recupera as antigas actividades da labora tomarense. Fora do perímetro urbano aconselham-se várias alternativas nas margens do Zêzere, junto à Barragem de Castelo do Bode, como a Casa RioTempo, com vista e acesso para a albufeira, ou a Quinta do Troviscal, um cuidado espaço que goza de privilegiada geografia.

Mais espaços para dormir no concelho de Tomar podem ser vistos em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=39.58644 ; lon=-8.452295

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