Beija-me Depressa
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Um doce rápido e guloso. Como um ósculo. Deve ter sido esse o raciocínio da pastelaria Estrelas de Tomar para o chamarem Beija-me Depressa.
Um beijo de Tomar
A epifania veio de Jacinto, um homem que trabalhava em Tomar como destacado do jornal Diário de Notícias que, deduzo, tinha outros gostos para além do jornalismo. A pastelaria e o Beija-me Depressa foram invenção dele. Graças a Deus, alguém lhe deu um afilhado, pois foi este, de nome Henrique Neves, antigo funcionário da famosa Mexicana das Avenidas Novas de Lisboa, que prolongou o projecto, agora nas mãos do seu neto.
São doze bolos, pequenos e arredondados, a empurrarem-se mutuamente numa caixa que, por casmurrice, se recusou a modernizar o seu look retro – felizmente. O tamanho é perfeito. Ajusta-se à boca e, naquela dose, trava o enjoo. Um beijo bem dado não tem de ser prolongado.
Convém fazer notar que a nossa doçaria gosta de recorrer ao beijo para nomear coisas sacarosas. Os Beijinhos de Freira (de Vila do Conde), os Beijinhos de Mértola, os Beijinhos Esquecidos (de Lagoa), e os Beijinhos de Lorvão, são todos pequenos pedaços de bolo que, com algumas variâncias, resumem os seus ingredientes aos mesmos que o Beija-me Depressa tomarense: açúcar e ovo.
Há, portanto, uma apetência para os criadores de gulodice em Portugal equivalerem os seus produtos ao acto de namorar. Faz sentido, uma mulher esbelta é tão doce como um doce. A escolha do nome, na realidade, teve um efeito prático previsível: no dia de São Valentim, a procura cresce exponencialmente, e a pastelaria, excepcionalmente, chega a exportá-los para fora do seu posto de venda.
Fora essa altura do ano, se os quisermos, temos mesmo de ir à cidade nabantina, ou pedir a alguém que lá vá por nós – e idealmente que se chegue pela manhã, pela tarde o risco de estarem esgotados é alto. A pastelaria Estrelas de Tomar fica numa esplanada sobre o Nabão, na mítica rua da Corredoura, hoje chamada rua Serpa Pinto, a mesma que acolhe o também icónico e centenário Café Paraíso. A fábrica que os produz, parte da mesma sociedade, situa-se na periferia tomarense.
Receita
Pela centésima vez, digo neste espaço que nunca há uma receita institucional para uma iguaria tão única. Caso contrário, ninguém precisaria de os comprar. O que temos são receitas de aproximação, e basta. Não vale a pena querer saber o que está escondido na manga dos vários cozinheiros, pasteleiros e padeiros portugueses.
A forma mais fácil de criar um lote de bolinhos Beija-me Depressa é com água, açúcar, manteiga, farinha de trigo, gema de ovo e óleo.
O processo é simples.
Enfiar açúcar numa panela e água em quantidade suficiente para o cobrir. Ferve-se e espera-se até que o composto fique no resistente ponto de pérola. Chegado esse momento, retiramos do lume e enlameamos manteiga no caldo. A temperatura vai baixando e enquanto isso acontece vamos juntando as gemas, à vez, mexendo, e no fim adicionamos a farinha. Depois é mexer e mexer e mexer.
Vai novamente a lume, mas desta vez sem ferver. Deixar estar até que se obtenha ponto de estrada. Depois disso, há duas opções: ou colocamos numa tigela bem oleada e deixamos a massa estagiar para o dia seguinte, ou esquecemos o estágio e metemos logo mãos à obra. Seja qual for a opção, o ideal é que oleemos sempre as nossas mãos quando decidirmos arrancar pedaços daquela pasta para as arredondar e polir de açúcar em pó a sua superfície.
Tomar – o que fazer, onde comer, onde dormir
Em Tomar, nada do que parece, é. Produto da simbologia Templária, da imaginação do Infante D. Henrique, e da religiosidade da Ordem de Cristo, a cidade tornou-se palco de investigação dos mais diversos académicos - nacionais e internacionais. Não raras vezes, cada monumento conta com mais de três ou quatro interpretações diferentes. É, portanto, justo que algumas visitas se façam acompanhar de alguém que conheça bem as sinuosidades do monumentos visitados, como é o caso da santíssima trindade que se encontra na margem direita do rio Nabão: o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, e a Mata Nacional dos Sete Montes.
Mas além desses três óbvios destinos, só na cidade, há dezenas de outros pontos a picar: a sinagoga, o Café Paraíso, o jardim que guarda a Roda do Mouchão, o Convento de São Francisco, a Igreja de São João Baptista, os Paços do Concelho. Na outra margem do rio, onde o betão domina, a oferta turística é menor, mas ainda assim temos exemplares como a Igreja de Santa Maria do Olival, com uma belíssima fachada de um gótico obscuro.
Nas festividades, é impossível não mencionar a Festa dos Tabuleiros, realizada de quatro em quatro anos. Mas também a pascal Matança dos Judeus, organizada por rapazes e raparigas de Cem Soldos, deve ser vista, bem como a Feira de Santa Iria, no dia 20 de Outubro, ou o orgulhoso Carnaval da Linhaceira, considerado como o mais artesanal de Portugal. Para um público mais jovem, a música pop e rock nacional tem destaque no Festival Bons Sons, também em Cem Soldos.
Nas sempre importantes comidas, há duas iguarias que têm de ser provadas para quem aprecia doces: uma delas é fácil de adivinhar, as Fatias de Tomar, disponíveis em várias cafetarias e restaurantes da terra; a outra é a mais recente invenção nabantina, um pequeno bolo intitulado Beija-me Depressa, que podemos provar, exclusivamente, no café Estrelas de Tomar. Mais quatro restaurantes juntam-se à pool de sítios a ir para manjar à séria - o famoso Tabuleiro; a medieval Taverna Antiqua; o Chico Elias que nos meses invernais tem direito a lareira, mas que requer algum cuidado porque conta com um horário sui generis; e a Lúria, casa de comidas e bebidas regionais onde se destacam alguns pratos sazonais e as açordas.
Para dormir na cidade de Tomar, a escolha é muita. Reduzimos o leque a um par de hipóteses, ficando o leitor a saber que haverá muitas outras, eventualmente tão boas quanto estas: o Hotel República, que não esquece a herança templária nabantina e acolhe-a na sua decoração, e a Casa dos Ofícios, edifício setecentista que recupera as antigas actividades da labora tomarense. Fora do perímetro urbano aconselham-se várias alternativas nas margens do Zêzere, junto à Barragem de Castelo do Bode, como a Casa RioTempo, com vista e acesso para a albufeira, ou a Quinta do Troviscal, um cuidado espaço que goza de privilegiada geografia.
Mais espaços para dormir no concelho de Tomar podem ser vistos em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=39.60444 ; lon=-8.41222