Monte de São Gens
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No Monte de São Gens, na Trofa, temos três diferentes cultos: um ao próprio São Gens, outro à Senhora da Alegria, e outro à Paixão de Cristo. Para lá disso, revela-se o melhor miradouro sobre a cidade, bem como um destino certo para os fãs das caminhadas.
Os três cultos do Monte de São Gens
É comum em Portugal existir um monte junto a cada burgo que o povo vê como sagrado. Por vezes, sobretudo na zona Centro e na zona Norte, dado o relevo acidentado do terreno, até há mais do que apenas um templo deste tipo.
Na Trofa, assunto que aqui interessa falar, esse outeiro é o chamado Monte de São Gens, a sudoeste da urbe, na freguesia de Alvarelhos. Do centro da cidade até aqui demoramos cerca de uma hora a pé – distância que não demove muitos trofenses de percorrerem tal caminho, seja individualmente, seja em romaria, o que confirma o monte como epicentro natural e religioso do concelho.
O que já não se pode considerar prática comum é que no mesmo outeiro se juntem três cultos que, pelo menos em aparência, nada têm em comum que não serem os três cristãos (e mesmo isso é dúbio, como se verá). Comecemos, então, por os resumir, um por um.
A Via Sacra no Monte de São Gens
Para quem sobe o Monte de São Gens em direcção ao seu topo, o primeiro motivo religioso que apanha é um alinhamento de cruzes graníticas centradas num comprido largo. A estes cruzeiros acorrem os trofenses nas celebrações pascais.
Trata-se de uma representação da Via-Sacra, o caminho percorrido por Jesus até à sua crucificação. A intenção é estabelecer-se um paralelismo entre a subida de Cristo ao monte Gólgota e a subida do viajante, neste caso, ao Monte de São Gens. Este retrato é frequente em variadíssimos montes sacros portugueses, alguns até tornados símbolos incontornáveis do património nacional, como acontece com o Bom Jesus de Braga ou a Senhora dos Remédios de Lamego.
Em grande parte das vezes, essas colinas já eram antes tidas como divinas, mesmo em tempos pré-cristãos, e a alegoria à Via-Sacra de Cristo funciona como fórmula para cristianizar lugares tidos como pagãos.
A Senhora da Alegria
No topo da colina damos com uma estátua de Maria com Jesus menino ao seu colo, enquanto parece dedilhar as cordas de uma harpa. Maria é aqui celebrada enquanto Senhora da Alegria – num registo diametralmente oposto à Senhora das Dores que se encontra na cidade. A harpa guardada nas mãos da Senhora e a Alegria com que esta é adjectivada estão ligadas. Diz-nos Chevalier que “o som da harpa simboliza […] a procura de felicidade”.
Menos fácil de compreender é o facto de aqui virem, na terceira Segunda-Feira de Setembro, homens do mar, pescadores de Matosinhos, de Vila do Conde e da Póvoa de Varzim. Daqui, na verdade, vemos o mar, lá ao longe. Talvez isso explique.
Capela de São Gens
Entre os já mencionados cruzeiros da Via-Sacra e a escultura da Senhora da Alegria, uma recente capela, cuja construção remonta ao final da década de 1950, tem como orago São Gens.
São Gens é um santo que, em Portugal, é quase sempre dedicado aos montes, isto é, afirma-se como um culto das alturas. Com efeito, é raro o lugar que celebra São Gens que não se revela um majestoso miradouro sobre um amplo vale. Veremos alguns exemplos.
Na Beira Baixa, há um outro Monte de São Gens, em Mação, sobre o qual se conta uma lenda acerca de uma imagem do santo que sempre que era retirada do topo da colina onde foi encontrada, ela para lá retornava, sem se perceber como. Não muito longe da Trofa, a românica Igreja de São Gens de Boelhe, no concelho de Penafiel, do alto da colina onde se instala goza de bela vista para o rio Tâmega. E indo para sul, é impossível não nos lembrarmos do magnífico miradouro da Senhora do Monte, em Lisboa, sobranceiro a quase toda a cidade histórica, e que esconde a célebre Cadeira de São Gens onde grávidas se sentam a pedir ajuda na altura do parto – São Gens é, de resto, tido como um possível bispo de Lisboa ainda na altura da ocupação romana.
A par desta característica que coloca São Gens como um santo dos montes, lembremos também as palavras de Paulo Pereira acerca deste enigmático bem-aventurado: “Anote-se ainda o facto de São Gens (tal como São Gião, São Julião e São João) ser um santo solsticial, ligado portanto aos ciclos produtivos”. Sobre isso, acrescenta que a palavra Gens é uma contracção de Génese, a origem da vida. Talvez por isso a Senhora da Alegria que esculpiram no cume do Monte de São Gens se encontra com o seu filho ao colo. A sublinhar esse elo de São Gens com a Senhora Mãe de Cristo está um antigo costume que se fazia por altura da romaria, quando o Sábado era dia dedicado à Consagração das Mães. A mesma romaria ainda acontece nos dias de hoje, no primeiro fim de semana de Setembro.
Capela de São Gens, no monte homónimo
Senhora da Alegria, no topo do Monte de São Gens
Trofa – o que fazer, onde comer, onde dormir
A Trofa é um dos municípios mais recentes de Portugal. Desde que a antiga estação de comboios apareceu (e que está agora requalificada no espaço da Alameda da Estação), no final do século XIX, que as várias freguesias do Bougado, que posteriormente viriam a ser englobadas no concelho trofense, não cessaram de crescer. Antes, pela indústria. Agora, pela posição suburbana que têm relativamente ao Porto, e cuja fronteira nordeste se estabelece no rio Ave.
Ainda assim, a Trofa afasta-se do conceito de cidade-dormitório. Soube conservar boa parte do seu património histórico (como acontece com o Castro de Alvarelhos ou os Marcos Miliários da Casa da Cultura), cultural (como uma ida à romaria da Festa de Nossa Senhora das Dores ou a visita a uma oficina dos Santeiros de São Mamede do Coronado explicarão) e natural (como o recente Parque das Azenhas ou o sagrado Monte de São Gens mostram).
Nas comidas, há uma propensão para a feitura do leitão, a lembrar a da Bairrada, e tal comparação pode ser comprovada indo aos restaurantes Flor do Ave, Lina ou Adega Regional Os Bairristas, entre outros que este escriba não teve oportunidade de pôr pé. A simplicidade dos grelhados do Tourigalo não faz mal a ninguém e tem preço em conta. Depois há a fábrica da Post Scriptum que os fãs de cerveja artesanal irão gostar pela certa, podendo esta também ser tragada na simpática Malte Taberna.
Quanto a hotelaria, a oferta não é muita, provavelmente pela quantidade de hotéis e derivados que existem na cidade Invicta. Mesmo assim, há espaço para a magnífica casa Porto-Braga Country Side, em Alvarelhos.
Mais ofertas para dormir na Trofa podem ser vistas em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.31973 ; lon=-8.59452