Casa da Cultura da Trofa
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Casas da Cultura há milhares em Portugal. Todas funcionam como eixo educativo e artístico de determinados concelhos ou freguesias, ora como espaço museológico, ora como palco de actividades lúdicas, ora como promotor de palestras cuja temática seja, de alguma forma, estimada do lugar que representam. Já as que têm uma curiosa história para contar acerca do imóvel onde assentaram funções, são apenas uma minoria. E dessas, as que guardam um Monumento Nacional lá dentro, reduzem-se a uma dúzia. A Casa da Cultura da Trofa passa ambas as filtragens. Faz parte dessa pequena dose de espaços culturais que devem ser vistos quando somos propelidos para a sua vizinhança.
A casa de Sam
A Casa da Cultura da Trofa já foi chamada de Casa de Sam. Não que o seu dono se chamasse Sam ou Samuel. Na verdade, o nome do proprietário – Manuel Ferreira da Silva – em nada correspondia com o apelido dado ao edifício. Pelo menos em aparência. A história é longa e começa fora do concelho da Trofa.
Não são apenas as pessoas que fazem malas e se mudam para determinado sítio. Em raros casos, as casas também. São imóveis que contrariam o próprio conceito e se movem. É o caso da Casa da Cultura da Trofa, cuja fachada, no século XIX, pertencia a uma artéria central da cidade do Porto: a rua do Laranjal. Como aconteceu com várias vielas e ruelas portuenses por altura da construção da luxuosa Avenida dos Aliados, no início do século XX, a rua do Laranjal foi desfeita e sacada do mapa do Porto.
Prestigiantes lojas que lá existiam mudaram de lugar ou desapareceram – o Ginásio Lauret, o Hotel Francfort, ou o Grémio Comercial do Porto, para destacar algumas das mais importantes. No meio daquele bulício burguês, uma fachada chamou a atenção de um tal de Manuel Ferreira da Silva, homem natural de Santiago de Bougado, dedicado ao negócio da madeira, numa altura em que a sua terra-natal assistia a um crescente boom industrial a reboque da implantação da antiga Estação de Comboios da Trofa. Ferreira da Silva, provavelmente sabendo dos planos para destruição de tal nobre peça de arquitectura, decidiu comprar toda a frontaria do edifício.
Posto isto, resolveu colocar um número em cada uma das pedras da fachada, depois desmontou-a, transportou o puzzle até um terreno que tinha no Souto da Lagoa, e aí a reconstituiu, praticamente igual à que estava no Porto, com excepção do sótão. Assim se estabeleceu a Casa de Sam, natural do Porto, agora residente no Bougado. Sam porque estas são conhecidas como as terras de Sam ou de São – no Parque das Azenhas, na fronteira norte do concelho da Trofa, há uma azenha que também leva com o nome de Azenha de Sam.
Ficou a casa da família por anos valentes. Passou várias gerações de Ferreiras da Silva, mesmo depois do seu obreiro morrer. E só no presente século XXI mudou de mãos, quando o recém criado concelho da Trofa a adquiriu à família para lá montar a sua Casa da Cultura.
Os Marcos Miliários
Para lá da curiosa história da fachada da Casa da Cultura da Trofa, um outro importante activo trofense está guardado lá dentro – um par de marcos romanos encontram-se expostos, lado a lado, numa sala criada só para esse efeito. Um alto e nobre, o outro baixo e bruto, a lembrar D. Quixote e Sancho Panza caso estes petrificassem e tivessem quase dois milénios a menos.
Os Marcos Miliários do antigo Império Romano eram colocados à beira das estradas principais – no fundo, aquelas que Roma construiu – e contavam as distâncias para quem nelas caminhava, utilizando como unidade o milhar de passos, actualmente 1480 metros. O hábito de identificar, através de determinada escala, quanto caminho já fizemos ou quanto caminho falta percorrer é bastante actual – bastará olhar para as placas com o número de quilómetros que vão aparecendo numa qualquer autoestrada. Nos Marcos Miliários, contudo, não era apenas o numerário que importava. Também o nome do Imperador lá estava gravado, numa prova de propaganda imperial, para que ninguém esquecesse, por muito longe que estivesse, onde andava o poder.
No caso desta parelha de Marcos Miliários, ela fazia parte da via que ligava Lisboa (ou Olisipo) a Braga (ou Bracara Augusta), passando pelo Porto (ou Cale). Num deles, o mais alto, podemos ver a inscrição dedicada ao imperador Constâncio II, e ainda ler, no final, os seguintes caracteres: E BRAC / M P XXI (traduzindo, qualquer coisa como distância de XXI milhas [romanas] para Bracara Augusta). No outro, o mais baixo, menos se consegue decifrar – apenas o nome do imperador, neste caso, Licínio.
Em conjunto, os Marcos Miliários da Casa da Cultura da Trofa são considerados Monumento Nacional.
Trofa – o que fazer, onde comer, onde dormir
A Trofa é um dos municípios mais recentes de Portugal. Desde que a antiga estação de comboios apareceu (e que está agora requalificada no espaço da Alameda da Estação), no final do século XIX, que as várias freguesias do Bougado, que posteriormente viriam a ser englobadas no concelho trofense, não cessaram de crescer. Antes, pela indústria. Agora, pela posição suburbana que têm relativamente ao Porto, e cuja fronteira nordeste se estabelece no rio Ave.
Ainda assim, a Trofa afasta-se do conceito de cidade-dormitório. Soube conservar boa parte do seu património histórico (como acontece com o Castro de Alvarelhos ou os Marcos Miliários da Casa da Cultura), cultural (como uma ida à romaria da Festa de Nossa Senhora das Dores ou a visita a uma oficina dos Santeiros de São Mamede do Coronado explicarão) e natural (como o recente Parque das Azenhas ou o sagrado Monte de São Gens mostram).
Nas comidas, há uma propensão para a feitura do leitão, a lembrar a da Bairrada, e tal comparação pode ser comprovada indo aos restaurantes Flor do Ave, Lina ou Adega Regional Os Bairristas, entre outros que este escriba não teve oportunidade de pôr pé. A simplicidade dos grelhados do Tourigalo não faz mal a ninguém e tem preço em conta. Depois há a fábrica da Post Scriptum que os fãs de cerveja artesanal irão gostar pela certa, podendo esta também ser tragada na simpática Malte Taberna.
Quanto a hotelaria, a oferta não é muita, provavelmente pela quantidade de hotéis e derivados que existem na cidade Invicta. Mesmo assim, há espaço para a magnífica casa Porto-Braga Country Side, em Alvarelhos.
Mais ofertas para dormir na Trofa podem ser vistas em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.33778 ; lon=-8.57407