A lenda de Beselga

by | 18 Mar, 2022 | Lendas, Mitos e Lendas, Províncias, Ribatejo

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No limite ocidental do concelho de Tomar, há uma pequena aldeia, de origem remota, com o nome de Beselga. Esteve no termo da Ordem Templária quando esta administrava toda a zona de influência do Castelo de Tomar.

Os achados arqueológicos levam a crer que neste mesmo sítio esteve antes um povoado romano chamado Bezulce. A Lenda de Beselga, carregando consigo aquele bocado de história de que o património lendário não se livra, atesta-o, pelos nomes das personagens.

A lenda de um monte de ouro e de uma ribeira de lágrimas

Num antigo povoado, havia uma princesa com um curioso nome – Bezulce. Parece de homem, dirão alguns, habituados que estão às terminações de nomes femininos actuais. Para trocar as voltas, outro dos principais personagens era um abastado nobre tratado por Elga, nome estranho para um rapaz.

Ora, Bezulce, a princesa, era objecto de cobiça por parte de todos – ricos e pobres, novos e velhos. Elga seria, pela sua posição, o mais provável candidato a desposar Bezulce. Aquilo com que Elga não contava era com um adversário ao seu nível, mas de baixa classe. Um tal de Flavius, que compensava a pobreza com a simpatia.

Chegados ao dia de festa da terra, os habituais torneios de combate aconteceram. Por coincidência, Flavius e Elga tiveram de se degladiar. Era uma luta que superava as ambições de cada um a ser campeão. Disputavam algo mais – disputavam a atenção da princesa Bezulce.

A esforçada contenda teve um surpreendente vencedor. Flavius, o pobre, levou a melhor. Bezulce pede para o congratular pessoalmente, perguntado-lhe se haveria alguma coisa em particular que desejasse dela. Flavius, com a humildade de sempre, respondeu que a atenção que a princesa lhe dedicara já era suficiente. E que o único prémio que realmente pretendia era ser seu, de alma e coração.

Bezulce quis saltar para os seus braços. Mas, sentindo-se observada, não responde. Nem sim, nem não. Pede apenas a Flavius que aguarde e que volte noutra altura.

Dias depois, Elga, humilhado e derrotado, pretende vingar-se. Mata Flavius e, de seguida, sem dizer o que fez, resolve pedir a princesa em casamento. Como presente, caso aceitasse, dar-lhe-ia um monte de ouro. A princesa recusa. Achava ela que estava destinada ao pobre Flavius, a quem pediu para regressar. Mas Flavius nunca mais aparecera.

Passaram-se meses. A princesa, magoada, resolve enfim anuir ao pedido do nobre Elga.

No dia do casamento, com uma princesa visivelmente triste para um dia que deveria ser de festa, Elga cumpriu a promessa. Bezulce, com a união, passou a chamar-se Bezelga. Terminada a cerimónia, com todo o povo a aplaudir, mostra-lhe um longo monte com ouro em vez de terra.

Mas, do nada, uma voz levanta-se e fala: esse foi o ouro que Elga roubou do povo. Perguntando quem tinha dito tal infâmia, Elga recebe em resposta que aquela é a voz de quem ele matou e atraiçoou, do Flavius que o vencera em torneio, que tinha partido em carne mas que se mantinha em espírito, e que ali estava para repor justiça.

Pressionado pelo espírito e por Bezelga, Elga confessa a sua malvadez. A princesa, irada com os actos do seu marido, e desgostosa com a morte do seu amado, levanta os braços e, usando dotes mágicos desconhecidos de todos, transforma o monte e Elga em pedra. Ajoelhou-se e as lágrimas caíram. Foram tantas que delas se fez uma ribeira – a ribeira de Bezelga.

A lenda e a realidade

Que a aldeia de Beselga existe, já confirmámos. Que há uma ribeira de Beselga, bem perto da povoação homónima, confirmamos agora. Resta saber qual seria o monte de ouro transformado em pedra que a lenda cita, bem como um eventual afloramento rochoso que, no imaginário popular, corresponde à estátua de Elga.

No caso do monte, parece-me provável que se refira ao Alto do Serafim, ou ao Crutinho, um outeiro que se eleva a uns modestos 156 metros de altitude, e por onde a ribeira de Beselga passa, ao longo da vertente sul. Quanto a um molde de pedra que a tradição oral atribui ao nobre Elga, não tenho qualquer conhecimento da sua existência.

Já a princesa Bezulce, depois renomeada Bezelga, tem muitas afinidades com as Mouras Encantadas do folclore português – seres encantados ligados à água que têm, por norma, temperamento vingativo. A princesa da Lenda de Beselga conta com estes dois atributos, a água pelas lágrimas choradas que viram nascer uma ribeira, a vingança pela sentença que atira ao seu marido ao saber a verdade.

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Tomar – o que fazer, onde comer, onde dormir

Em Tomar, nada do que parece, é. Produto da simbologia Templária, da imaginação do Infante D. Henrique, e da religiosidade da Ordem de Cristo, a cidade tornou-se palco de investigação dos mais diversos académicos - nacionais e internacionais. Não raras vezes, cada monumento conta com mais de três ou quatro interpretações diferentes. É, portanto, justo que algumas visitas se façam acompanhar de alguém que conheça bem as sinuosidades do monumentos visitados, como é o caso da santíssima trindade que se encontra na margem direita do rio Nabão: o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, e a Mata Nacional dos Sete Montes.

Mas além desses três óbvios destinos, só na cidade, há dezenas de outros pontos a picar: a sinagoga, o Café Paraíso, o jardim que guarda a Roda do Mouchão, o Convento de São Francisco, a Igreja de São João Baptista, os Paços do Concelho. Na outra margem do rio, onde o betão domina, a oferta turística é menor, mas ainda assim temos exemplares como a Igreja de Santa Maria do Olival, com uma belíssima fachada de um gótico obscuro.

Nas festividades, é impossível não mencionar a Festa dos Tabuleiros, realizada de quatro em quatro anos. Mas também a pascal Matança dos Judeus, organizada por rapazes e raparigas de Cem Soldos, deve ser vista, bem como a Feira de Santa Iria, no dia 20 de Outubro, ou o orgulhoso Carnaval da Linhaceira, considerado como o mais artesanal de Portugal. Para um público mais jovem, a música pop e rock nacional tem destaque no Festival Bons Sons, também em Cem Soldos.

Nas sempre importantes comidas, há duas iguarias que têm de ser provadas para quem aprecia doces: uma delas é fácil de adivinhar, as Fatias de Tomar, disponíveis em várias cafetarias e restaurantes da terra; a outra é a mais recente invenção nabantina, um pequeno bolo intitulado Beija-me Depressa, que podemos provar, exclusivamente, no café Estrelas de Tomar. Mais quatro restaurantes juntam-se à pool de sítios a ir para manjar à séria - o famoso Tabuleiro; a medieval Taverna Antiqua; o Chico Elias que nos meses invernais tem direito a lareira, mas que requer algum cuidado porque conta com um horário sui generis; e a Lúria, casa de comidas e bebidas regionais onde se destacam alguns pratos sazonais e as açordas.

Para dormir na cidade de Tomar, a escolha é muita. Reduzimos o leque a um par de hipóteses, ficando o leitor a saber que haverá muitas outras, eventualmente tão boas quanto estas: o Hotel República, que não esquece a herança templária nabantina e acolhe-a na sua decoração, e a Casa dos Ofícios, edifício setecentista que recupera as antigas actividades da labora tomarense. Fora do perímetro urbano aconselham-se várias alternativas nas margens do Zêzere, junto à Barragem de Castelo do Bode, como a Casa RioTempo, com vista e acesso para a albufeira, ou a Quinta do Troviscal, um cuidado espaço que goza de privilegiada geografia.

Mais espaços para dormir no concelho de Tomar podem ser vistos em baixo:

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