Enterro do Entrudo de Pedorido

by | 13 Abr, 2023 | Douro Litoral, Festas, Fevereiro, Março, Províncias, Tradições

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Em Castelo de Paiva, na altura do Carnaval, as vilas e aldeias promovem várias manifestações consonantes com a época. Acontecem um pouco por todo o concelho, em especial pela sua metade norte – a mais povoada -, e replicam aquilo que se vai mostrando no resto do país: desfiles, copofonias, bailaricos, concursos de máscaras. Não obstante, os olhos dos paivenses estão reservados para a versão carnavalesca apresentada pela povoação de Pedorido. O Entrudo de Pedorido, ou Enterro do Entrudo como também é chamado, resgata a antiga tradição da queima (ou da serrada) de um boneco, normalmente representando um velho, feito à escala natural.

O funeral do Inverno

Já expliquei em vários textos deste espaço, nomeadamente os da Serrada da Velha e os da Queima do Judas, que os entrudos onde um objecto é queimado têm um significado longínquo e profundo, radicado naquilo que entendemos como os ciclos do ano ou a roda das estações: a queima ou a serrada significam a morte do Inverno, os três meses de hibernação das populações rurais, e a correspondente entrada na Primavera. Quem quiser saber mais, poderá ler os artigos supracitados, não irei tornar este texto redundante ao repetir aquilo que já aí se disse.

Mas importa ter essa premissa da morte do Inverno presente para se explicar o que vemos no Entrudo de Pedorido na segunda-feira, véspera do dia de Carnaval. Porque o que aqui se assiste é a um funeral, com tudo aquilo a que um funeral tem direito: cortejo fúnebre, rosas, ladainhas, choradeira, e discurso.

Comece-se por falar do cortejo. Presentemente, a caminhada que se faz em conjunto com o morto – que segue viagem deitado numa urna, tendo um falo entre as pernas – começa no lugar da Póvoa, segue daí até ao Picão, para depois descer em direcção à Ponte Velha que cruza o Arda. É junto ao Choupal das Concas que se inicia a cerimónia final. Aí teremos as carpideiras a vender lágrimas e alguns falsos beatos a entoar orações de despedida. Ao centro, a tumba com o velho, impassível.

Contudo, ainda que morto, o velho deixou um discurso preparado para ser lido. Um testamento, como alguns lhe chamam. Trata-se de uma característica transversal a todos os entrudos nacionais: um responso que é versado por alguém da terra, sem peias nem ameias, a maldizer cada membro da audiência com ditos jocosos sobre situações que aconteceram no passado ano. Para os locais, esta é a altura por que mais esperam. Vão ouvir o seu nome, talvez sem achar grande graça. Mas depois ouvirão os nomes dos restantes, para risada compensatória.

É logo após a leitura do testamento, e imediatamente antes da festa que se prolongará noite adentro, que chega o momento da queima. No Entrudo de Pedorido, este momento é especial, porque não tem paralelo em quase nenhum lugar. O caixão funerário é posto em fogo e empurrado para o rio. E assim o vemos a morrer, como uma exéquia nórdica, um corpo inerte a caminho de Valhalla. Lá vai o Inverno moribundo, aos ombros do Douro. E começa a festa em terra.

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Castelo de Paiva – o que fazer, onde comer, onde dormir

Castelo de Paiva desfruta de duas vantagens duras de bater: a proximidade à cidade do Porto e o encosto ao rio Douro, via fluvial navegável daqui até à sua foz. A história da sua economia, da sua política, do seu turismo, não se consegue desligar destes dois atributos elementares. De cá, à beira do que hoje chamamos o Choupal das Concas, partiam rabões carregados de carvão até às centrais eléctricas próximas da Invicta, fazendo do Douro estrada. Hoje, a indústria exportada é outra, maioritariamente ligada ao calçado e à produção de peças para automóveis. A autoestrada não fica muito longe, permitindo escoamento rápido até à A1. O rio vê-se agora como palco de actividades de desenfado, como os renomados cruzeiros às regiões vinhateiras que por aqui passam a caminho da Régua.

Se repararmos, Castelo de Paiva está todo virado para os seus rios. O Douro, como já falámos, mas também o Paiva, o Arda, o Sardoura, que descem das serras a sul. É à beira-rio, ou perto disso, que descobrimos os melhores destinos paivenses: Sobrado e Castelo de Paiva lado a lado enquanto urbes de referência da concelhia; a aldeia de Midões, a cair no Douro, que dava uma bonita pintura nas mãos certas; a vizinha Gondarém, que só peca por não ter ribeira para aliviar o calor; a Praia do Castelo que está defronte da lendária Ilha dos Amores; o simbólico Entrudo de Pedorido, realizado na foz do Arda, depois de um cortejo que atravessa a Ponte Velha; e o Monte de São Domingos, de onde avistamos quase tudo o que acabámos de referir acima. Até o que é de má memória lá anda, como o Anjo de Portugal, homenagem escultórica à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. Uma boa forma de correr a maior parte destes poisos é fazendo o percurso Viver o Douro.

O flanco meridional do município, constituído por pequenas e médias elevações junto a Real e a Paraíso e onde os caudais fluviais são nulos ou insuficientes, está presentemente pouco mais que vazio, com algumas povoações dispersas mas sempre com escassos habitantes. No caso de Paraíso, ficou a recordação dos antigos e desgastantes trabalhos mineiros, estaleiros de extracção dos subsolos onde abundam o cobre, o ferro, o chumbo, o antimónio, o estanho, e o carvão. Mas ainda esconde uma das romarias mais pitorescas do concelho, a de Santa Eufémia, em Setembro no, no lugar de Touris. E a freguesia de Real vive numa indecisão do relevo - de um fértil vale crescem de mansinho os maiores outeiros paivenses, como é o caso do Monte de Santo Adrião.

Onde comer

Para comer, o Raiva, que é também restaurante de serviço de um hotel de luxo de que já falaremos, tem óptima cozinha de autor onde os pratos variam conforme os ciclos das colheitas. No extremo oposto, indo à cozinha popular sem adornos mas feita com muito coração, temos na vila de Castelo de Paiva a Adega do Sporting, que confecciona travessas de acepipes típicos como poucos - os pratos mudam de dia para dia, mas há snacks recorrentes, como os bons bolinhos de bacalhau. Bom cabrito, mas normalmente por encomenda, é na Casa de São Pedro - e por lá temos de sobremesa o célebre Pão de Ló de Folgoso que, com a Sopa Seca, emproam as sobremesas tradicionais municipais.

Onde dormir

Para dormir, se o plafond for alto, o Octant Hotels Douro é maravilhoso, dissimulado em socalcos sobre o rio que lhe dá nome, carregado de serviços de luxo, tendo como complemento o já mencionado restaurante Raiva. Também à beira-rio, mas desta vez no Paiva, há três casas que fornecem dezasseis quartos - dão pelo nome de Rio Moment's e estão bem perto de um par de praias fluviais. A preços mais modestos, temos a simples mas cómoda Casa da Bichaca, ou ainda o Cimo da Vinha - Nature Spot, embuçado numa serra de densa vegetação onde a calmaria do sul do concelho se afirma.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.04758​; lon=-8.376

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