Gondarém (Castelo de Paiva)

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Foi a propósito da aldeia de Midões – vizinha da de Gondarém – que falámos sobre a maneira como ambas as povoações são vendidas em conjunto. Neste espaço, porém, preferimos separá-las e entregar um texto exclusivo para cada uma delas, embora seja de certa forma incompleto escrever sobre uma sem mencionar a outra. Até porque a primeira referência a assinalar, no que toca a património, é a capela que Gondarém e Midões fizeram a meias, dedicada a Santo Ildefonso, e cuja localização está, sensivelmente, entre os dois povoados.
Gondarém tem alguma coisa a entregar que Midões não tem. O contrário também é verdade. Mas a grande diferença entre uma e outra, o marcador genético que as particulariza, é a relação que cada uma tem sobre o seu grande e constante visitante: o rio Douro.
Gondarém, o Douro visto de cima
Midões olha o Douro como um igual. Pisa com ele o mesmo chão. Gondarém, por sua vez, mira-o de cima. A meio de uma íngreme encosta, a aldeia funciona como um comprido miradouro – se estivermos no vértice oriental da povoação, vemos boa parte das curvas fluviais durienses vindas da Régua, com a bravia Serra da Boneca ao fundo; deslocando-nos até à ponta oeste, olhamos para um rio apático que parece saber que está a poucos quilómetros do seu fim.
Assim se faz Gondarém, a passeio a pé (sim, o carro pode entrar, mas para quê?), de nascente para poente, num ir e vir entre as casas de xisto que enquadram a rua de Santo Ildefonso, a única ruela do lugarejo, porque tudo o resto são veios perpendiculares ou paralelos ao principal. Apesar de tudo, tem gente. Vemos residências a ser requalificadas, vemos mulheres a cuidar das hortas nos seus quintais, vemos fotógrafos à procura da panorâmica perfeita, vemos até algum turismo estrangeiro, provavelmente fruto do Alojamento Local que se encontra um pouco acima.
Uma boa forma de tomar o gosto a esta terra é percorrê-la como parte do percurso Viver o Douro (que também passa por Midões), uma excelente rota recentemente criada que cursa a orla ribeirinha do concelho de Castelo de Paiva, quase sempre com o Douro a beijar-nos os pés, e com pequenas incursões por terrenos mais interiores – como é o caso do desvio para Gondarém, o único ponto de todo o trajecto com fonte de água potável e controlada.

Vista para o Douro, Gondarém

Casa de xisto em Gondarém

Gondarém, com a Serra da Boneca em segundo plano
Castelo de Paiva – o que fazer, onde comer, onde dormir
Castelo de Paiva desfruta de duas vantagens duras de bater: a proximidade à cidade do Porto e o encosto ao rio Douro, via fluvial navegável daqui até à sua foz. A história da sua economia, da sua política, do seu turismo, não se consegue desligar destes dois atributos elementares. De cá, à beira do que hoje chamamos o Choupal das Concas, partiam rabões carregados de carvão até às centrais eléctricas próximas da Invicta, fazendo do Douro estrada. Hoje, a indústria exportada é outra, maioritariamente ligada ao calçado e à produção de peças para automóveis. A autoestrada não fica muito longe, permitindo escoamento rápido até à A1. O rio vê-se agora como palco de actividades de desenfado, como os renomados cruzeiros às regiões vinhateiras que por aqui passam a caminho da Régua.
Se repararmos, Castelo de Paiva está todo virado para os seus rios. O Douro, como já falámos, mas também o Paiva, o Arda, o Sardoura, que descem das serras a sul. É à beira-rio, ou perto disso, que descobrimos os melhores destinos paivenses: Sobrado e Castelo de Paiva lado a lado enquanto urbes de referência da concelhia; a aldeia de Midões, a cair no Douro, que dava uma bonita pintura nas mãos certas; a vizinha Gondarém, que só peca por não ter ribeira para aliviar o calor; a Praia do Castelo que está defronte da lendária Ilha dos Amores; o simbólico Entrudo de Pedorido, realizado na foz do Arda, depois de um cortejo que atravessa a Ponte Velha; e o Monte de São Domingos, de onde avistamos quase tudo o que acabámos de referir acima. Até o que é de má memória lá anda, como o Anjo de Portugal, homenagem escultórica à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. Uma boa forma de correr a maior parte destes poisos é fazendo o percurso Viver o Douro.
O flanco meridional do município, constituído por pequenas e médias elevações junto a Real e a Paraíso e onde os caudais fluviais são nulos ou insuficientes, está presentemente pouco mais que vazio, com algumas povoações dispersas mas sempre com escassos habitantes. No caso de Paraíso, ficou a recordação dos antigos e desgastantes trabalhos mineiros, estaleiros de extracção dos subsolos onde abundam o cobre, o ferro, o chumbo, o antimónio, o estanho, e o carvão. Mas ainda esconde uma das romarias mais pitorescas do concelho, a de Santa Eufémia, em Setembro no, no lugar de Touris. E a freguesia de Real vive numa indecisão do relevo - de um fértil vale crescem de mansinho os maiores outeiros paivenses, como é o caso do Monte de Santo Adrião.
Onde comer
Para comer, o Raiva, que é também restaurante de serviço de um hotel de luxo de que já falaremos, tem óptima cozinha de autor onde os pratos variam conforme os ciclos das colheitas. No extremo oposto, indo à cozinha popular sem adornos mas feita com muito coração, temos na vila de Castelo de Paiva a Adega do Sporting, que confecciona travessas de acepipes típicos como poucos - os pratos mudam de dia para dia, mas há snacks recorrentes, como os bons bolinhos de bacalhau. Bom cabrito, mas normalmente por encomenda, é na Casa de São Pedro - e por lá temos de sobremesa o célebre Pão de Ló de Folgoso que, com a Sopa Seca, emproam as sobremesas tradicionais municipais.
Onde dormir
Para dormir, se o plafond for alto, o Octant Hotels Douro é maravilhoso, dissimulado em socalcos sobre o rio que lhe dá nome, carregado de serviços de luxo, tendo como complemento o já mencionado restaurante Raiva. Também à beira-rio, mas desta vez no Paiva, há três casas que fornecem dezasseis quartos - dão pelo nome de Rio Moment's e estão bem perto de um par de praias fluviais. A preços mais modestos, temos a simples mas cómoda Casa da Bichaca, ou ainda o Cimo da Vinha - Nature Spot, embuçado numa serra de densa vegetação onde a calmaria do sul do concelho se afirma.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.04672 ; lon=-8.33165