Romaria de Santa Eufémia (Castelo de Paiva)

by | 12 Abr, 2023 | Douro Litoral, Festas, Províncias, Setembro, Tradições

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A Romaria de Santa Eufémia ocorre de 14 a 16 de Setembro, no lugar de Touriz, na antiga freguesia do Paraíso, concelho de Castelo de Paiva. Por vezes, se calha colar ao fim de semana, o município estende a festa por mais dias numa de ajudar os feirantes e o comércio local.

Acima de tudo, trata-se de uma celebração das colheitas, em muito ligada à vindima, como é costume acontecer com Santa Eufémia, mulher cultuada numa faixa de território muito específica do país, concretamente entre o rio Mondego e o rio Douro, o que não afasta a possibilidade de ter sido colocada como substituta cristã de uma antiga Deidade pagã particularmente devotada nesta região. Com efeito, nesta Romaria de Santa Eufémia, era costume haver lavradores a pagarem promessas com flores e alguns tipos de cereais, como o centeio – um gesto que poderá apontar, novamente, para eventual sinestesia entre a actual celebração e uma outra, mais antiga, de raiz naturalista.

Afastada está a hipótese de se tratar de uma ancestral devoção às alturas, como são os casos das romarias nos cumes dos cerros, e como acontece aqui bem perto na Romaria de São Domingos, no monte homónimo. Aqui, pelo contrário, estamos num vale cercado de pequenas serranias como a do Monte Alto, a noroeste, e a do Paraíso, a sudoeste.

De qualquer forma, o que hoje temos é uma comemoração centenária, a maior do concelho, à qual acorrem muitos peregrinos, a pé, vindos de outras freguesias paivenses mas também de municípios vizinhos, mormente de Arouca.

Uma romaria como antes

Uma das peculiaridades mais invejadas na Romaria de Santa Eufémia é a forma como se manteve fiel ao seu passado. Como já foi dito, presentemente ainda há peregrinos a mostrar a sua fé vindo até ela a passo, sem auxílio de motores, acordando bem cedo para chegarem a tempo da missa e da procissão – que acontece, normalmente, nas manhãs do dia 15 e do dia 16.

Mas não é só na faceta religiosa que o costume cimentou. Na componente profana, o mesmo acontece. A feira de gado, reservada para o primeiro dia oficial, isto é, o dia 14, continua a reunir pastores e criadores de vacas arouquesas e galegas – disputam prémio para melhor animal em concurso, e quem o ganha faz disso selo para recrutar novos talhos como clientes. Da mesma forma, as tendinhas comerciais, montadas no recinto que enquadra a Capela de Santa Eufémia (que, diga-se, é bastante volumosa para ser considerada apenas uma capela), são geridas pelos mesmos feirantes há décadas.

Na gastronomia também se testemunha uma longa continuidade. Quem manda ainda é o Bife à Romaria, um costume de servir posta da raça autóctone que se enraizou nas regiões do Minho, do Douro Litoral, e duma certa parte da Beira Litoral. No presente caso, apresenta-se o Bife à Santa Eufémia, baseado numa grossa mas macia fatia de carne arouquesa, e que leva a cebolada a cavalo, como é costume. Mas há mais. Mantendo a conversa nas carnes, há produtos regionais como o presunto, os enchidos de fumeiro, e dobrada e vitela e borrego e cabrito servidos no prato. Na lambarice, continuam os tradicionais doces de Serradelo. Na fruta, a uva acabada de apanhar, mas também o melão, a meloa, a melancia, a maçã e a pêra. E o vinho, como não falar dele, chega à mesa fresco e bem verdinho, afinal ainda é Verão.

Fachada e alpendre da Capela de Santa Eufémia, concelho de Castelo de Paiva

Fachada e alpendre da Capela de Santa Eufémia

Capela de Santa Eufémia, de planta longitudinal

A grandeza de uma capela

Castelo de Paiva – o que fazer, onde comer, onde dormir

Castelo de Paiva desfruta de duas vantagens duras de bater: a proximidade à cidade do Porto e o encosto ao rio Douro, via fluvial navegável daqui até à sua foz. A história da sua economia, da sua política, do seu turismo, não se consegue desligar destes dois atributos elementares. De cá, à beira do que hoje chamamos o Choupal das Concas, partiam rabões carregados de carvão até às centrais eléctricas próximas da Invicta, fazendo do Douro estrada. Hoje, a indústria exportada é outra, maioritariamente ligada ao calçado e à produção de peças para automóveis. A autoestrada não fica muito longe, permitindo escoamento rápido até à A1. O rio vê-se agora como palco de actividades de desenfado, como os renomados cruzeiros às regiões vinhateiras que por aqui passam a caminho da Régua.

Se repararmos, Castelo de Paiva está todo virado para os seus rios. O Douro, como já falámos, mas também o Paiva, o Arda, o Sardoura, que descem das serras a sul. É à beira-rio, ou perto disso, que descobrimos os melhores destinos paivenses: Sobrado e Castelo de Paiva lado a lado enquanto urbes de referência da concelhia; a aldeia de Midões, a cair no Douro, que dava uma bonita pintura nas mãos certas; a vizinha Gondarém, que só peca por não ter ribeira para aliviar o calor; a Praia do Castelo que está defronte da lendária Ilha dos Amores; o simbólico Entrudo de Pedorido, realizado na foz do Arda, depois de um cortejo que atravessa a Ponte Velha; e o Monte de São Domingos, de onde avistamos quase tudo o que acabámos de referir acima. Até o que é de má memória lá anda, como o Anjo de Portugal, homenagem escultórica à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. Uma boa forma de correr a maior parte destes poisos é fazendo o percurso Viver o Douro.

O flanco meridional do município, constituído por pequenas e médias elevações junto a Real e a Paraíso e onde os caudais fluviais são nulos ou insuficientes, está presentemente pouco mais que vazio, com algumas povoações dispersas mas sempre com escassos habitantes. No caso de Paraíso, ficou a recordação dos antigos e desgastantes trabalhos mineiros, estaleiros de extracção dos subsolos onde abundam o cobre, o ferro, o chumbo, o antimónio, o estanho, e o carvão. Mas ainda esconde uma das romarias mais pitorescas do concelho, a de Santa Eufémia, em Setembro no, no lugar de Touris. E a freguesia de Real vive numa indecisão do relevo - de um fértil vale crescem de mansinho os maiores outeiros paivenses, como é o caso do Monte de Santo Adrião.

Onde comer

Para comer, o Raiva, que é também restaurante de serviço de um hotel de luxo de que já falaremos, tem óptima cozinha de autor onde os pratos variam conforme os ciclos das colheitas. No extremo oposto, indo à cozinha popular sem adornos mas feita com muito coração, temos na vila de Castelo de Paiva a Adega do Sporting, que confecciona travessas de acepipes típicos como poucos - os pratos mudam de dia para dia, mas há snacks recorrentes, como os bons bolinhos de bacalhau. Bom cabrito, mas normalmente por encomenda, é na Casa de São Pedro - e por lá temos de sobremesa o célebre Pão de Ló de Folgoso que, com a Sopa Seca, emproam as sobremesas tradicionais municipais.

Onde dormir

Para dormir, se o plafond for alto, o Octant Hotels Douro é maravilhoso, dissimulado em socalcos sobre o rio que lhe dá nome, carregado de serviços de luxo, tendo como complemento o já mencionado restaurante Raiva. Também à beira-rio, mas desta vez no Paiva, há três casas que fornecem dezasseis quartos - dão pelo nome de Rio Moment's e estão bem perto de um par de praias fluviais. A preços mais modestos, temos a simples mas cómoda Casa da Bichaca, ou ainda o Cimo da Vinha - Nature Spot, embuçado numa serra de densa vegetação onde a calmaria do sul do concelho se afirma.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.01605 ; lon=-8.29909