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A Queima do Judas é um ritual que se passa pela altura da Páscoa, isto é, algures entre Março e Abril – mais provavelmente no segundo do que no primeiro – e que acontece com maior incisão nas Beiras e no Norte do país, embora também a possamos encontrar no sul.

Para além dos concertos, teatros, e outros eventos ligados a este dia, ele é conhecido pela prática que lhe dá o nome: a queima de um boneco, normalmente feito de palha ou papel e vestido com trapos, a que puseram, por conveniência, o nome de Judas.

A religiosidade na Queima do Judas

Alguns crêem tratar-se de uma celebração religiosa cristã, o que, se formos à sua origem, é no mínimo questionável, e no máximo completamente errado.

A Páscoa, por si só, e como aqui já foi falado, vai buscar muito, talvez a maioria das suas tradições (a começar pelo ovo e pelo coelho), ao naturalismo – a ressurreição de Cristo é no fundo um paralelismo cristão de uma outra ressurreição, a da natureza, que renasce por esta altura no hemisfério norte. Ora, a Queima do Judas, da mesma forma, é uma festa pagã adoptada, como muitas outras, pela ordem cristã.

Judas, tanto quanto se sabe, nunca foi queimado pela sua traição. Mesmo que quiséssemos acreditar que esta era uma forma pouco católica de reproduzir um episódio evangélico, tal não faz sentido porque esse episódio não aconteceu. Tratar-se-à, em vez disso, de um festejo de fim da época morta, representado várias vezes como boneco em forma de homem. O queimar do Judas é, assim, uma actualização daquilo que realmente é celebrado: o queimar do Inverno, que, ficando em cinza, morre, dando origem à Primavera.

De resto, bastará olhar para Queimas feitas noutras partes da Europa para perceber que Judas não é um imperativo na cerimónia. Com efeito, por este período do ano, noutros países, há quem faça a Queima do Lutero ou a Queima da Bruxa. Parece verosímil, assim, que estas nomenclaturas tenham sido acertadas pela Igreja para cobrir festividades pagãs conforme lhes dessem jeito. Judas deveria ser queimado enquanto traidor de Cristo. Lutero também mas por ser um fervoroso contestatário do fundamentalismo Católico, sendo considerado uma das figuras principais da Reforma Protestante. E a Bruxa é uma suspeita do costume nestes contextos, na maior parte dos casos ligada à heresia que os seus actos pagãos representavam. A Bruxa, o Lutero, e o Judas, são formas diferentes de escamotear um ritual cíclico pagão, sempre olhado de soslaio pelas capelas e igrejas locais.

Mesmo por cá, existe a variante da Serração da Velha, costume muito semelhante e com o mesmo activo simbólico que a Queima do Judas.

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