Castelo de Belmonte

by | 27 Dez, 2021 | Beira Baixa, Fortificações, Lugares, Monumentos, Províncias

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Visitado por portugueses, por espanhóis, e, por razões que falaremos adiante, por brasileiros, o Castelo de Belmonte afirma-se como o mais imponente monumento da vila.

História

Tem havido constantes dúvidas quanto à data da construção do castelo. Alguns dizem ter sido no século XII a pedido de D. Sancho I. Outros que terá sido Afonso III, já a meio do século XIII, que terá dado a ordem para a sua edificação. E ainda há quem atribua a fundação a D. Dinis, já que terá sido no seu reinado que o castelo se completou.

Qualquer teoria pode estar certa. Todas podem estar certas, na verdade.

De D. Sancho I, rei conhecido pela vontade de povoar espaços ameaçados pela guerra contra os sarracenos e mesmo contra os vizinhos cristãos, saiu a ideia de por cá se fazer uma fortificação, alinhavado com o Bispo de Coimbra, então responsável pela gestão de Belmonte, integrado no senhorio de Centum Cellas – coisa que já teria sido pensada e executada mais de mil anos antes, em tempos pré-romanos, provavelmente por lusitanos. Um novo castelo foi então levantado, talvez ainda sem torre, e não sabemos se já com o perfil ovalado que tem hoje, com o objectivo de proteger a imprecisa linha fronteiriça portuguesa.

Certos investigadores atribuem ao reinado de D. Afonso III a construção da torre de menagem. Como falado no parágrafo acima, não é de desconsiderar que ela já existisse antes.

Da mesma forma, alguns historiadores defendem que terá sido no reinado de D. Dinis, já com o castelo pertença do Bispado da Guarda, que a planta ovalada que hoje reconhecemos, bem como a torre de menagem em estilo gótico, terão sido concluídas – por oposição ao estilo românico que imperava no reinado de D. Sancho I.

Com a assinatura do Tratado de Alcanizes, no final do século XIII, e a consequente deslocação da fronteira portuguesa para leste, abarcando as povoações de Castelo Rodrigo, Almeida, e Sabugal, a missão defensiva do Castelo de Belmonte foi desvanecendo. Esse terá sido o primeiro factor que deu azo à transformação do forte em casa senhorial. O segundo factor chegou cerca de cem anos depois, quando D. João I, incomodado com a influência que o infante D. Dinis (filho de D. Pedro I e de Inês de Castro, conhecido pela sua lealdade à coroa castelhana) tinha na região, decidiu entregar o castelo a um novo alcaide da sua confiança, Luís Álvares Cabral. Uma nova história começou a ser contada a partir daqui.

A família Cabral passará, então, a ter no Castelo de Belmonte a sua principal residência, que de Alcaide passou a Alcaide-Mor da vila belmontense na altura de Fernão Cabral, pai de Pedro Álvares Cabral, que aqui nasceu e viveu até aos 12 anos de idade. O castelo ia gradualmente sofrendo transformações estéticas. Com efeito, com o acumular de anos em posse dos Cabrais, já não era bem um castelo. A construção do Solar dos Cabrais no canto sudoeste da muralha, junto à torre e com direito a dois pisos, foi tornando o todo numa casa senhorial acastelada.

Assim foi durante duzentos anos, até que a Guerra da Restauração pôs o Castelo de Belmonte novamente em sentido, puxando-o para a sua função militar inicial. No final do século XVII, contudo, um incêndio levou a família Cabral, que ainda o habitava, a encontrar nova residência – mudou-se para a Casa dos Condes (actualmente dividido entre o Museu dos Descobrimentos, a Biblioteca e o Arquivo Municipal de Belmonte). A fortaleza tornava-se uma casa de ninguém. Já não era forte, já não era casa. No final do século XVIII, vá lá que lhe deram utilidade: a construção de um novo edifício, o que mais bem se conversa na actualidade, serviu de escritório a algum do pessoal de serviço dos Cabrais.

Deixado à sorte do vento e da chuva, o forte, o solar, e o edifício setecentista sofreram a degradação óbvia de um monumento que por séculos não teve qualquer requalificação. Uma parte do forte transformou-se em celeiro e o seu edifício mais recente, o tal que servia de apoio à família Cabral, chegou a fazer de prisão. Curiosamente, foi durante esta altura de quase total abandono que se elevou a Monumento Nacional, em 1927.

Foi preciso esperar pelo meio do século XX para assistirmos aos primeiros trabalhos de recuperação da fortaleza. No fim do mesmo século, instalou-se um anfiteatro logo a seguir à entrada principal, virado a sul, com o fim de receber espectáculos culturais. A icónica torre não foi esquecida, e serve hoje como espaço de exposição de peças arqueológicas.

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Janela manuelina no Castelo de Belmonte

Detalhe da granítica janela manuelina com as cabras do brasão dos Cabrais em cima

Características

Como descrito na história que o monumento atravessou, são vários os estilos que encontramos na fortaleza, porque as obras desenvolvidas ocorreram em momentos bastante distantes entre si. De facto, quer o românico, quer o gótico, quer o manuelino, e quer até a arquitectura setecentista, passaram por cá, actuando de várias formas sobre a pedra granítica que maioritariamente o compõe.

A torre, colada à ponta sudoeste da muralha, parece ter perfil românico, de planta quadrangular, e com três pisos. Ali está como bastião de vigia à entrada principal do castelo. Já a planta do conjunto amuralhado é ovalada, o que dá a entender que terá sido construída (ou reconstruída) já no início do período gótico – por oposição aos castelos anteriores, de estilo românico, habitualmente rectilíneos, de planta quadrada.

Da casa senhorial, além de ruínas, sobra a parede oeste, que coincide com o pano de muralha do castelo – um aproveitamento estrutural comum que conseguimos encontrar em vários pontos do país, como por exemplo no Castelo de Serpa. É lá que se vêem os elementos mais distintivos do monumento, como as largas janelas que apontam à Serra da Estrela, uma em especial destaque pela nota artística da moldura manuelina e pelo brasão com as cabras que alude à família Cabral.

O edifício que encontramos junto à entrada é do século XVIII e a sua brancura encaixa que nem ginjas numa fachada de cinzento granítico beirão. Apercebemo-nos de imediato que se trata de uma peça à parte, fora do baralho, mas que em nada macula o todo.

No interior, mal entramos, damos com o anfiteatro há pouco tempo construído. Está como peixe na água – subtil e integrado na estrutura. Feito para acolher todo o tipo de espectáculos, é a melhor maneira de dar importância ao principal monumento da vila – meter gente a lá ir, ao invés de ser apenas um pesado e distante objecto sobranceiro à povoação. Para lá das bancadas, o terreno intramuros encontra-se praticamente vazio, excepção feita à cisterna que está junto à muralha do lado nascente.

O Castelo de Belmonte e o Brasil

Se excluirmos os visitantes portugueses e os espanhóis (que estão mesmo aqui ao lado), o Castelo de Belmonte tem no público brasileiro uma bela fatia da sua clientela. Porquê?

Uma vista minimamente atenta dá a resposta: além das bandeiras da União Europeia, da República Portuguesa, do Município de Belmonte, há uma quarta que reconhecemos lá na torre – a bandeira do Brasil. A razão já se falou atrás. Tudo indica que aqui terá nascido Pedro Álvares Cabral, oficialmente o descobridor do Brasil, embora os detalhes da história nos digam hoje que não terá sido bem assim (atribui-se a primeira descoberta de terra brasileira a Vicente Yáñez Pinzón, espanhol que, por acaso, só não foi português por pouco mais de 50 quilómetros).

A vila, de resto, cobre-se de orgulho no reconhecimento deste Senhor da terra, filho e neto dos Cabrais de Belmonte, como bem mostra a estátua ao navegador, acompanhada pelas mesmas quatro bandeiras que se verificam na torre.

Mas além da bandeira brasileira, lá em cima, há, cá em baixo, no pedregoso sopé do castelo, um outro objecto que remete para o Brasil. Um pouco abaixo da entrada principal, um cruzeiro construído com a vermelhidão do pau-brasil encara a vila e, mais ao longe, o picoto do Monte da Esperança. Foi aqui colocada enquanto réplica da cruz com que se celebrou a primeira missa cristã na então colónia portuguesa, e oferecida por Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre 1956 e 1961.

Terra portuguesa. Terra judaica. Terra brasileira. Belmonte é, da vilas portuguesas, talvez a mais internacional de todas.

Belmonte – o que fazer, onde comer, onde dormir

Situado na raia mágica beirã, Belmonte é o concelho mais a norte do distrito de Castelo Branco. Famoso pela sua cultura criptojudaica, resultado da perseguição de que os seus judeus sefarditas foram alvo, a vila tem hoje uma das mais activas comunidades judias do país. As suas festas, como a Festa das Luzes ou a Festa de Nossa Senhora da Esperança, em Dezembro e Abril, respectivamente, e os seus monumentos e museus, como a menorá, a sinagoga ou o Museu Judaico de Belmonte, reflectem essa ligação a um passado real mas escondido.

Ainda na vila, não podemos perder o castelo e a Igreja de Santiago, a judiaria circundante, bem como os restantes espaços museológicos (que são muitos e bons, tendo em conta a dimensão de Belmonte): o Museu dos Descobrimentos, o Museu do Azeite, e o Ecomuseu do Zêzere.

Fora da sede de concelho e de visita imperativa é o enigmático Centum Cellas, monumento que não encontra paralelo no país, nem na península, e que mais facilmente associamos a civilizações sul americanas, de origem pré-colombiana, transportando-nos para os mitos da Atlântida.

Para dormir, sugere-se a Pousada Convento de Belmonte, cuja piscina nos dá uma das melhores fotografias sobre a Estrela, ou a Casa Marias, bem situada e muito aconchegante. Na restauração, recomendam-se vivamente a Casa do Castelo (o borrego e o cabrito são demasiado bons para os dispensarmos) e, para quem está disposto a gastar um pouco mais, e o Convento de Belmonte Gourmet (cozinha de chef, na companhia de lareira e de uma bela vista de montanha).

Para mais dormidas no concelho de Belmonte, ver caixa de promoções em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.35921; lon=-7.3482

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